É difícil acreditar que o mesmo avião que lançou paraquedistas nas praias da Normandia, do decisivo Dia D da Segunda Guerra Mundial, em junho de 1944, ainda continue voando de forma efetiva e, sobretudo, devastadora. A Força Aérea da Colômbia é o último operador da versão militar do Douglas DC-3 em sua versão mais endiabrada, a canhoneira voadora AC-47T “Fantasma”.
No mesmo ano do Dia D, o governo da Colômbia comprou dos Estados Unidos 60 modelos C-47 Dakota, a versão de transporte militar do DC-3, então um avião fundamental no curso do conflito. Mais de 70 anos depois, os últimos C-47 da frota colombiana, em vez de aposentados, foram modernizados e armados.
Na década de 1980, com a intensificação das insurgências guerrilheiras e o narcotráfico, as forças armadas do país na América do Sul sentiram a necessidade de um meio específico para enfrentar essas ameaças, quase sempre escondidas na imensidão da Amazônia colombiana.
Nesse tempo, a Força Aérea dos Estados Unidos já contava com uma longa experiência em combate contra forças insurgentes. Os primeiros aprendizados vieram na Guerra do Vietnã, onde o conceito da canhoneira voadora ganhou fama, criado justamente a partir do DC-3, na versão AC-47 Spooky (Assustador), para combater os vietcongs entrincheirados nas florestas.
Do AC-47, o formato foi adaptado no cargueiro médio Fairchild AC-119 (Shadow) e em seguida no Lockheed C-130 Hercules, como AC-130 Spectre (Espectro), que se tornou um dos aviões mais armados da história, com uma variada gama de armamentos, como metralhadoras de grosso calibre e até um obus de 105 mm.
Canhoneiras contra as FARC
No final dos anos 1980, a Colômbia passava por um conturbado momento combatendo as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e até mesmo o cartel de Medellín, de Pablo Escobar, que atuavam em locais de difícil acesso no país. A Força Aérea da Colômbia (FAC) decidiu pela compra do AC-130, mas a venda foi barrada pelos EUA. A solução foi adaptar os C-47 para o padrão de combate.
O primeiro dos sete AC-47 encomendados pela FAC foi entregue em 1991. Apesar do aspecto clássico dos anos 1940, era uma aeronave completamente diferente. O modelo foi modificado pela Basler Turbo, de Oshkosh, nos EUA, ao custo de US$ 5 milhões por avião.
A começar pela estrutura, os DC-3 colombianos tiveram as fuselagens aumentadas em 88 cm e asas foram reforçadas e alongadas nas pontas, o que permitiu instalar tanques de combustível maiores. Já os antigos motores radiais a pistão foram substituídos por modernos turbo-hélices Pratt & Whitney, e a cabine de comando foi reconstruída com equipamentos avançados.
Para entrar em combate, a veterana aeronave recebeu uma câmera de busca infravermelho e um conjunto de metralhadoras .50, instaladas no lado esquerdo da fuselagem e disparadas enquanto o avião circula em volta do alvo. Os DC-3 da Colômbia são equipados até com radar, percebido pelo nariz mais avantajado, devido ao radome.
Fantasmas na Colômbia
Com a FAC, os DC-3 de combate ganharam o nome “Fantasma”, em alusão ao perfil de suas missões, realizadas sempre à noite. Até o recente acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC, os AC-47 vasculhavam em silêncio as regiões mais remotas da Colômbia em busca de guerrilheiros, rastreando seus movimentos com câmeras de infravermelho e, após encontrá-los, surpreendê-los com uma chuva de balas.
O Fantasma normalmente voa com uma tripulação de sete militares – piloto, co-piloto, navegador, engenheiro de voo e três artilheiros. O DC-3 modernizado pode permanecer voando por 10 horas. Além da opção de abrir fogo contra inimigos, os AC-47 da Colômbia também já entraram em ação como controladores aéreos e marcadores de alvos, com flares, para ataques coordenados de outras aeronaves – o principal “parceiro” do Fantasma na FAC é o Embraer Super Tucano.
A FAC ainda mantém em operação seis Fantamas, distribuídos em três esquadrões pelo país – pelo menos um deles é armado com um canhão de 20 mm. Desde a modernização no início da década de 1990, o país perdeu apenas um AC-47, em janeiro de 2016, durante uma decolagem mal-sucedida, em Tres Esquinas. O incidente não deixou mortos nem feridos.
Os Fantasmas da FAC são pelo menos duas vezes mais velhos que suas tripulações, mas isso não quer dizer que sua aposentadoria se aproxima. Mesmo que a Colômbia e as FARC cheguem a um acordo definitivo de paz, a capacidade dos velhos DC-3 em vasculhar a selva pode mantê-lo no ar por muitos anos, desta vez focado na busca de traficantes de drogas.
Veja mais: “Expresso Cubano”, o avião mais sequestrado da história
Muito interessante. Os caras reconstruiram um avião a um bom preço e este se tornou muito útil para uma função específica. O conceito de canhoneira aérea só funciona se você tiver supremacia aérea total, o que ocorre contra as FARC. Reportagem nota 11!
A primeira foto não é de um Basler BT-67?
pela imagem dá pra ver que não é armado de metralhadora .50 e sim de canhão automático, provavelmente 20 ou 25mm.
Voei nos velhos C-47 da FAB (versão militar do Douglas DC-3). Simplesmente maravilhoso esse avião, pois ele não caia nem que o pilote “quisesse”. Podia levar tiros à vontade que ele permanecia seguro no ar e nós o chamávamos carinhosamente de VOLKSWAGEN-VOADOR, pois não dava pane. Esse aparelho colombiano está equipado com motores turbo-hélice ou estou enganado?
Está na reportagem: MOTORES TURBO-HÉLICE – MIL PERDÕES.
A foto da Imagem não é uma .50 e sim um canhão de 20mm
Se não me engano, eles haviam modernizado esses aviões acrescentando canhões de 30 mm retirados de Mirages aposentados.
Pois eu voei nas versões civis dele (Panair, Real e Varig) e até hoje sinto saudades dele e a “musica” de seus motores não me saem dos ouvidos…
A melhor aeronave já construida na historia da aviação sem duvida nenhuma porem me perdoem os admiradores do C-47 Dakota (DC-3) entre os quais eu me incluo, mas o atual terror das FARC chamasse..SUPER TUCANO!!