MAP Linhas Aéreas, a companhia que domina os céus da Amazônia

Ainda desconhecida, empresa aérea quer ser a primeira marca famosa de Manaus
A MAP opera com aeronaves turbo-hélice, como o modelo ATR 42 acima (ATR)
A MAP opera com aeronaves turbo-hélice, como o modelo ATR 42 acima (ATR)
A MAP opera com aeronaves turbo-hélice, como o modelo ATR 42 acima (ATR)
Vista panorâmica da Floresta Amazônica: a MAP opera somente aviões turbo-hélice (ATR)

Azul, Latam, Gol, Avianca… Essas não são as únicas companhias aéreas do Brasil. Embora seja um mercado muito restrito e extremamente desafiador, outras empresas menores e pouco conhecidas também voam pelo país e cumprem um importante papel em suas regiões. A MAP Linhas Aéreas, de Manaus, é uma delas, que opera em cidades nos rincões dos estados do Amazonas e do Pará, onde nenhuma outra companhia pousa.

Praticamente desconhecida no sudeste brasileiro, de onde as companhias famosas lançam seus principais voos, a MAP também ainda não é um nome tão conhecido entre os manauaras. “Me fala uma marca de Manaus conhecida no Brasil inteiro? Queremos fazer da MAP um nome conhecido no país inteiro, mas antes precisamos ser conhecidos em nossa casa”, contou Héctor Hamada, CEO da companhia, em entrevista ao Airway.

O nome original da MAP são as iniciais de seu fundador e atual presidente, o empresário e piloto Marcos Pacheco, de Manaus. Posteriormente, a sigla ganhou um significado mais “corporativo”: Manaus Aerotáxi Participações.

O primeiro ramo do grupo foi a Manaus Aerotáxi, criada em 1998, e hoje com um variada frota de aviões a jato e turbo-hélice (incluindo um avião anfíbio) e até uma UTI aérea. Já a linha aérea regular da MAP estreou no dia 5 de março de 2013 com o voo entre Parintins e Lábrea, ambas no Amazonas e sem ligação terrestre.

“Alguns dos destinos que a MAP atende pelo Amazonas e o Pará você só chega de barco ou de avião. Não existem estradas para ir de carro. De barco você pode levar dias, até uma semana, enquanto de avião isso é resolvido em algumas horas ou menos”, explicou Hamada. “A aviação regional é muito importante para o desenvolvimento dessa região e estamos vendo isso acontecer nas cidades para onde voamos.”

A MAP opera atualmente com cinco aeronaves, todos modelos turbo-hélice: três ATR 42-300 e dois ATR 72-300. “Em novembro vamos receber mais uma aeronave, um ATR 72-500 mais moderno”, contou o executivo. Esses aviões atendem um total de 14 destinos, nove no Amazonas e cinco no Pará.

(MAP)
A frota da MAP é composta por aviões que pertenciam a Trip, empresa absorvida pela Azul em 2012 (MAP)

Voando pela Amazônia

Como opera com aeronaves turbo-hélice, os aviões da MAP voam em altitudes mais baixas que os jatos e oferecem uma visão mais clara abaixo das nuvens. “Temos a melhor vista panorâmica da floresta amazônica”, brinca Hamada. “Realmente é uma viagem com um visual impressionante. O cenário é tão bonito que uma foto de nosso avião voando pela floresta está exposta na sede da ATR, em Miami.”

Os primeiros voos da MAP decolam às 7 horas das principais bases da empresa, Manaus e Belém, e começam o “pinga-pinga” pelo Norte. As viagens da companhia tem em média de 30 minutos a uma hora de duração. O voo mais longo é o trecho entre Manaus e Itaiatuba (PA), realizado em pouco mais de duas horas com aeronaves ATR 72.

A companhia manauara também encerra o expediente cedo. O último voo da MAP no Pará decola às 18:14 de Porto Trombetas para Parintins (AM), e no Amazonas o último avião da empresa parte às 20:27 de Parintins para Manaus.

Os destinos da MAP cobrem uma área que tem quase o mesmo tamanho da Europa (MAP)
A malha aérea da MAP cobre uma área que tem quase o mesmo tamanho da Europa (MAP)

“Para os pilotos é como trabalhar em um escritório e voltar para a casa no final do dia. Raramente eles precisam pernoitar nos destinos. Mas isso também acontece por que muitos dos aeroportos onde operamos não possuem sistemas de iluminação adequados para podermos pousar e decolar com segurança até mais tarde”, revelou o CEO da MAP.

