Com sanções de Europa e Estados Unidos devido a invasão à Ucrânia e um incentivo do governo de Vladimir Putin, a Aeroflot vai dar um impulso na produção russa de jatos comerciais com um pedido gigante de 323 aviões. A maior empresa aérea russa detalhou o plano de sobrevivência sem modelos Airbus e Boeing em reunião com Putin.
- Trijato soviético é cotado como alternativa na Rússia
- Aviões russos sofrem “canibalismo”
- MC-21: Esperança da aviação comercial russa
O pedido inclui 73 Sukhoi Superjet (SSJ100) e 210 unidades do Irkut MC-21, ambos em novas versões com a substituição dos motores ocidentais por unidades de fabricação russa, além de 40 aeronaves Tupolev Tu-214, afirmou o CEO da Aeroflot, Sergei Alexandrovsky, em comunicado divulgado pelo Kremlin.
O plano da Aeroflot é uma visão estratégica para até 2030, com objetivo de reduzir a dependência da aviação russa de componentes ocidentais, com subsídio do governo Putin, que já injetou 10,3 bilhões de rublos (US$ 168 milhões na cotação atual) na empresa em maio deste ano. O governo russo possui mais de 70% das ações da Aeroflot.
Atualmente, o grupo Aeroflot possui 120 jatos da família Airbus A320 e 91 Boeing 737, além de 76 SSJ100 da primeira geração, que utilizam turbofans e aviônicos produzidos por fabricantes estrangeiros. Com falta peças, alguns deste modelos já estão sendo desmontados para manter a frota no ar.
Substituição das importações
O pedido também deve dar um impulso à United Aircraft Corporation (UAC), que fabrica os SSJ100 e MC-21. A empresa deve focar agora na certificação das aeronaves com equipamentos locais, que ainda não ocorreu.
O MC-21 é o mais avançado jato comercial russo, com capacidade para pouco mais de 200 passageiros, com porte semelhante a um Airbus A321. O modelo, projetado para ser um produto global, tinha inicialmente motores Pratt & Whitney PW1400G mas embargos ocidentais fizeram a UAC mudar os planos.
Os motores PW1400G foram trocados por turbofans PD-14, feitos pela United Engine Corporation (UEC-Aviadvigatel). A nova variante “russa”, chamada MC-21-310, voou pela primeira vez em dezembro de 2020 e até agosto deste ano havia completado pelo menos 100 dos 240 voos de certificação.
O SSJ100, um jato regional de 100 assentos que não teve o sucesso internacional esperado, também terá uma nova variante com equipamentos locais.
Renascimento do Tu-214
Até mesmo o obsoleto Tu-214, um modelo de corredor único desenvolvido ainda durante a União Soviética, vai ganhar uma sobrevida enquanto os novos modelos não são certificados. A produção do Tu-214 para substituir aviões do Ocidente começou ainda em abril deste ano.
Bimotor de médio porte, o Tu-214 (desenvolvido a partir do Tu-204) é uma aeronave comercial que poderia ser comparado ao Boeing 757, que deixou de ser produzido em 2004. Apesar de ser o único representante de sua classe ainda em produção, o jato comercial mais recente da Tupolev é raridade nos céus.
Existem atualmente cerca de 30 Tu-204/214 em operação por companhias de apenas três países: Rússia, Egito e Coreia do Norte. As aeronaves são utilizadas em rotas domésticas e internacionais e também estão presentes no segmento de carga.
O primeiro Tu-204 voou em 1989 e os primeiros modelos estrearam na aviação comercial em 1995. Segundo dados do fabricante, a aeronave tem capacidade para transportar 210 passageiros e realizar voos de até 5.800 km, performance ligeiramente abaixo do 757.