Grandes altitudes não são o território ideal para o voo de um helicóptero. A Airbus Helicopters, no entanto, desafiou esse fato e levou a versão recente do H145 até o topo do Aconcágua, a montanha mais alta do Hemisfério Sul, cujo cume está a 6.962 metros em relação ao nível do mar. Essa foi a primeira vez que um helicóptero bimotor pousou em uma altitude tão elevada.
A aeronave decolou de Mendoza, na Argentina, nessa quarta-feira (25) e voou por 30 minutos até o pé do Aconcágua, onde iniciou a subida. Após 15 minutos, o helicóptero pousou às 13h45 no cume, onde enfrentou uma temperatura de -22ºC.
“Tivemos que manter o foco na missão devido aos ventos fortes com rajadas de até 30 nós (55 km/h) e à baixa densidade do ar. As qualidades operacionais do novo H145 são excelentes e, combinadas com o Helionix e seu piloto automático de 4 eixos, chegamos ao topo com segurança”, disse Alexander Neuhaus, piloto de testes experimentais da Airbus Helicopters que realizou a façanha. “A aeronave teve um desempenho excelente. Voamos sobre o cume do Aconcágua e ainda tínhamos reservas de energia que nos permitiriam trazer para bordo mais duas pessoas.”
O teste de voo teve suporte da Fuerza Aérea Argentina, que forneceu apoio aéreo com seus helicópteros Lama; da Patrulla de Rescate de Alta Montaña da Polícia de Mendoza, que ajudou com um plano de contingência; do Parque Provincial Aconcágua, que auxiliou com as operações e a logística, e da Helicopters AR, um operador local com mais de 15 anos de experiência voando na área do Aconcágua com seu helicóptero Airbus H125.
Esta não é a primeira montanha que a Airbus Helicopters dominou. Em 14 de maio de 2005, o piloto de testes de voo Didier Delsalle pousou um H125 monomotor no Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, com 8.848 metros.
Antes da bem-sucedida campanha de testes em grande altitude na América do Sul, o novo H145 realizou várias campanhas de teste, incluindo na Espanha, em altitudes médias, e na Finlândia, em clima frio. Ao todo, mais de 400 horas de voo já foram registradas nos dois protótipos H145 de cinco pás para garantir a certificação pela EASA (agência de aviação civil da Europa) e FAA (dos EUA) no início de 2020 e iniciar as primeiras entregas do helicóptero no final do próximo ano.
A nova versão do H145 foi apresentada em março na Heli-Expo 2019, em Atlanta, nos EUA. Esta atualização acrescenta um rotor de cinco pás, aumentando em 150 kg a carga útil do helicóptero.
Helicópteros versus grandes altitudes
Aviões conseguem voar graças a sustentação gerada por suas asas. Da mesma forma, os helicópteros também precisam desse fator para alçar voo e pairar. Os rotores empurram o ar para baixo, permitindo que o helicóptero se mova para cima contra a força da gravidade.
A capacidade de sustentação dos helicópteros depende de vários fatores, e a densidade do ar é um deles. Quanto maior o volume de ar, mais sustentação é gerada pelo rotores. No entanto, à medida que uma aeronave ganha mais altitude a densidade do ar diminui, reduzindo a capacidade de sustentação.
No Monte Everest, por exemplo, a densidade do ar é três vezes menor que no nível do nível do mar. Portanto, a sustentação gerada em ar rarefeito também cai para cerca de um terço.
Para um helicóptero alcançar grandes altitudes é preciso que ele tenham motores extremamente potentes e grandes rotores, além de serem muito leves. No entanto, fabricar helicópteros com essas características é obviamente muito caro e, como os requisitos operacionais da maioria dessas aeronaves não exigem voar tão alto, os helicópteros regulares não são projetados dessa maneira – em grandes centros urbanos helicópteros voam a altitudes entre 150 metros e 300 m.
O atual recorde de altitude para helicópteros foi registrado em 21 de 1972 pelo piloto francês Jean Boulet, que alcançou 12.440 metros (40.814 pés), em Istres, na França, com um Aérospatiale SA 315B Lama. Nessa situação extrema, o motor do helicóptero pegou fogo e Boulet precisou pousar, quebrando outro recorde: a autorotação mais bem-sucedida da história.
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