Depois de um trabalho de restauração impressionante, um dos últimos Avro Shackleton MR.3 recuperou suas condições de voo em 1994 e partiu da África do Sul em direção ao Reino Unido para participar do glorioso festival de Farnborough. Os pilotos da Força Aérea da África do Sul entrariam para a história mas não como imaginavam.
Na noite do dia 13 de julho, enquanto sobrevoava o deserto do Saara, o avião chamado “Pelican 16” sofreu avarias em dois dos quatro motores Rolls-Royce Griffon e aterrissou de barriga na fina areia do deserto.
Todos os 19 tripulantes sobreviveram à queda, mas estavam no meio do deserto, em uma região de conflito armado. Eles haviam enviado mensagens de SOS pouco antes do acidente, mas depois disso perderam contato de rádio.
No solo, acionaram um sinal ligado a satélite, que foi inicialmente ignorado por socorristas que não acreditaram em um sinal do Saara. Enfim, eles conseguiram chamar a atenção de um avião francês queimando um pneu.
O piloto do avião francês não conseguiu pousar, mas escreveu um bilhete, enfiou dentro de uma garrafa de Coca-Cola e jogou sobre uma equipe da ONU no deserto. A equipe contou com a ajuda de rebeldes polisários e resgatou os tripulantes em poucas horas.
Em busca do Pelican 16
Dezessete anos depois, a região ainda era uma inóspita zona de guerra, mas o fotógrafo alemão Dietmar Eckell não se intimidou e decidiu ir atrás do Pelican 16 para seu livro “Happy End”, que traz registros de aviões que caíram sem deixar vítimas fatais. Ele já sabia que aquela seria a aventura mais arriscadas do livro.
A área de descanso do Pelican 16 é hoje conhecida por Saara Ocidental, que é disputada pelo Marrocos e pelo movimento nacionalista saaraui Frente Polisário. Um muro de areia e pedra com 2.700 km de extensão divide as zonas controladas pelo Marrocos (75% do território) e pelo povo saaraui (25%). O avião, claro, está na zona saaraui.
A embaixada da Mauritânia, que faz divisa ao leste do Saara Ocidental, negou um visto a Eckell por razões de segurança. O jeito foi ir até o Marrocos e tentar o visto de lá. Enquanto esperava pelo visto em Rabat, Eckell conheceu um casal de alemães que estava descendo de carro pela costa e ofereceu uma carona até Nouadhibou, na Mauritânia.
Maior trem do mundo
Em Nouadhibou, Eckell conseguiu um guia que falava inglês mas nunca tinho ido para a região da aeronave. Os dois subiram a bordo de um dos trens mais longos do mundo, com cerca de 200 vagões que se estendem por 2,5 km de extensão.
O trem havia acabado de descarregar minério de ferro e voltava vazio para a região das minas, mas isto não deixou a viagem de 20 horas mais confortável.
Comida é propina
Eckell chegou a Zouerat, última cidade controlada pela Mauritânia no norte. O guia sugeriu que ele não economizasse no jantar com o líder polisário, já que a tradição local é fechar negócio durante a refeição e, se ela for boa, mais fácil é.
“Cerca de meia hora depois, um carneiro foi morto em frente a casa onde estávamos e todas as pessoas importantes da cidade apareceram”, lembra Eckell.
O líder Polisário tinha ouvido falar do avião mas nunca havia visto com seus próprios olhos. O chefe de polícia local avisou que os militares mauritanos poderiam impedir o grupo de sair do país. Decidiram, então. evitar as estradas e fazer um rali pelo deserto.
O encontro
Eles saíram no dia seguinte com um Toyota 4×4, que teve um pneu furado no meio do deserto do Saara. Com ajuda do GPS de Eckell, o grupo chegou ao local da queda do avião, mas ele estava sendo escoltado por um grupo de rebeldes com metralhadoras.
Eckell só conseguiu fotografar o Shackleton porque o líder polisário tratou com os rebeldes, que disseram para eles voltarem no fim do dia. Mais um final feliz, com ajuda dos polisários, que também ajudaram no resgate dos sobreviventes em 1994.