Com a epidemia do novo coronavírus controlada na China, as atividades no estaleiro de Jiangnan, nos arredores de Xangai, estão voltando à normalidade e em ritmo acelerado. É lá que os chineses estão construindo dois novos porta-aviões, sendo que um deles deve ser lançado ao mar em 2021.
Duas fontes não identificadas consultadas pelo jornal South China Morning Post, de Hong Kong, disseram que a construção das embarcações foi apressada para compensar o tempo perdido durante a fase crítica do surto da Covid-19 no país.
O porta-aviões da classe “Type 002”, como é chamado no Ocidente, será o terceiro navio-aeródromo em serviço na China e o segundo fabricado inteiramente no país. De acordo com a primeira fonte citada pela publicação, os chineses iniciaram a processo final de montagem do barco.
“A montagem do novo porta-aviões recomeçou e deve ser concluída no primeiro semestre do próximo ano, porque a pandemia do Covid-19 desacelerou o progresso”, disse uma fonte ao jornal de Hong Kong.
A segunda fonte familiarizada com o assunto ouvida pela publicação contou que a construção do segundo porta-aviões Type 002 começou em 2018, mas o processo foi interrompido no ano passado por questões técnicas.
“A construção do segundo Type 002 será mais rápida que a primeiro, porque os trabalhadores aprenderam e superaram muitos problemas na construção do primeiro”, disse a fonte. “É um trabalho desafiador, porque o Typo 002 é o primeiro porta-aviões de design nacional do nosso país.”
A construção do primeiro porta-aviões “Made in China” começou no início de 2015. O barco será significativamente mais avançado que as outras duas embarcações desse tipo operadas pela marinha chinesa, os modelos Liaoning e Shandong, ambos projetados na Rússia, e que possuem conveses de voo com rampas de lançamento (ski-jump), em vez de catapultas. Mas isso também vai mudar com a chegada dos novos navios.
O principal avanço dos novos porta-aviões chineses será o sistema de catapultas de lançamento de aeronaves com sistema eletromagnético, em vez dos antigos lançadores movidos a vapor. Essa tecnologia é empregada atualmente na nova geração dos navios-aeródromos dos EUA, a classe Gerald R. Ford.
Seis porta-aviões até 2035
A China planeja construir pelo menos seis porta-aviões até 2035, incluindo modelos com propulsão nuclear, chamados “Type 003”.
“A tecnologia nuclear foi projetada para o quinto porta-aviões da China, que provavelmente será construído no estaleiro Dalian Shipbuilding”, disse o comentarista militar Liang Guoliang, referindo-se ao fabricante que construiu o navio Shandong, que é basicamente uma cópia do Liaoning.
A China comprou seu primeiro porta-aviões, o Liaoning, da Ucrânia em 1998 e passou oito anos reformando a embarcação, que não estava finalizada. O navio começou a ser construído na antiga União Soviética em 1985, mas o processo foi interrompido após o fim do regime comunista e o barco foi herdado pela marinha ucraniana, que não teve interesse em mantê-lo.
Por hora, o Liaoning é o único porta-aviões chinês plenamente operacional. Lançado ao mar no final de 2019, o Shandong deve alcançar o mesmo status no próximo ano.
Poder naval de classe mundial
A China vive um momento de enorme crescimento no meio militar e busca protagonismo no cenário mundial, sobretudo nos mares. Dezenas de embarcações de guerra vêm sendo finalizadas no país nos últimos anos em um dos maiores esforços da indústria bélica na história.
A marinha chinesa tem hoje em serviço cerca de 500 embarcações, incluindo submarinos convencionais e nucleares, convertas de última geração, navios anfíbios e uma frota crescente de porta-aviões.
O aumento do poderio naval chinês é uma mensagem clara para afastar os EUA e seus aliados da região do Pacífico. A frota americana, considerada ainda a mais avançada do mundo, também opera cerca de 500 embarcações (incluindo 11 porta-aviões), mas que começa a ter sua supremacia em números ameaçada pelos chineses.
A China se tornou primeira nação da Ásia que projetou e construiu um porta-aviões desde a Segunda Guerra Mundial. O último país da região que fabricou navios desse tipo foi o Japão.
Apontada como uma arma fundamental para projetar poder e dissuasão, porta-aviões também são questionados por seus altos custos ou mesmo por serem antiquados contra ataques com armas de última geração, como mísseis de cruzeiro ou ataques de submarinos. Ainda assim, é um símbolo importante militar e afugenta más intenções.
Atualmente apenas oito países possuem porta-aviões considerados ativos. São eles: EUA, França, Itália, Rússia, Espanha, Reino Unido, Índia, Tailândia e a China. O Marinha do Brasil fazia parte desse grupo até pouco tempo com o NAe São Paulo, descomissionado em 2018.
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