Da abóbora ao Legacy 650

Jato executivo de médio porte da Embraer é como um apartamento de luxo com 50 m² a 12 mil metros
O Legacy 650 é o segundo maior jato executivo da Embraer, com capacidade para até 15 ocupantes (Thiago Perotti)
O Legacy 650 é o segundo maior jato executivo da Embraer: leva até 15 ocupantes (Thiago Perotti)

No início desta semana posso dizer que tive um dia de “Cinderela”, mas sem a parte dos sapatinhos de cristal. Viajei de van com outros jornalistas até São José dos Campos (SP) e antes do almoço retornamos para São Paulo na “carruagem mágica” da Embraer, o jato executivo Legacy 650.

Era o dia da Embraer voar com seus aviões de demonstração da fábrica para a Labace, no Aeroporto de Congonhas, a maior feira de aviação executiva da América Latina. Aproveitando o avião vazio, a empresa convidou a imprensa para uma carona VIP, onde pudemos conhecer a incrível praticidade e conforto que um jato executivo pode oferecer, mesmo em voos curtos, como foi nosso caso.

A decolagem foi decidida com um “ok, pode vir”, com o piloto chamando pela porta, já com os motores ligados e autorizado pela torre. “Em muitos casos, voos de aviões executivos são decididos poucas horas antes da decolagem. Isso exige um alto nível de disponibilidade da aeronave”, contou Ricardo Santos, da área de comunicação da Embraer Aviação Executiva.

Ao entrar no Legacy 650, apesar de poucos lugares, é até difícil escolher onde sentar. O primeiro espaço tem quatro assentos, totalmente reclináveis e com sistemas de entretenimento e tomadas USB. Em seguida vem a “sala de reuniões”, com mais quatro assentos separados por uma mesa, e por último, uma sala que pode ser fechada, com mais duas poltronas e um sofá para três pessoas que se transforma em cama, além do toalete.

A decoração da aeronave de nosso voo era das mais impecáveis: carpete creme, assentos revestidos em couro bege e mobília de madeira. O piso da cabine é “fofo”, dava até pena de pisar. Escolhi um o assento na sala de reunião, na janela, de frente para outro jornalista, na posição ao contrário da que estamos acostumados a viajar em aviões comerciais.

Aviões executivos desse porte costumam voar com comissários de bordo (Thiago Perotti)
Aviões executivos desse porte costumam voar com comissários de bordo (Thiago Perotti)

Antes da decolagem, com o cinto de segurança afivelado, a comissária de bordo da Embraer me avisou que faltava uma parte: as poltronas do Legacy 650 têm cintos de três pontos, como em automóveis, completado por uma alça na parte superior do assento. Tudo pronto, hora de voar!

No ar

Depois de terminar o taxiamento pelo Aeroporto de São José dos Campos, o “quintal” da Embraer, o Legacy disparou pela pista e subiu como um foguete. “Como é um voo curto, o piloto acelerou um pouco a subida para alcançar a velocidade de cruzeiro mais rápido”, explicou Santos. E que bela subida: o jato acelerou com força total durante cerca de 5 minutos, e em alta velocidade, até estabilizar e iniciar um voo suave.

A rota da fábrica da Embraer até Congonhas passa pela borda do litoral de São Paulo, oferecendo uma bela vista aérea de Ilha Bela e o porto de Santos, onde começa a curva de aproximação para capital paulista. A bordo, o ruído dos motores é quase imperceptível, abafado pelo estofamento acústico da cabine, e o ar ambiente era mais “respirável”. A aeronave conta com sistemas de geração de oxigênio mais eficientes, comparados aos utilizados em jatos comerciais, concebidos para sustentar centenas de passageiros.

Durante o voo, a aeronave voou sem nenhum balanço. Totalmente estável, parecia uma casa com alicerces profundos, ou então um apartamento de 50 m², medida aproximada da cabine do Legacy 650. Outra parte curiosa desse jato é o bagageiro que pode ser acessado durante o voo, por uma porta no toalete. O “porta-malas” do Legacy 650, com 8 metros cúbicos de volume, ainda é pressurizado. “É a cabine da sogra”, pensei.

Conforto total na "sala de reuniões" do Legacy 650; outro detalhe interessante são as grandes janelas (Thiago Perotti)
Conforto total na “sala de reuniões”; outro detalhe interessante são as grandes janelas (Thiago Perotti)

O interior de um jato executivo, em especial um modelo do porte do Legacy 650, é desenhado para ser o mais agradável possível para o passageiro. “São poucos os clientes que compram esse tipo de aeronave para uso privado”, explicou o assessor da Embraer. Aeronaves desse segmento, além do porte avantajado também podem realizar longos voos, pois carregam grandes quantidades de combustível.

