Como é o voo de planador

Veja como funciona o voo a vela e formas de dar os primeiros passos nesse campo da aviação
Planadores são registrados no Brasil no segmento de aviação experimental (João Mantovani)
Planadores são registrados no Brasil no segmento de aviação experimental (João Mantovani)

A aviação é um ramo profissional que está estritamente ligado a paixão pelos aviões e a arte de voar. Não existe piloto que não goste ou fique enjoado do que faz. É como se tivessem suas próprias asas. Mas alcançar os céus exige também um longo e meticuloso trabalho de formação.

O planador pode ser o primeiro passo para quem deseja se tornar piloto, proporcionando a forma mais envolvente de voo. Além da acessibilidade, com cursos que custam de R$ 5.000 a R$ 10.000 no Brasil, esse tipo de aeronave é a que melhor expressa a combinação de homem e máquina, característica que pode ser muito vantajosa no aprendizado de novos pilotos.

“O planador voa da mesma maneira que um avião com motor ‘reduzido’. Ou seja, ele sempre está perdendo altitude. Então quanto mais alto o planador está, mais longe ele vai. Um planador de competição tem uma relação de 1/40: a cada um km de altura ele voa 40 km”, explica Sergio Bassi, instrutor do ‘Aeroclube de Voo a Vela CTA’, em Caçapava (SP).

No planador não há motor para ganhar altitude ou acelerar para chegar logo em casa. O aparelho voa no ritmo do vento e, sobretudo, com auxílio das correntes termais ascendentes, camadas de ar quente que devido a temperatura e pressão se deslocam para o alto. E quando essa “onda” passa, o planador pode pegar carona nela e assim ganhar altitude.

O planador ganha altitude com ajuda de correntes térmicas ascendentes (João Mantovani)
O planador ganha altitude com ajuda de correntes térmicas ascendentes (João Mantovani)

“É preciso encontrar fenômenos meteorológicos para subir e repor a altura que você perdeu. O mais comum é a ‘corrente ascendente, que pode ser encontrada em sinais no solo ou nas nuvens”, explica Bassi, que recentemente venceu o campeonato brasileiro de voo a vela.

Para entender melhor como funciona o voo a vela, como é chamada a categoria, o Airway vestiu o paraquedas e pegou uma carona em um planador. Acompanhe:

Decolagem

Como não tem motor, o planador precisa de ajuda de um avião rebocador para decolar. A decolagem do conjunto ligado por um cabo é um dos espetáculos mais graciosos da aviação.

O planador é muito leve. O modelo que o Airway voou, um Schleicher ASK-21, fabricado na Alemanha, pesa apenas 360 kg (vazio). Por isso, ao ser rebocado por uma aeronave motorizado, o aparelho decola em pouco espaço, antes mesmo do avião-rebocador.

Com as longas asas, o planador ganha sustentação rapidamente e com pouca velocidade já pode planar. A decolagem é muito curta: a aeronave decola com cerca de 60 km/h e segue rebocada até ganhar atingir uma altitude segura para o voo livre.

A cabine do planador é confortável e bem ventilada (Thiago Vinholes)
A cabine do planador é confortável e bem ventilada (Thiago Vinholes)

Com cerca de 300 metros de altitude e velocidade acima dos 120 km/h, o planador pode ser liberado do cabo. Nesse momento, a aeronave sofre um leve tranco e passa a voar de forma independente. Logo após a liberação do reboque, o aparelho passa a voar de forma muito suave. Não há a sensação de um motor puxando o avião para frente.

Pilotando

É preciso sensibilidade e instinto apurado para pilotar um planador. Os movimentos são sempre muito delicados, assim como as reações da aeronave. O painel de instrumentos tem somente instrumentos básicos da aviação: bússola, velocímetros, altímetro, indicador de razão de subida e descida e um item crucial para planadores, uma espécie de detector de correntes ascendentes (Airspeed Indicator) e a intensidade desses fenômenos.

O comando da aeronave é por manete e pedais e o único comando extra é manete para acionar os defletores da asas, que atuam como freios aerodinâmicos para reduzir a velocidade. O planador possui apenas um equipamento eletrônico: o rádio.

O painel do planador possui apenas instrumentos básicos; o barbante no canopi mostra direção do vento (Thiago Vinholes)
O painel  possui apenas instrumentos básicos; o barbante no canopi mostra direção do vento (Thiago Vinholes)

Projetado para longos voos, que podem levar três horas ou mais, o interior do planador é muito confortável. O assento acomoda todo o corpo e a ventilação não é um problema: há um duto de ar logo ao lado do banco e pequenas janelas que podem ser abertas durante o voo.

“Para as mulheres é até mais fácil, pois o planador exige movimentos delicados. Do meu ponto de vista, pela sensibilidade que nós temos, fica um pouco mais fácil”, indica Valeria Caselato, professora e piloto de planadores aos finais de semana. “Sou uma das 10 praticantes mulheres de voo a vela no Brasil. Eu não acho difícil pilotar”, completa.

