O cenário é melhor do que o mais otimista executivo da Embraer possa ter imaginado. Nesta segunda-feira, 25, a fabricante de aviões brasileira já havia atingido uma valorização de mais de 50% em 2024 tanto na Bolsa de Valores de Nova York quanto de São Paulo.
Ela já é a empresa de capital aberto no país que mais ganhou valor neste ano e parece que o céu é o limite. Mas por que a Embraer de repente virou a queridinha de investidores e analistas?
Certamente a percepção de que a empresa tem bons fundamentos financeiros é uma delas. Desde o fim da joint venture com a Boeing há quatro anos, a direção da empresa teve que empregar um amplo programa de redução de custos e otimização para recuperar o tempo perdido com a parceria frustrada.
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Os resultados desse trabalho têm sido vistos nos dados trimestrais, cada vez mais sólidos, mas só isso não explica o frenesi atual.
Negócio diversificado
Em termos de negócios, a Embraer tem conseguido conquistar mais pedidos e acordos, mas nada espetacular. A aviação executiva vai bem, a divisão de serviços e suporte continua ganhando espaço na receita, mas elas representam 40% das receitas em dólares.
Já a divisão de Defesa e Segurança finalmente começa a colher os frutos do programa C-390 Millennium, com mais clientes selecionando a aeronave rival do C-130 Hercules. Mas ela representa o menor dos segmentos onde a Embraer atua.
Sobra então a aviação comercial, desde muito tempo o principal foco da Embraer. Em 2023, a divisão acumulou US$ 8,8 bilhões em pedidos, ou quase metade dos negócios da empresa.
A quantidade de aviões pendentes de entrega era de 388 unidades até dezembro, maior nível desde o segundo trimestre de 2018.
E as encomendas vão ter um grande impulso com os 90 pedidos firmes de jatos E175 pela American Airlines, colocando a Embraer num patamar que há muito ela não atingia.
Aproveitando da crise da Boeing
São dados animadores mas que não parecem suficientes para tanto otimismo. No entanto, há outros fatores em jogo, sobretudo os problemas pelos quais passa a Boeing, ironicamente a empresa que fez a Embraer ter de repensar sua estratégia de negócios.
A gigante aeroespacial dos EUA passa pela maior crise de sua longa história e que já se arrasta há vários anos. O último capítulo da novela foi a saída anunciada do CEO Dave Calhoun, seguido por outras duas mudanças importantes de executivos.
Desde que o 737, sua máquina de fazer dinheiro, começou a perder terreno para o Airbus A320, a Boeing tenta encontrar atalhos para competir com o jato europeu, mas eles têm se mostrado na prática grandes armadilhas em seu caminho.
Em vez de investir em um projeto novo e moderno, a Boeing tem preferido soluções paliativas e pressão sobre seus fornecedores para fazer o 737 permanecer no mercado. O resultado disso, como se vê, é um produto com inúmeros problemas.
A constatação de vários analistas é que a Boeing passará por um longo processo de restruturação até identificar o que está errado na empresa.
Isso fará com que as entregas de jatos comerciais atrasem, sobrecarregando também a Airbus, que tem suas próprias dificuldades como o desabastecimento na cadeia de suprimentos.
Para bancos de investimento como o Morgan Stanley, a Embraer é a bola da vez no mercado aeroespacial dado que ela teria disponibilidade para atender parte da demanda que Boeing e Airbus não conseguem.
De fato, o acordo de até 133 jatos E175 fechado com a American Airlines ratifica a opinião. A empresa aérea dos EUA precisa renovar sua frota de corredor único e não bastou encomendar mais A321neo e 737 MAX.
Família E2
O que se espera é que outras companhias aéreas sigam o caminho da American e procurem a Embraer para ter aeronaves mais eficientes e baratas de operar.
É nesse momento que a família E2, até aqui quase ignorada pelas grandes transportadoras, pode virar o jogo.
O maior dos jatos, o E195-E2, possui uma capacidade de passageiros bastante elevada, de até 146 assentos, embora seja comum vê-lo configurado com 132 a 136 lugares.
Com bom alcance e consumo de combustível baixo, a aeronave tem mostrado suas virtudes com a Porter Airlines, empresa aérea canadense que oferece tarifas mais baixas, mas serviço caprichado.
A Porter tem 75 pedidos firmes do E2, tendo recebido 30 aeronaves em pouco mais de um ano. Uma prova que a Embraer tem condições de suprir seus potenciais clientes enquanto a Boeing, outrora interessada em seus aviões comerciais, pena para conseguir.
Mas será que a Embraer tem condições, neste momento, em elevar a produção sem correr o risco de ter problemas na cadeia de suprimentos? Somente seus executivos tem a resposta.
Não estaria na hora de pensar em um novo avião, maior, a médio prazo? Não um concorrente direto dos 737 e 320, mas num inédito e inovador 2+2+2, com 2 corredores, sem o banco do meio, que é um sucesso da Embraer? Seria um verdadeiro “pulo-do-gato”!