Prestes a completar um ano como CEO da Air France, Anne Rigail tem surpreendido pelo sua sinceridade. A francesa de 50 anos que iniciou sua carreira na antiga companhia Air Inter em 1991 está à frente de um projeto ambicioso que visa modernizar a empresa de bandeira da França que hoje possui uma frota envelhecida e uma gestão pouco eficiente.
Em julho, Rigail anunciou que a Air France aposentará seus 10 A380 até 2022. A justificativa foi polida na época: “o atual ambiente da aviação comercial limita os mercados nos quais o A380 pode operar de forma rentável”, mas a empresa já dáva pistas do problema central do avião de dois andares da Airbus, o custo de operação muito superior ao dos jatos Boeing 787 e A350.
Agora, a executiva foi mais clara a respeito do maior avião de passageiros já construído na história: “o A350 e o Dreamliner (787) acabaram tornando o A380 totalmente obsoleto, muito caro, muito grande“, afirmou Rigail em entrevista ao site Airline Ratings durante o voo de estreia do A350 entre Paris e Toronto.
A CEO da Air France não poupou palavras para descrever o pesadelo de operar o A380, que está na frota da empresa desde 2009. “Operacionalmente, sempre foi um uma aeronave muito difícil“, confessou. Entre os problemas, está o fato de seu tamanho exigir equipamentos exclusivos nos aeroportos além de adaptações em pistas e taxiways.
Anne Abigail sabe bem do que fala. Por vários anos, ela esteve à frente da operação da companhia no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, seu maior hub no mundo. A executiva, no entanto, reconheceu que logo que o A380 chegou à empresa seu desempenho era positivo já que substituiu na época dois tipos de aviões, mas com o tempo surgiram os problemas com sua estrutura, motores e mesmo o fato de que sua cabine de passageiros estar defasada. A empresa chegou a prometer que modernizaria o interior desses aviões, mas Abigail explicou porque isso é impossível: “nos custaria 35 milhões de euros por aeronave“, revelou.
Flexíveis e econômicos
Mas Anne considera que o ponto de inflexão do A380 surgiu com o advento do Boeing 787 e do A350. Os dois bimotores de longo alcance mudaram os padrões da aviação comercial internacional ao proporcionar um custo de operação cerca de 25% menor que o de jatos mais antigos.
Menores que o A380 e mesmo que o 777, eles têm se mostrado versáteis também. “Com capacidade menor e maior flexibilidade, eles (787 e A350) podem ser colocados em qualquer rota“, disse ela que, apesar disso, reconhece a admiração de passageiros e funcionários pelo gigante da Airbus.
Frota mais enxuta e eficiente
A entrevista de Anne Abigail surge na mesma semana em que a Air France anunciou seus planos de enxugamento da frota. A companhia aérea francesa vai promover uma grande otimização em seu leque de aeronaves para aumentar a eficiência, reduzir custos e simplificar processos.
De 12 modelos de aviões (contando a família A320 por versão), a Air France pretende ter de oito a nove aeronaves. Ou, como prefere explicar, reduzir de nove para 5 a 7 cockpits no futuro.
Entre os aviões que serão aposentados estão o turboélice ATR e o jato regional ERJ145, mas também as versões menores da família A320Ceo, como o A319 e o A318. O objetivo é manter os CRJ e os E-Jet da Embraer em operação além do A320 e A321. A grande adição será o A220-300, recentemente encomendado, mas a Air France antecipa que deverá buscar um novo narrowbody no futuro e que pode ser o A321XLR. Outra possibilidade seria o A220-500, uma versão ainda maior do jato criado pela Bombardier e que ainda não passa de estudos.
Fim dos quadrimotores
Entre os widebodies, além da aposentadoria do A380, a Air France irá tirar de serviço os quatro A340-300 restantes, encerrando assim a presença de aviões multimotores em sua frota.
Para substituí-los, a empresa manterá 10 Boeing 787-9 e seus 777 atuais, mas é o A350 que terá um papel importante como segundo widebody mais numeroso da frota – e que terá a companhia do velho A330-200 ainda. A primeira unidade do novo jato da Airbus foi entregue semanas atrás e a Air France assumiu todas as encomendas do modelo, incluindo aviões que iriam para a sócia KLM.
Em breve, a Air France deverá anunciar o substituto do A380 também. Embora não revele preferências, os rumores dão conta da possibilidade de encomenda do A350-1000, a variante de maior capacidade do bimotor da Airbus, mas o versátil 787 também está na disputa, ainda mais que a Boeing estaria oferecendo o jato com preços mais baixos no mercado.
Para Anne Abigail, uma coisa ao menos é certa: “Eu penso que o A380 está ultrapassado agora”.
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