A Aeromexico anunciou na terça-feira, 30, ter dado entrada no chamado processo do “Capítulo 11” na Justiça dos EUA, um pedido de concordata mais seguro que o de outros países. É a terceira companhia aérea latino-americana a entrar em recuperação judicial por conta dos efeitos da pandemia do coronavírus, após a Avianca (Colômbia) e a LATAM (Chile).
Em comunicado, a companhia aérea mexicana afirmou que entrou com o processo de forma voluntária e que prepara uma forte retomada das suas operações nas próximas semanas. “Nossa indústria enfrenta desafios sem precedentes devido a declínios significativos na demanda por transporte aéreo”, disse Andrés Conesa, CEO da Aeromexico. “Estamos comprometidos em tomar as medidas necessárias para que possamos operar efetivamente nesse novo cenário e estar bem preparados para um futuro de sucesso quando a pandemia do COVID-19 estiver superada”, concluiu.
A opção por entrar em concordata nos EUA envolve as regras mais claras do país quanto à manutenção dos aviões arrendados pelas companhias aéreas. É possível mantê-los em voo mesmo negociando os pagamentos de aluguel atrasados com seus credores.
Foi essa uma das razões que levaram a LATAM a optar pela Justiça americana em vez da chilena. No ano passado, a Avianca Brasil (OceanAir) entrou em concordata na Justiça brasileira e acabou sendo proibida de continuar a voar com os aviões alugados, o que precipitou a suspensão dos voos.
O pedido de concordata entre as empresas aéreas da América Latina mostra que a falta de apoio dos governos desses países, que têm negado ajuda financeira, tem colocado o setor de transporte aéreo sob pressão. É uma situação diferente do que ocorre na Europa, por exemplo, que tem socorrido suas companhias aéreas como Lufthansa, Air France e Norwegian Air.
Assim com a LATAM, também a Aeromexico tem como um dos seus principais acionistas a Delta Air Lines, mas nesse caso são 49% de participação contra apenas 20% no grupo chileno. A Aeromexico possui uma frota de 69 jatos, todos da Boeing, incluindo seis 737 MAX, que estão aterrados por problemas de segurança, e 19 widebodies 787 Dreamliner.
Impacto bilionário
O agravamento da situação financeira das empresas aéreas latino-americanas foi alertado pela IATA, a associação do setor, em abril. Na época, a entidade estimava perdas de cerca de US$ 15 bilhões, valor que pode ter piorado desde então.
O vice-presidente da IATA para as Américas, Peter Cerdá, preconizava há quase três meses que muitas dessas empresas poderiam não sobreviver. “Vamos depender muito das medidas que os governos impuserem, mas sem o aporte econômico, é extremamente complexo que algumas companhias aéreas que temos hoje possam reiniciar algumas operações quando se reativar” a economia, afirmou.
No Brasil, o governo federal está negociando há meses um empréstimo via BNDES para as três grandes companhias aéreas do país, que receberiam R$ 2 bilhões cada, mas o projeto de socorro talvez nem seja suficiente para algumas ou necessário para outras, que podem buscar outras saídas. Espera-se que não seja o caminho da concordata.
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