A suspensão de entregas de aeronaves comerciais da Boeing determinada pelo governo da China provocou euforia no mercado de ações em relação à Embraer.
Na visão de analistas, a guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos pode beneficiar a fabricante dos jatos E1 e E2 no mercado chinês.
Sem a Boeing, restaria às companhias aéreas locais escolher entre a Airbus, a chinesa COMAC e a Embraer.
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A narrativa, no entanto, não encontra estofo por várias razões, a mais importante dela é que a China tem dependido cada vez menos de aeronaves da Boeing.

Desde a crise causada pelos dois acidentes com o 737 MAX entre 2018 e 2019, as empresas aéreas chinesas têm evitado os jatos da companhia.
O último pedido registrado é de 2021, antes mesmo que as relações entre EUA e China chegassem ao atual desgaste.
Por essa razão, hoje restam apenas 130 aeronaves pendentes de entrega para clientes chineses no carteira da Boeing.
São em sua maioria aeronaves 737 MAX, mas incluem também 21 widebodies 777X encomendados pela Cathay Pacific, de Hong Kong, que está um pouco fora do raio de ação do governo de Xi Jiping.
A COMAC já produz um substituto para o 737, o C919, que está em fase de expansão na produção. Faltam os widebodies, mas a única alternativa aqui é a Airbus ao menos por muitos anos até que o inédito C929 entre em serviço.

Disputa com jatos feitos em casa
Portanto, não há muito o que a Embraer possa oferecer como alternatva à Boeing. As únicas aeronaves que marginalmente competem são o 737 MAX 7 e o E195-E2, mas mesmo eles têm perfil diferente.
O Boeing leva mais passageiros e em distâncias maiores, mas tem um custo por assento mais alto. Em compensação, é equipado com motores Leap-1, similares aos do C919, enquanto os E2 usam o PW1000G GTF, que têm passado por uma crise de disponibilidade.

A briga da Embraer é mesmo com a fabricante estatal COMAC e, embora, a fabricante brasileira argumente que o E2 é um complemento perfeito para a dupla C909 (ARJ21, com 90 assentos) e C919 (164 lugares), não há pedido algum até hoje.
Assim como a Boeing, também a Embraer está na seca em relação a pedidos de empresas aéreas chinesas, a despeito da família E2 ser certificada pela CAAC, a autoridade de aviação do país.
Esse cenário pode mudar e a Embraer tem feito sua parte ao nomear um experiente executivo para liderar o escritório comercial da empresa na região, mas isso depende mais de longas negociações do que ser uma opção à Boeing.