Primeiro porta-aviões nuclear do mundo, USS Enterprise será desmantelado até o final da década

Marinha dos EUA decidiu contratar um estaleiro privado para realizar o serviço, seis anos após embarcação ter sido descomissionada
O USS Enterprise navegando em seus tempos na ativa (USN)

Primeiro porta-aviões de propulsão nuclear da história, o USS Enterprise (CVN-65) será desmantelado em um estaleiro privado, anunciou a Marinha dos EUA dias atrás.

A decisão ocorre seis anos após a embarcação ter sido descomissionada, em fevereiro de 2017, e quase onze anos após ter retornado da sua última missão.

A Marinha avaliava três alternativas para desmontar o imenso navio, de quase 95 mil toneladas de deslocamento. A primeira seria realizar um desmanche parcial da embarcação, preservando cerca de um terço da sua estrutura, onde ficam alojados os oito reatores nucleares (cujo combustível radioativo foi retirados há anos).

A seção restante seria então rebocada até o estaleiro de Puget Sound, no Pacífico, exigindo que o comboio contornasse a América do Sul. No local, os oito reatores seriam então acomodados em imensas caixas de 3 mil toneladas que seriam levadas por barcaças até uma área de descarte de material radioativo.

O primeiro porta-aviões nuclear do mundo foi descomissionado em 2017 (USN)

A segunda alternativa seria semelhante, mas os trechos onde estão os reatores seriam divididos em quatro grupos. O tamanho desses compartimentos, no entanto, exigiria mudanças na logística de transporte como a ampliação de um porto.

A Marinha também considerava manter o ex-Enterprise em sua atual posição, no estaleiro de Newport News, na Vírginia, mas a solução seria provisória já que exigiria uma manutenção rotineira da embarcação até que uma solução definitiva fosse encontrada.

O casco do Enterprise está parado há anos em um estaleiro do governo, na Vírginia (GE)

Concorrência em breve

A altenativa escolhida prevê um leilão aberto a empresas privadas interessadas em realizar o serviço e que deve ser marcado para breve.

A Marinha considera três locais para desmontar o antigo porta-aviões: Newport News, próximo de onde ele se encontra, Mobile, no Alabama, e Brownsville, no Texas, uma cidade na divisa com o México e cujo estaleiro fica ao lado de onde a SpaceX faz testes de lançamentos do foguete Starship.

O Enterprise foi batizado em 1960 (USN)

Em todos eles, o deslocamento da embarcação seria curto, evitando uma viagem demorada como a que ocorreu com o ex-porta aviões USS Kitty Hawk (CV-63), que em 2022 contonou toda a América para chegar a seu destino final, no Texas.

O estaleiro privado terá então a tarefa de reciclar os materiais não contaminados e remover e desmontar os componentes dos reatores, cujas centenas de peças serão enviados para instalações de armazenamento especializadas em material nuclear.

A previsão é que o processo seja concluído em cerca de cinco anos, próximo do final da década. As demais alternativas tinham estimativa do dobro do tempo necessário.

Em 1969, um foguete explodiu no convés e vitimou 27 marinheiros (USN)

“Big E”

O USS Enterprise foi construído no final da década de 50 e comissionado em novembro de 1961. Construído pela estaleiro Newport News Shipbuilding, o porta-aviões foi a seu tempo o maior navio militar do mundo, só superado em 1975, quando o USS Nimitz entrou em serviço.

Mas seu grande diferencial, além do tamanho, era a propulsão nuclear, que permitia que o porta-aviões navegasse por anos sem necessidade de reabastecimento.

O USS Enterprise ao lado de quatro porta-aviões da classe Nimitz, também nucleares (USN)

Além disso, o CVN-65 foi equipado com um inovador radar de escaneamento eletrônico da Hughes conhecido pela sigla SCANFAR.

O equipamento foi instalado na imensa ilha do Enterprise, que possuía espaço de sobra com a eliminação da chaminé por conta da propulsão nuclear. Ele era dividido em dois tipos de radar, o AN/SPS-32 e o AN/SPS-33, com antenas nas laterais da ilha e no topo.

Oito anos após entrar em serviço, o Enterprise teve um grave acidente que vitimou 27 marinheiros. Um foguete que estava carregado em um caça F-4 Phantom explodiu no convés em janeiro de 1969, provocando um grande incêndio que foi controlado com a ajuda de um destróier, o USS Rogers.

Em 1979, durante uma reforma que durou três anos, o sistema SCANFAR foi removido e o Enterprise passou a ter uma ilha convencional.

O porta-aviões voltou de sua última missão em 2012, após mais de cinco décadas em serviço (USN)

Durante as cinco décadas em que esteve ativo, o USS Enterprise participou de inúmeras missões em lugares como Vietnã, Coreia do Sul, Líbia, Bósnia, Iraque e Afeganistão.

Conhecido pelo apelido “Big E” (Grande E), o Enterprise segue com o título de navio militar mais longo do mundo, com 342 metros de comprimento, que não foi sobrepujado pela classe Nimitz, sua sucessora, e pela nova classe Gerald R. Ford.

Parte do futuro USS Enterprise, o CVN-80

Oitavo navio da Marinha dos EUA a ser batizado como “Enterprise”, o CVN-65 terá seu legado continuado pelo CVN-80, porta-aviões nuclear que deverá ser lançado ao mar em 2025.

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Mas a presença do CVN-65 no novo Enterprise não será apenas retórica: cerca de 9 toneladas de aço retiradas do antigo porta-aviões estão sendo recicladas para serem usadas no CVN-80.

 

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