Airbus e Bombardier pegaram os noticiários de surpresa no início desta semana. Os dois fabricantes anunciaram nessa segunda-feira (16) um acordo de parceria que entregará o controle do programa dos jatos C Series da empresa do Canadá ao grupo europeu.
A negociação, ainda em andamento, define que a Airbus será proprietária de 50,01% da Parceria Limitada de Aeronaves da Série C (Series Aircraft Limited Partnership – CSALP), que inclui as divisões de produção e venda dos aviões. A fatia da Bombardier será de 31% e os 19% finais serão mantidos pelo fundo de investimentos do Québec.
O acordo ainda oferece garantias ao grupo europeu para adquirir futuramente ações de até US$ 100 milhões da Bombardier. A negociação não envolve contribuição em dinheiro de nenhuma das partes, nem a CSALP assumirá qualquer dívida financeira, disseram as empresas.
O principal objetivo da parceria é a construção de uma nova linha de montagem dos jatos C Series na fábrica da Airbus no Alabama, nos Estados Unidos, onde já são produzidos modelos da família A320. O grupo, no entanto, ainda não definiu uma data sobre o início da produção dos aviões comerciais da Bombardier nos EUA.
A família C Series, hoje representada pelos jatos CS100 e CS300, é finalizada na fábrica da Bombardier em Mirabel, no Canadá. Partes da fuselagem e o cockpit da aeronave são montados na planta da empresa no Québec, enquanto as asas são produzidas em Belfast, na Irlanda do Norte.
O executivo-chefe da Airbus, Tom Enders, disse em um comunicado: “Esta é uma vitória para todos. A C Series, com seu design de ponta e excelente economia, é um ótimo ajuste com nossa família de aviões de um único corredor e amplia rapidamente nossa oferta de produtos em um setor de mercado de rápido crescimento”.
“É mais do que uma estratégia. É um movimento muito bom trazer esse avião para os EUA, pois é esse o país com o maior mercado para esse segmento de aeronaves”, afirmou Enders, em entrevista ao ATW. Segundo estimativa da Airbus, o mercado de jatos com capacidade entre 100 e 150 passageiros, como são os CS100 e CS300, vai exigir mais de 6.000 aeronaves nos próximos anos.
Remédio para dor de cabeça nos EUA
Para a Bombardier, a confirmação da parceria é um alívio. Recentemente, os jatos comerciais da empresa canadense foram atingidos por uma taxa de importação de 300% nos EUA, após uma queixa da Boeing sobre a fabricante rival vender o C Series no mercado norte-americano com preços muito baixos – a Embraer e o governo brasileiro também já reclamaram sobre essa prática na Bombardier na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O preço mais baixo do C Series é alcançado por conta de uma série de subsídios avaliados em cerca de US$ 3 bilhões que a Bombardier recebeu dos governos do Canadá e do Reino Unido para completar o projeto.
Esse é o principal ponto da reclamação dos fabricantes concorrentes, como a Boeing e Embraer, cujos produtos, projetados e fabricados com recursos próprios, perdem competitividade perante um concorrente com desenvolvimento financiado por uma nação.
Com a produção dos jatos CS100 e CS300 na unidade da Airbus no Alabama, a aeronave não fica mais sujeita a taxa de importação de 300% nos EUA e também cria mais empregos no país. O plano também pode facilitar a entrega do principal pedido da Bombardier, justamente de uma companhia aérea americana: a Delta Airlines tem uma encomenda para até 125 jatos C Series avaliada em US$ 5,4 bilhões.
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Isso explica, e muito, o namoro entre Boeing e Embraer.
Na prática, hoje temos duas grandes que fabricam aviões grandes, e duas não tão grandes, que fabricam aviões médios.
Estaríamos caminhando para mais uma concentração de mercado, com apenas dois mastodontes produzindo aviões de 40 a 850 passageros?
Pensei exatamente o mesmo, xará. Acho que logo, logo haverá outro anúncio semelhante a este.
O que isso explica mesmo, pelo menos por enquanto, é a inédita taxa de importação de 300% que Trump impôs à Bombardier. A reclamação da Boeing foi só um pretexto, até porque isso vai contra os interesses da Boeing, ao fortalecer seu maior concorrente. Trump quis inviabilizar a fabricação dos aviões no Canadá e trazer empregos e impostos aos EUA. Por um lado, isso é coerente com suas promessas de campanha de trazer empregos para os EUA, mas por outro, significa o roubo descarado de um grande projeto de outro país. Isso não só lhe criou inimizades no maior aliado e parceiro comercial dos EUA, como abre precedentes muito perigosos e sujeita os próprios EUA a retaliações do mesmo tipo por parte de outros países. Mas Trump, como de hábito, nem pensa nisso…