Maior fabricante de jatos comerciais do mundo, a Airbus demonstrou preocupação quanto à sobrevivência da empresa se nada for feito para mudar a atual situação. Em carta enviada aos 135 mil funcionários do grupo, o CEO Guillaume Faury afirmou que a Airbus está “sangrando dinheiro numa velocidade sem precedentes”.
Ainda segundo o executivo, a redução na taxa de produção das aeronaves em um terço ou até mais não reflete o pior cenário imaginado. “A sobrevivência da Airbus está em jogo se não agirmos agora”, afirmou. O texto busca preparar a empresa para pesados cortes no número de empregados à medida que a demanda por novos aviões cai.
De acordo com a Reuters, a Airbus está buscando ajuda dos governos europeus para sobreviver incluindo empréstimos estatais. A fabricante já havia anunciado no começo do mês que reduziria a produção dos jatos A320 para apenas 40 unidades por mês.
A situação dos widebodies A330neo e A350 é até mais grave, já que o segmento experimentava uma desaceleração antes da pandemia. A rival Boeing, inclusive, deverá anunciar um corte ainda maior na produção do 787, que pode ser reduzida para uma taxa de apenas 6 aviões por mês, ritmo atual do A350.
Para conter a sangria de caixa, a Airbus está revisando seus programas e cancelando projetos diante do novo cenário. Foi o caso, por exemplo, da nova linha de montagem do A321 que deveria ocupar o espaço deixado vago pelo A380 em Toulouse, e que foi suspensa.
No dia 24 de abril, a fabricante anunciou o fim do programa Airbus E-Fan X, que previa o desenvolvimento de tecnologia híbrida-elétrica em parceria com a Rolls-Royce.
O projeto previa a adaptação de um quadrijato Avro RJ100 para receber um motor AE2100 alimentado por gerador de 2MW, mas a fabricante de motores britânica afirmou que seguirá com parte dos estudos.
Excesso de oferta de jatos usados
As fabricantes vislumbram uma perspectiva pessimista para os próximos anos. Com a queda na demanda no transporte aéreo de passageiros, muitas encomendas serão canceladas ou postergadas.
Mas o mais grave é que possivelmente haverá um excesso de oferta de aeronaves usadas no mercado e que deve reduzir o preço de leasing a ponto de inviabilizar o investimento em novos aparelhos.
No curto prazo, há ainda a crise no mercado petroleiro que fez o preço do óleo baixar a níveis históricos. Com combustível barato, a vantagem em eficiência das novas aeronaves também é menor e consequentemente seu principal atrativo.
Para Faury, “infelizmente, a indústria da aviação emergirá nesse novo mundo muito mais fraco e vulnerável do que o nosso”.
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