O Legacy 650 tem autonomia para 7.223 km, ou cerca de oito horas de voo. É o suficiente para ir de São Paulo até Miami, nos Estados Unidos, sem escalas e com sobras de combustível. Para chegar a Europa ou Ásia, é necessário pelo menos uma escala de reabastecimento. Em voo de cruzeiro, o aparelho mantém a velocidade de 810 km/h, mas pode acelerar até 987 km/h.

O nosso voo, porém, durou apenas 25 minutos. E isso por que “demorou”. O trecho entre São José dos Campos e São Paulo pode ser realizado em cerca de 15 minutos, mas é preciso entrar na fila de aproximação de pouso em Congonhas, a mais movimentada do Brasil. O toque do trem de pouso na pista foi extremamente suave e a aeronave seguiu direto para o estande da Embraer na Labace, onde desembarcamos da “carruagem” para voltar a nossas “abóboras”.

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Era comercial, virou executivo

O Legacy 650 é a versão de longo alcance do modelo “Legacy 600”, o primeiro jato executivo da Embraer, lançado em 2002. Derivado da família de jatos comerciais ERJ (Embraer Regional Jets), a fabricante partiu para a disputa no segmento executivo e em 10 anos se tornou uma das maiores do mundo, com uma variada família de aeronaves para diferentes perfis de clientes e necessidades, como os Phenom 100 e 300, e o jato executivo “ultra large” Lineage 1000E, baseado no modelo comercial E190.

Os primeiros jatos Legacy foram desenvolvidos a partir do jato comercial ERJ 145 (Embraer)
Os primeiros jatos Legacy foram desenvolvidos a partir do jato comercial ERJ 145 (Embraer)

Uma das principais características dos jatos da linha Legacy (modelos 450, 500, 600 e 650) é o alto grau de disponibilidade das aeronaves. Aproveitando seu conhecimento na área comercial, que exige aviões “parrudos”, de fácil manutenção e alto nível de confiabilidade, a Embraer criou aeronaves executivas que podem voar praticamente a qualquer momento quando acionadas.

O ator Jackie Chan possui dois Legacy, um 500 e um 650 (Divulgação)
O ator Jackie Chan possui dois Legacy, um 500 e um 650 (Divulgação)

Além de grandes corporações, o Legacy 650 também é uma aeronave apreciada por empresas de táxi-aéreo de alto padrão, como a LEA, grupo ingles que transporta a família real britânica, e, em menor número, clientes privados. O mais famoso é o ator chinês Jackie Chan, que também possui um Legacy 500. O preço inicial do jato brasileiro é de US$ 31,6 milhões (cerca de R$ 102 milhões).

Viajar no Legacy 650 pode levar nossa imaginação a lugares muito além dos 12.500 metros, altitude de cruzeiro do jato. No uso corporativo, é uma ferramenta de trabalho importante, com acesso a internet e telefone via satélite, e um meio confortável para descansar durante longas viagens. No uso privado, as possibilidades são quase infinitas. O que você faria?

Veja mais: Quem compra um jato executivo de US$ 50 milhões?

5 comments
  1. Caro Thiago Vinholes, sou seu leitor contumaz e gostei muito da matéria, pena que eu não estava junto no avião. Costumo viajar uma vez por ano para a Alemanha, partindo de Guarulhos/SP., em classe econômica ( afinal de contas não sou herdeiro do dono da Ambev!!kkkk) e fiquei de boca aberta vendo o conforto do Legacy 650.

  2. Bela Reportagem. Para quem não conhece este segmento (meu caso), é bem informativa. Bom para quem tem necessidade e recurso para usufruir deste conforto. Parabéns à EMBRAER.

  3. A maior autonomia deve-se ao aproveitamento do espaço no compartimento de bagagens. que sobra por serem bem menos passageiros. É o mesmo caso dos Lineage da Embraer, derivados dos E190/195 e que tem um alcance de cerca de cerca de 9000 km. Mas o governo brasileiro prefere o Airbus, infelizmente. Thiago, que tal reproduzir esta mesma matéria com um Lineage ? Fui engenheiro na Embraer, com muito orgulho, por onze anos, atuando no laboratório de testes de desenvolvimento. Obrigado pela matéria.

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