Os urubus também são um bom “instrumento” no voo a vela. Os enormes pássaros têm um “faro” especial para encontrar correntes ascendentes, que os levam para grandes altitudes sem nem mesmo precisar bater as asas. Por isso, onde há um urubu existe grandes chances de encontrar uma térmica onde o planador possa ganhar altitude.

No Brasil, os praticantes de voo a vela sempre voam vestindo paraquedas. No caso de alguma eventualidade, uma alavanca acima do painel libera a tampa do cockpit e o ocupante pula da aeronave. Antes do voo, “marinheiros” de primeira viagem recebem uma aula de como escapar do planador em uma emergência.

O planador que o Airway voou pode atingir até 280 km/h (João Mantovani)
O planador que o Airway voou pode atingir até 280 km/h (João Mantovani)

Pouso

Após meia hora de voo, é chegado o momento de retornar a terra firme. Para frear a aeronave é preciso acionar os defletores, que criam uma barreira aerodinâmica nas asas. Além disso, momento antes da aproximação, o piloto pode realizar uma “glissada”, uma espécie de derrapada no ar que reduz a altitude mantendo a velocidade baixa, ideal para o pouco.

Como chega na pista em baixa velocidade, menos de 70 km/h, o planador para em poucos metros após tocar o solo. A habilidade de realizar pousos curtos é uma das exigências para obter a licença para pilotar planadores. O piloto precisa provar que é capaz de realizar um pouso seguro em um espaço de 30 metros de comprimento. Essa experiência é necessária para o caso do condutor precisar realizar um pouso de emergência em regiões remotas.

A experiência de voar a bordo de um planador é o conceito mais puro e simples de voo, o mais próximo que um homem pode chegar de um pássaro. É uma mistura de paz, devido ao silêncio quase absoluto na cabine devido a ausência de um motor, com a empolgação por voar.

Para quem quer planeja seguir carreira de piloto, iniciar com os planadores pode a forma mais prazerosa e intensa para adquirir conhecimento na área. Além disso, os custos são inferiores aos praticados em escolas que utilizam aviões monomotores ou helicópteros. Já quem quer apenas conhecer, passear a bordo de um planador biposto, “com ou sem emoção”, é uma experiência que vai demorar para sair (se sair) da sua cabeça…

Aeroclube de Voo a Vela CTA

O Aeroclube de Voo a Vela CTA, localizado em Capaçava (SP), oferece passeios de planador e também possui uma escola de instrução de voo a vela. Para saber mais sobre preços e horários de funcionamento acesso o site do aeroclube.

Veja mais: ANAC libera operação do A380 para operação em Guarulhos

8 comments
  1. Parabéns pela qualidade da matéria. Aproveito para divulgar o site da Federação Brasileira de Voo a Vela – FBVV onde podem ser encontradas mais informações sobre os planadores e outros locais no Brasil onde é possível voar: http://www.planadores.org.br/

  2. Prezado Thiago,

    Excelente matéria sobre planadores.
    Gostaria de acrescentar que aquele barbante (chamado pelos pilotos de lã ou “lãzinha”) que está preso ao canopy é fundamental e serve para indicar o vento relativo à aeronave somente durante o voo. Também é utilizado em helicópteros. Mostra ao piloto se a aeronave está em voo coordenado ou está escorregando no ar. Sem a lã o piloto fica sem referência de como a aeronave está em relação ao ar.

    Abraços,
    Roberto

  3. Perguntinhas de ignorante no assunto:
    O barbante já vem de fábrica?
    Quanto custa um planador como o da foto?
    O piloto tem que fazer curso de paraquedismo?
    Um sério abraço
    Ricardo

  4. Parabéns pela bela matéria. O assuntoé envolvente e esclarece muitas duvidas mesmo para aqueles que ja voam avião. Sugiro os clubes de planadores que frequente as escolas promovendo palestras e voos , assim conseguiremos atingir a juventude levando a eles o conhecimento de que o voo de planador vai acrescentar valores na sua carreira de piloto aviao, e o que parece ser um desvio da carreira , na verdade será a melhor expreriencia de sua vida , ou a melhor pós- graduação para um piloto avião.

  5. Parabéns Thiago pela excelente matéria !!! Simplesmente uma das melhores que já acompanhei sobre o tema (se não a melhor !!!) …

    Você voou com uma fera (Sérgio Bassi), que continua nos ensinando até hoje !!! Bassi, suas explicações foram verdadeiras aulas para quem está iniciando no tema e procurando entender o que é o Voo a Vela !!!

    Tenho orgulho de aprender contigo sempre.

    Saudações voolovelísticas.

    Talles

  6. Boa noite a todos.. Thiago onde consigo o projeto de construção?. Não tenho condições e meu sonho e voar

  7. Luiz Carlos,
    Perfeitamente!
    O que é considerado por alguns como desperdício de tempo e dinheiro, pode salvar vidas. A experiência com o voo planado já salvou vidas, como o Air Transat 236. Pra quem costuma voar aviões tracionados por motores, o voo em planador já costuma-se dizer que é o voo em “emergência”. Com as horas de experiência pode-se acostumar com o voo planado e entender que aplicando a R/D e velocidades corretas, o planeio é bem seguro e, dessa forma, em emergência, o tempo de reação é maior. Parabéns a todos!

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