O que parecia ser um contrato fácil de ser cumprido tornou-se uma enorme dor de cabeça para a Boeing. Quando a Força Aérea dos EUA decidiu substituir os velhos KC-135 por um novo avião-tanque no início do século era natural que a fabricante norte-americana fosse a favorita na disputa. A razão era simples: os dois aviões tanques da USAF foram fornecidos pela Boeing, o KC-10 (desenvolvido a partir do DC-10 ainda como McDonnell Douglas) e o próprio KC-135, derivado do jato “Dash 80”, que também deu origem o 707.
Mas ninguém imaginava o que viria pela frente. As primeiras tentativas de selecionar um avião para essa missão em 2001 esbarraram em corrupção, requerimentos exagerados e muitas mudanças. Por fim, após muitas idas e vindas, a Boeing venceu a europeia EADS em 2011 e ganhou um contrato para fornecer o KC-46, um avião de reabastecimento aéreo baseado no widebody 767-2C, em sua versão de carga.
Com melhorias em seu projeto que incluíam itens de aviões mais novos da Boeing, o “Pegasus”, como foi batizado, só voou pela primeira vez anos depois. Ele possuía um sistema de reabastecimento aéreo por lança rígida, como o KC-135, além de pods nas asas com mangueiras (sistema usado pela Marinha dos EUA, por exemplo). Sua capacidade de transportar combustível é cerca de 10% superior ao KC-135 e pode levar 114 passageiros, 58 pacientes ou 18 paletes de 463 litros.
No entanto, ao tentar entregar à força aérea um avião com sistemas mais modernos a Boeing acabou criando vários problemas que atrasaram o projeto. Como por contrato ela pagaria pelo custo para corrigir esses sistemas, a fabricante arcou com enorme prejuízos.
Luz do sol
Finalmente, no início deste ano, a USAF aceitou o KC-46, porém, com garantias da Boeing de que alguns problemas persistentes serão resolvidos. Um deles é o fato de que o jato de ataque A-10 Thunderbolt II enfrenta dificuldades para desconectar-se da lança. Mas o que mais chama a atenção é o sistema de monitoramento remoto de reabastecimento, que permite que a tripulação acompanhe a operação, mas que tem revelado dificuldades de funcionamento por exibir sombras e luzes dependendo da posição do avião em relação ao sol.
Apesar disso, os dois primeiros KC-46A foram recebidos pela USAF nesta sexta-feira (25) na base aérea de McConnell, no Kansas. No entanto, eles não estão equipados com os pods nas asas porque a fornecedora da Boeing, a empresa britânica Cobham ainda não conseguiu homologar o equipamento junto ao FAA, órgão governamental de aviação dos EUA.
A meta da Boeing é entregar outras duas unidades nas próximas semanas e então manter um ritmo de três aviões entregues por mês até completar os 52 unidades encomendadas. Ainda assim, distante das planejadas 179 unidades necessárias para retirar o KC-135 de operação.
Veja também: Boeing e Embraer poderão fabricar o KC-390 nos EUA