Hamada contou à reportagem que o calor e a umidade não dificultam as operações da companhia. “Me perguntam isso com frequência, mas nossos aviões suportam o clima amazônico sem problemas. Por outro lado, o que dificulta nossa operação é a falta de aeroportos melhores. Faltam equipamentos de navegação, pontos de abastecimento de aeronaves e melhor manutenção nas pistas, algo que as prefeituras não fazem com a frequência adequada.”

O executivo da companhia contou que as pistas malcuidadas nos aeroportos da região Norte não representam um risco à segurança, mas aumentam os custos da empresa com pneus.

“Outras companhias que usam aviões como os nossos trocam seus pneus em média a cada três meses. Nos trocamos todos os meses”, disse Hamada. “A falta de mais pontos de abastecimento nas cidades onde operamos exige que nossos aviões decolem com os tanques cheios das principais bases, o que diminui a capacidade de passageiros e carga.”

“Teve apenas uma vez que o calor nos atrapalhou, quando tentamos servir chocolates aos passageiros durante uma ação, mas eles derreteram. Aprendemos a lição”, contou aos risos o diretor da MAP.

(ATR)
A MAP planeja ter 10 aviões até 2022, o suficiente para movimentar 1 milhão de passageiros por ano (ATR)

De acordo com o CEO da MAP, o público da companhia é formado principalmente por viajantes a negócios. “Com a MAP esses profissionais tem a chance de expandir seus negócios. Vemos uma grande movimentação de engenheiros, advogados e médicos viajando em nossos aviões.”

“Recentemente fizemos uma pesquisa na região Norte e descobrimos detalhes interessantes. Uma parte do público amazonense tem medo de voar, mesmo sem nunca ter voado, e também associam a aviação a emergências. Voos de resgate, como os feitos pela Força Aérea Brasileira, são comuns na Amazônia. Aos poucos queremos ajudar a mudar essa mentalidade”, disse Hamada.

Um milhão de passageiros até 2022

Em 2017, a MAP transportou 137.523 passageiros. Esse número coloca a empresa como a sexta maior companhia aérea do Brasil, atrás das quatro grandes (Gol, Latam, Azul e Avianca, pela ordem), e da Passaredo. “Vamos superar o resultado de 2017, pois o fator de aproveitamento de nossas operações está mais alto neste ano”, antecipou o CEO.

Fator de aproveitamento, ou “load factor” no linguajar da aviação comercial, é a relação de quantos assentos a companhia oferece e quantos são ocupados por passageiros. No ano passado, a MAP registrou uma média de 69,4% de ocupação nos voos e neste ano ano o número está acima de 75%. “Mantivemos a mesma malha de voos, mas transportamos mais passageiros. Isso é um sinal de que a empresa está ficando conhecida na região”, contou Hamada.

A meta da MAP é continuar crescendo e a passos largos. Hamada disse que a empresa está trabalhando para transportar um total de um milhão de passageiros a partir de 2022. “O plano começa aumentando as frequências atuais, o que depende da chegada de mais aeronaves e melhorias aeroportuárias, e mais adiante abrir mais destinos, sempre focado na região Norte.”

O executivo disse que para movimentar um milhão de passageiros é necessário uma frota com 10 aeronaves. “Esse é um número da própria ATR, mesmo com uma operação conservadora”, contou Hamada, acrescentando que o modelo de negócios da MAP não requer aeronaves a jato. “São voos curtos e nem todos os destinos que atendemos tem condições de receber jatos.”

Os aviões da MAP transportar entre 40 e 66 passageiros (MAP)
Os aviões da MAP transportar entre 40 e 66 passageiros (MAP)

“A MAP em nenhum momento quer concorrer com as grandes companhias do Brasil. Outras companhias menores já tentaram fazer isso e acabaram falindo. Nosso objetivo é complementar os serviços dessas empresas e oferecer maior capilaridade na região Norte, que é nossa especialidade”, revelou o CEO.

