Próximo de deixar o litoral brasileiro e seguir para um estaleiro de reciclagem na Turquia, o antigo porta-aviões NAe São Paulo da Marinha do Brasil chamou a atenção do alto escalão naval turco.
Em vez de despedaçar o navio e vender suas partes como sucata, o contra-almirante Mustafa Cihat Yayci, ex-comandante da Marinha do Turquia, sugeriu “reequipá-lo para treinar os tripulantes dos futuros porta-aviões turcos” e que tal ação “economizaria tempo” na implantação desse tipo de embarcação no país, em entrevista ao jornal turco Aydinlik.
“Devemos definitivamente equipá-lo com diferentes sistemas que sejam válidos para nosso uso e iniciar o treinamento de pessoal de porta-aviões. É muito importante que o treinamento do pessoal do porta-aviões tenha sido iniciado hoje. Uma boa formação e conhecimento são necessários. Portanto, esses movimentos vão nos poupar tempo”, afirmou o oficial turco.
O contra-almirante Mustafa disse que a idade avançada do São Paulo, que completa 58 anos em 2021, não seria um empecilho no emprego do navio para funções de treinamento.
“Está não é uma questão muito importante. É necessário pensar nisso como um material de treinamento da forma de um quebra-cabeça, para desmontar, usar e vestir. O que é importante neste ponto é treinar o pessoal militar nesta plataforma, para ganhar hábito e experiência. Nas marinhas, são preparadas simulações de modo a proporcionar ‘treinamento virtual’, ou seja, treinamento visual, ao pessoal que trabalhará na cabine de comando”, disse o contra-almirante.
Continuando sua explanação, o almirante turco ainda sugeriu utilizar o convés de voo do porta-aviões brasileiro para testar sistemas de aeronaves não tripuladas e até caças russos Sukhoi Su-33, cotados para as forças armadas da Turquia. “Em suma, tornar o navio utilizável para treinamento em estado ocioso aumentará nosso conhecimento técnico.”
A Marinha da Turquia planeja construir um porta-aviões até o fim desta década. Por hora, a força naval turca opera o navio de assalto anfíbio TCG Anadolu, que pode ser empregado como porta-aviões leve e receber caças de pouso e decolagem vertical.
Apesar do entusiasmo nas palavras do almirante turco em relação ao destino do NAe São Paulo, a proposta que ele sugere dificilmente deve ir adiante. Além do enorme esforço para recuperar o barco, a Marinha da Turquia teria de negociar o barco com o Brasil e a França, que construiu o porta-aviões (ex-Foch) nos anos 1950 e tem a palavra final sobre a sua destinação.
Como o Airway adiantou em primeira mão, o porta-aviões São Paulo foi arrematado por R$ 10,5 milhões na primeira quinzena de março. A Marinha do Brasil ainda não se pronunciou sobre a venda do navio-aeródromo.
Conforme apuramos, o “casco” do porta-aviões foi adquirida pela empresa fluminense Cormack Marítima, que participou do leilão representando o estaleiro turco Sok Denizcilikve Tic. Segundo os termos da Marinha do Brasil sobre a alienação do barco, o comprador deve se comprometer a desmontá-lo de forma segura e ambientalmente adequada.
Maior navio de guerra do Brasil
Maior embarcação militar que serviu com a bandeira brasileira, o
navio-aeródromo São Paulo chegou às mãos da Marinha no ano 2000,
comprado da França por US$ 12 milhões durante o governo de Fernando
Henrique Cardoso. O navio foi o substituto do NAeL Minas Gerais,
que operou no Brasil entre 1960 e 2001.
Quando ainda estava ativo, o São Paulo era o porta-aviões mais antigo do mundo em operação. A embarcação foi lançada ao mar em 1960 e serviu com a marinha da França com o nome FS Foch, de 1963 até 2000. Sob a identidade francesa, o navio de 32,8 mil toneladas e 265 metros de comprimento atuou em frentes de combate na África, Oriente Médio e na Europa.
Com a Marinha do Brasil, no entanto, a embarcação teve uma carreira curta e bastante conturbada, marcada por uma série de problemas mecânicos e acidentes. Por esses percalços, o navio passou mais tempo parado do que navegando. Em fevereiro de 2017, após desistir de atualizar o porta-aviões, o comando naval decidiu desativar o NAe São Paulo em definitivo.
Segundo dados da marinha brasileira, o São Paulo permaneceu um total de 206 dias no mar, navegou por 54.024,6 milhas (85.334 km) e realizou 566 catapultagens de aeronaves. A principal aeronave operada na embarcação foi o caça naval AF-1, designação nacional para o McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, hoje operados a partir de bases terrestres.
O São Paulo podia ser transformado em porta-helicópteros, já que não precisa das catapultas e já possui um elevador que aguente o peso dos helicópteros.