Com a suspensão das atividades do Museu Asas de um Sonho, em São Carlos (SP), quem mora no estado de São Paulo e gosta de ver aviões antigos ficou com poucas opções. Um desses raros locais é o Memorial da Aeroespacial Brasileiro, o MAB, em São José dos Campos (SP), vizinho da fábrica da Embraer.
À primeira vista o MAB pode parecer pequeno, mas a história que esse local reúne é imensa e seu modesto acerto de aeronaves é o suficiente para encher os olhos dos visitantes mais aficionados. Fundado em 2004, o memorial foi criado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), o órgão de pesquisas da Força Aérea Brasileira (FAB).
O MAB, como seu próprio nome diz, não é propriamente um museu, até por que boa parte dos itens da coleção ainda estão em uso pelas forças armadas. A ideia do memorial é reunir equipamentos e tecnologias de empresas bélicas nacionais, como a Avibras e a Mectron, do passado como atuais.
Todos os aviões em exposição no MAB foram desenvolvidos e fabricados pela Embraer. Ao todo, são oito aeronaves, quase todas pioneiras de alguma forma. Dos dois modelos EMB-110 Bandeirante no local, um foi o segundo protótipo de testes de voo, do final dos anos 1960, e o outro o primeiro modelo da série que entrou em operação com a FAB, em 1973.
O MAB também é o “dono” do primeiro protótipo do turbo-hélice EMB-120 Brasília, produzido no início dos anos 1980. Esse mesmo modelo, com uma charmosa fuselagem metálica, voou para diversos pontos do mundo, em festivais e demonstrações para potenciais clientes. Também está no memorial o primeiro EMB-121 Xingu de série, o primeiro avião com cabine pressurizada desenvolvido no Brasil.
Já a ala “armada” está representada pelos modelos Tucano e Super Tucano, e um caça-bombardeiro AMX, até hoje uma das principais aeronaves da FAB – e também da Aeronautica Militare, a força aérea da Itália.
O curioso CBA-123
Já viu um avião com motor “pusher”? Esse é o nome da fórmula com hélices viradas para trás, uma concepção muito rara. E o MAB tem um desses aviões, o protótipo CBA-123 “Vektor”. A aeronave foi desenvolvida pela Embraer em parceria com a empresa argentina FMA (Fabrica Argentina de Aviones), mas acabou cancelado por falta de verbas. Porém, deixou importantes aprendizados.
“A configuração das hélices voltadas para trás diminui bastante o nível de ruído da aeronave e também reduz o consumo de combustível. O CBA-123 é considerado um avião futurista. Só existem duas unidades desse modelos, essa que está no MAB e outra no MUSAL, no Rio de Janeiro”, contou o sargento Armando Romero, guia de visitantes do memorial, ao Airway.
Bombas, mísseis e um carro?
Em fotos, um míssil pendurado na asa de um caça pode parecer pequeno, mas de perto a história é bem diferente. O MAB possui uma réplica do Piranha, o primeiro míssil fabricado no Brasil. O artefato tem quase dois metros de comprimento. As réplicas de bombas então, são ainda mais assustadoras. O memorial possui uma coleção das chamadas “bombas de demolição”, em diversos tamanhos e pesos. A maior delas, quase do tamanho de um carro, pesa quase uma tonelada.
Outros itens que pode ser conferidos são os “ingredientes” dos combustíveis sólidos, usados em foguetes. Falando em combustível, o memorial da FAB também possui um protótipo do Dodge 1800, o primeiro carro com motor movido a etanol fabricado no Brasil, em 1976.
“Esse carro e outros dois modelos saíram aqui do CTA, em São José dos Campos, e percorreram 8.500 quilômetros por nove estados e voltaram ao ponto de partida 23 dias depois, sem nenhum problema”, explicou o sargento-guia do memorial.
O Bandeirante exposto na parte interna do MAB, que foi o segundo protótipo a voar, pode ser visitado por dentro, em visitas agendadas realizadas durante a semana. A cabine é quente como um forno, mas é interessante ver como era a cabine de um avião do passado. O modelo tem configuração executiva, com acabamento de madeira e poltronas extremamente confortáveis – vale o teste.
Foguetes brasileiros
O MAB também conta a história do programa espacial brasileiro, com réplicas em tamanhos reais ou escala reduzida dos principais foguetes brasileiros, das séries Sonda e VLS.
“Esses veículos foram utilizados em estudos sobre a atmosfera terrestre ou no transporte de cargas uteis até o espaço”, contou o Tenente Muniz, especialista em foguetes do CTA. Alguns dos veículos preservados no MAB de fato foram ao espaço e hoje estão expostos com as cicatrizes e queimaduras que ganharam durante a retorno fumegante a superfície terrestre.
Um dos poucos itens “importados” guardados do MAB é uma réplica do satélite Sputnik, um presente da agência espacial russa e hoje pendurado no teto do memorial.
O acervo do MAB é no mínimo curioso e conta os primeiros passos do surgimento da indústria aeronáutica brasileira. E a coleção deve aumentar, os responsáveis pelo MAB já estão de olho em alguns “brinquedos” do CTA, como aeronaves e equipamentos militares.
O MAB tem entrada gratuíta e funciona de terça a sexta somente com visitas agendadas (por telefone ou e-mail), e aos finais de semana e feriados é aberto normalmente. Falta apenas uma lanchonete e uma lojinha de lembrancinhas no final…
Como chegar
Memorial da Aeroespacial Brasileiro (MAB)
Avenida Brigadeiro Faria Lima, s/n (acesso pela entrada do
aeroporto de São José dos Campos)
Parque Martim Cererê
São José dos Campos-SP
CEP 12227-000
telefone: 12 3947-7844
E-mail para agendamentos: mabdcta@gmail.com
Mais informações: http://www.mab.cta.br/
Dodge Polara…tivemos um, eu era um garoto, mas era extremamente confortável, um pequeno luxo numa época dominada por fuscas