Relatório preliminar aponta gelo intenso e perda de controle abrupta no ATR 72 da VoePass

Aeronave sofreu acidente fatal em 9 de agosto quando iniciava descida para pouso em Guarulhos. Todos os 62 ocupantes faleceram
O ATR 72 da VoePass que caiu em 9 de agosto (IndiaEcho/CC)
O ATR 72 da VoePass que caiu em 9 de agosto (IndiaEcho/CC)

O CENIPA, órgão responsável pela investigação de acidentes aeronáuticos do Brasil, divulgou em 6 de setembro o relatório preliminar sobre o acidente com o ATR 72 da companhia aérea VoePass ocorrido em 9 de agosto e vitimou todos os ocupantes.

Embora não aponte causas e culpados, o relatório traz várias informações importantes sobre o voo 2283 com a aeronave PS-VPB que decolou da cidade de Cascavel e tinha como destino São Paulo (Guarulhos).

As suspeitas sobre o papel da formação de gelo severo na rota da aeronave foram confirmadas, assim como a influência do fenômeno sobre as superfícies externas do ATR 72.

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O turboélice com 4 tripulantes e 58 passageiros voava no nível 170 (17.000 pés) aguardando autorização para descida quando às 13h21 (horário local) perdeu contato com o controle de tráfego aéreo e caiu um minuto depois após entrar em um parafuso chato.

O CENIPA, no entanto, observou que não houve declaração de emergência ou reporte de condições meteorológicas adversas pela tripulação.

O ATR 72 já sem controle pouco antes de cair
O ATR 72 já sem controle pouco antes de cair

Falha no mecanismo de descongelamento (De-Icing)

Cerca de 17 minutos após a decolagem, a tripulação comentou sobre uma mensagem de “fault” (falha) no sistema de De-Icing (que descongela partes do avião) após ele ter sido ligado e ser ouvudo um alarmena cabine de comando.

Durante quase uma hora, o Detector Eletrônico de Gelo mostrou um sinal de alerta por quatro vezes. Quatro minutos antes da queda, o De-Icing foi acionado pela segunda vez, mas desligou 1 minuto e 26 segundos depois.

Um minuto antes da perda de de controle total do ATR, o sistema de De-Icing voltou a ser ligado. Até então, a tripulação não demonstrava qualquer sinal de problemas, realizando os procedimentos rotineiros de preparação para pouso.

Alertas preocupantes

Apesar disso, em três ocasiões outro sistema de segurança, Aircraft Performance Monitoring (APM), que informa os pilotos sobre situações de perda de sustentação em caso de formação de gelo, mostrou mensagens preocupantes.

Quantro minutos antes da queda, o APM emititou o alerta de “Cruise Speed Low” (Velocidade de Cruzeiro Baixa), que significa que a velocidade indicada de cruzeiro estava cerca de 10% abaixo do desejado.

Gráfico que mostra dados do voo e acionamento de alertas e sistemas anti-gelo
Gráfico que mostra dados do voo e acionamento de alertas e sistemas anti-gelo

Menos de dois minutos antes da perda de controle, o APM voltou a mostrar um alerta, mas desta vez de “Degraded Performance” (Desempenho degradado), quando a aeronave estava a uma velocidade de 184 nós.

Esse aviso indica uma degradação de 22% a 28% no desempenho do voo causado pelo aumento significativo do arrasto aerodinâmico, que pode ser um indício da formação de gelo.

Após receberem autorização para descerem para o FL 090 (9.000 pés), os pilotos iniciaram uma curva a 169 nós de velocidade quando surgiu o alerta de “Increase Speed” (Aumentar a Velocidade), quando o avião está menos de 10 nós acima da condição de perda de sustentação por ocorrência de gelo.

Nos segundos seguintes, o ATR 72-500 saiu do controle dos pilotos e começou a perder altitude velozmente completando cinco parafusos chatos até atingir o solo.

Os gravadores de voz e voo recuperados
Os gravadores de voz e voo recuperados

Relatório final trará as causas do acidente

O CENIPA evitou fazer qualquer julgamento sobre as causas do acidente, o que será divulgado apenas com a conclusão das investigações e publicação do relatório final.

A aeronave estava com a manutenção em dia, mas voando com um conjunto de sistemas desligado (Pack 1), porém, que não impediam a operação, apenas restringiam algumas situações.

Os pilotos tinham bastante experiência, com mais de 5 mil horas de voo cada. O comandante, que voava jatos anteriormente, possuía mais horas, mas 665 delas no ATR enquanto o co-piloto já acumulava mais de 3.540 horas nesse tipo de aeronave.

Alguns aspectos divulgados chamam a atenção, entretanto. A tripulação estava ciente das condições meteorológicas na rota e a aeronave era preparada para enfrentar situações de gelo, equipada com um sistema de De-Icing e outro de Anti-icing além de sensores para alertar sobre essa ocorrência.

Mesmo assim as gravações de voo de voz não demonstraram que os dois pilotos pareciam cientes da gravidade da situação e o que viria a ocorrer, com a perda abrupta de sustentação.

Aeronave se incendiou após o choque com o solo
Aeronave se incendiou após o choque com o solo

Caberá ao órgão de investigação de acidentes entender agora as razões de o ATR 72 da VoePass ter entrado em uma zona de extremo gelo e mesmo com o desempenho degradado parece não ter sido tomadas ações para evitar a perda de controle.

A investigação se concentrará no fator humano, material e operacional para buscar explicações sobre o triste episódio.

“As informações disponíveis no Reporte Preliminar podem sofrer atualizações à medida que novos dados factuais forem obtidos. O nosso objetivo é entregar o Relatório Final no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”, disse o Brigadeiro Moreno, chefe do CENIPA.

O órgão, vinculado à Força Aérea Brasileira, não estabeleceu um prazo para conclusão das investigações.

1 comment
  1. se existe algum culpado,seria a manutenção e os comandantes por não terem obedecido e atentos aos alertas da aeronave, não adianta ficar tapando o sol com a peneira, infelizmente erraram,que Deus os tenha

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