Exceto em Manaus e Belém, a companhia manauara praticamente não cruza com aviões de outras empresas nos destinos que atende. Os únicos casos são a Azul, em Altamira, Santarém e Tefé, e a Gol e a Latam, em Santarém.

Para conseguir acordos dessa natureza as companhias aéreas precisam do certificado IOSA (IATA Operational Safety Audit) da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), que avalia mil itens de toda operação de uma companhia aérea. “Iniciados o processo para obter o IOSA em 2016 e no final de 2017 a IATA enviou seus auditores para Manaus. Dos mil itens avaliados, eles apontaram apenas 16 inconformidades”, revelou Hamada.

(MAP)
Os ATR são uns dos aviões comerciais mais indicados para aeroportos com pouca estrutura (MAP)

Ao conseguir o certificado IOSA a MAP “ganhou moral” para participar da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), grupo que empresa amazonense ingressou em setembro. “Isso é muito importante para a MAP. Nos dá maior visibilidade no mercado e vai nos ajudar a pleitear melhorias para aumentar nossas operações”, contou o diretor da companhia.

O IOSA também abre caminho para a MAP criar acordos de compartilhamento de voos (code-share) com outras companhias. “Esse é o grande sonho de Pacheco, o fundador da MAP, e uma parte importante em nosso plano de expansão. Temos uma negociação em andamento com uma grande empresa e em breve vamos anunciar”, revelou Hamada, mas ainda sem identificar a companhia parceira.

As passagens da MAP custam em média R$ 589, valor que fica acima dos preços praticados pelas outras companhias brasileiras – a media da Gol, a mais baixa registrada pela ANAC em 2017, foi R$ 316,17.

“Pode parecer caro, mas você tem que levar em consideração que o outro único meio de viajar pelos destinos que atendemos é de barco. E isso pode levar dias e os passageiros também acabam gastando mais dinheiro com as refeições durante essas viagens. No final das contas viajar de barco ou de avião pela Amazônia pode custar a mesma coisa ou até menos. Só muda o tempo da viagem, e muito!”, finalizou o CEO da MAP.

Veja mais: Conheça as companhias aéreas “low-cost” que estão chegando ao Brasil

 

5 comments
  1. Eu desejo que eles continuem crescendo e expandindo a malha aérea pelo norte do país, que depende muito de barco ou avião. O aeroporto de Marabá carece de mais companhias e quem sabe até integrar o Tocantins, pois apesar de fazer parte da região norte, existe pouca ou nenhuma integração com os demais estados.

  2. Benedito Paiva Duarte Souto gostaria de saber do presidente não se não seria possível fazer um estudo do trecho Altamira Porto de moz bren disse:

    Gostaria de saber do presidente map se não a possibilidade de fazer um estudo na mala aérea no trecho entre Altamira Porto de moz breves Belém porque e quase o mesmo trecho entre Altamira Belém assim atenderia mas dois municípios do Pará

  3. Até hoje não consigo entender porque os brasileiros metidos a faladores piores que as donas Marocas e vivem dizendo que é um país tem dimensões continentais mas não nos oferecem aviação regional; será que as falas são decoradas para o povinho iletrado ficar impressionado????

    Imaginem que Minas Gerais é maior que muitos países europeus que tem voos para quase todas suas cidades ou pelo monos, trens de alta velocidade.

  4. Gostei da reportagem. Bom saber que esta companhia integra o norte do Brasil. Gostaria muito de ter a oportunidade de trabalhar nesta empresa. Sou lotado no aeroporto Internacional de Porto Seguro Bahia. Mas abriria mão e iria para a região amazônica. Morei no interior do Pará,em Uruará cerca de 200 km de Altamira. Caso tenha interesse em me contratar so entrar em contato via email.

  5. Obviamente só é possível realizar voos regionais se eles foram econômica e financeiramente viáveis. Com baixa demanda, os aviões devem ser menores, o que significa com custos maiores por assento*quilômetro, o que dificulta encontrar quem pague, a menos que haja subsídio. E isto é palavra maldita em muitos locais, mas há estados que o fazem, com reduções de ICMS de combustível, incluindo a Bahia e Minas Gerais. Assim, apesar das “Marocas” citadas, sugiro acessar http://www.voeminasgerais.com.br.
    Criticar é fácil, propor soluções viáveis nem tanto.

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