Novos supersônicos XB-1 e X-59 têm no barulho seu maior desafio

Conceitos desenvolvidos pela Boom Supersonic e pela parceria entre a Lockheed Martin e a NASA irão testar soluções para permitir o voo supersônico sobre áreas habitadas
XB-1: protótipo da Boom vai testar as tecnologias do Overture (Boom)
O protótipo XB-1: problema não é ser supersônico e sim silencioso (Boom)

Há cerca de 50 anos, o Concorde e seu rival russo Tu-144 foram pioneiros no voo supersônico de passageiros, mas acabaram sucumbindo tempos depois por vários motivos, entre eles o alto custo de operação, o alcance limitado e também pelo barulho.

Ao romperem a barreira do som, esses elegantes jatos provocavam um estampido que chegava aos ouvidos dos habitantes dos regiões por onde voavam. Por conta desse problema, as autoridades dos EUA proibiram que o Concorde voasse sobre o país acima da velocidade do som, impedindo com isso que a aeronave anglo-francesa tivesse qualquer chance de sucesso comercial.

Aposentado em 2003, o Concorde encerrou a primeira era supersônica na aviação civil, porém, a indústria aeroespacial se prepara novamente para tornar essa possibilidade real. Na semana passada, um dos projetos mais adiantados, o Overture, da startup dos EUA Boom Supersonic, deu um passo importante ao revelar o avião-conceito XB-1.

Com jeito de avião de caça, o protótipo de pouco mais de 21 metros de comprimento leva apenas o piloto e é equipado com três motores GE J85, os mesmos usados pelos F-5 Tiger II da Força Aérea Brasileira. Ele deverá voar em 2021 para comprovar que o projeto de um jato de passageiros com capacidade para até 88 assentos é de fato viável.

(BAEsystems)
O Concorde: barulho supersônico banido dos EUA (BAEsystems)

Em busca do silêncio

Entre os desafios estão comprovar baixa emissão de poluentes, resistência ao calor gerado pelo voo (graças ao uso de materiais avançados) e, claro, superar a barreira do som de forma econômica. Mas é num aspecto que o XB-1 será colocado à prova: o silêncio. Para pavimentar o caminho para a segunda geração de aviões civis supersônicos será preciso reduzir o ruído gerado pelo rompimento da barreira do som.

A solução está na concepção avançada da fuselagem e das asas, bastante recuadas, e que em tese deverão ‘atrasar’ ao máximo o ‘boom’ supersônico e assim torná-lo mais suave.

O XB-1 não está sozinho nessa empreitada. A NASA, em parceria com a Lockheed Martin, desenvolve um avião-conceito semelhante, o X-59 QueSST e está apenas alguns meses atrás da Boom.

No entanto, a intenção da agência espacial dos EUA é ajudar as várias iniciativas de aviões supersônicos, além do próprio governo, a criar os padrões para regulamentar esse tipo de voo no futuro.

O XB-1 testa as tecnologias que serão usadas no projeto Overture, para até 88 passageiros (Boom)

Barulho de uma batida de porta

Assim como o XB-1, o X-59 também leva um piloto, tem asas curtas e um motor de uso militar, o GE F414. Mas a aeronave experimental da divisão Skunk Works é mais radical. Seu nariz alongado é um dos conceitos para permitir que o ruído gerado pelo avião não passe de 75 decibéis, ou semelhante a batida de uma porta de carro. Por isso o X-59 chega perto de 30 metros de comprimento.

O grande nariz impede que o piloto tenha uma visão clara à frente, por isso a Lockheed Martin projetou o eXternal Vision System, um sistema de câmeras e visores frontais que permitirá enxergar o exterior em realidade aumentada. Uma solução semelhante será testada também pelo XB-1.

O programa X-59 acabou atrasado pela pandemia e a meta da NASA agora é concluir a montagem do protótipo e os testes de solo em meados de 2021. O primeiro voo deverá ocorrer em 2022, um ano depois do XB-1.

O que os engenheiros e projetistas dos dois programas mais esperam é que ao voarem por regiões habitadas quase ninguém note sua passagem. Por enquanto, essa será a maior vitória desses aviões.

O X-59 queSST, desenvolvido pela NASA e Lockheed Martin, deve voar em 2022 (LM)

Veja também: Conversível supersônico: por que a Rússia testou um caça sem o canopi?

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