Diz um conhecido ditado no meio que para ser milionário na aviação basta ser bilionário. Um dos setores mais sensíveis aos rumos da economia e da concorrência, o transporte aéreo não costuma preservar algumas marcas conhecidas como ocorre em mercados como o automotivo ou de alimentação. Companhias aéreas surgem, ganham projeção, mas isso nem sempre é suficiente para mantê-las vivas. Até mesmo algumas exceções têm mais a ver com o apoio de seus governos, que optam por manter uma empresa aérea de bandeira que ver rivais estrangeiras assumirem seu mercado.
E nem isso é capaz de mantê-las saudáveis. Hoje vemos grupos multinacionais buscarem a redução de custo e o ganho de produtividade para sobreviver como é o caso da Air France-KLM e da TAM e a LAN, para citar apenas dois casos.
Mas nem sempre o desaparecimento de uma companhia aérea outrora imbatível foi causado por fatores externos. Houve quem abusasse da má gestão ou acabou engolido pelos rivais. Confira a seguir algumas companhias aéreas que viraram marcas do passado.
Sabena (1923-2001)
A Sabena é a prova que nem mesmo uma companhia internacional que representa um país é capaz de suportar a concorrência externa. A empresa belga dispunha de um terminal bem localizado na Europa, com várias conexões para cidades próximas e chegou a voar para o Brasil, mas nem isso foi capaz de mantê-la voando. Fundada em 1923, a Sabena faliu em 2001.
British Caledonian (1970-1988)
A companhia British Caledonian era uma concorrente privada à estatal British Airways (formada, por sua vez, por outras duas famosas empresas da década de 60, a BOAC e a BEA). Tinha o direito de voar para o Brasil até meados da década 80, porém, o governo britânico a uniu a BA para fortalecer a companhia principal do país.
Swissair (1931-2002)
Se enganou se pensa que a atual companhia aérea Swiss é a mesma Swissair de décadas atrás e que foi fundada em 1931. A empresa foi uma das mais tradicionais da Europa, mas sucumbiu no final de 2001. O governo suíço agiu rápido e recriou a empresa como Swiss, que foi vendida para a Lufthansa em 2005.
BOAC e BEA (1939-1974 e 1946-1974)
Ao contrário de empresas de bandeira como Air France ou a Alitalia, os ingleses possuíam duas grandes companhias aéreas no pós-guerra, a BEA (British European Airways) e a BOAC (British Overseas Air Corporation). Como seus nomes revelam, a primeira voava dentro da Europa enquanto a segunda operava em voos fora do continente. Em 1974, o governo britânico decidiu uni-las (além de outras empresas menores) para formar a British Airways, que foi estatal até 1987.
Pan Am (1927-1991)
Sem dúvida, a companhia aérea mais famosa da história, a mítica Pan Am foi criada em 1927 e dirigida por Juan Trippe, que a colocou em evidência mundial com os ‘Clippers’, hidroaviões que voavam por toda a América, incluindo o Brasil. A companhia aérea representava para aviação o mesmo que uma Coca-Cola ou McDonald´s, ou seja, a projeção dos Estados Unidos mundo afora. Apesar disso, como focava apenas nos voos internacionais, a empresa era pequena comparada às então nacionais American e United. Por isso, ela adquiriu a National Airlines para ter acesso ao gigantesco mercado doméstico norte-americano.
Mas o que parecia ser uma jogada de mestre acabou tornando-se o início do fim. Pressionada pelo crescimento das dívidas, ela decidiu vender suas rotas do Pacífico para United Airlines em 1986. Cinco anos depois, em 1991, a empresa declarou falência pondo fim a um período que se confundiu com a história da aviação comercial.
TWA (1925-2001)
A Trans World Airways foi a principal rival da Pan Am. Surgida dois antes que esta, a TWA foi comprada por ninguém menos que o magnata da aviação Howard Hughes, em 1939, que investiu em uma malha aérea internacional só superada pela Pan Am. Depois de um longo e problemático período em que trocou de mãos, perdeu rotas e teve um acidente grave (o voo 800, que explodiu no ar inexplicavelmente), a empresa faliu e seu espólio foi assumido pela American Airlines em 2001.
Braniff (1930-1982)
Embora não tão conhecida no exterior, a Braniff teve uma atuação muito focada na América Latina, tendo voado para o Brasil por vários anos, inclusive com seus 747SSP, versão mais curta e de longe alcance do Jumbo da Boeing. Após a desregulamentação da aviação comercial nos EUA, no final dos anos 70, a empresa acabou sendo uma das primeiras vítimas do aumento da concorrência, falindo em 1982. Tempos depois, seu nome foi usado em outras companhias, mas sem grande sucesso.
Eastern (1926-1991)
Ao contrário da Pan Am e da TWA, a Eastern era uma grande companhia aérea nacional nos EUA. Ela dominava o tráfego de passageiros entre a Florida e o Nordeste do país, mas, assim como outras empresas, sofreu com os altos custos e processos trabalhistas na década de 80. Acabou falindo na mesma época que a Pan Am, em 1991.
Continental (1937-2012)
Fundada no Texas em 1934, a Continental Airlines figurou entre as maiores companhias americanas. Tinha muitas operações concentradas no aeroporto de Newark, vizinho a Nova York. Seu destino, no entanto, foi menos triste que de algumas rivais: ela se fundiu a United Airlines em 2010. Na prática, a empresa ainda ‘existe’ na atual pintura da United, que usa o esquema da Continental.
Flying Tigers (1945-1989)
A companhia cargueira Flying Tigers emprestou o nome do conhecido esquadrão de aviões da 2ª Guerra que lutaram como voluntários. No auge da sua carreira, ela voou para quase 60 países, incluindo o Brasil como seus 747F. Acabou incoporada à Fedex em 1988.
Northwest (1934-2010)
Assim como ocorreu com a união Continental-United e American-US Airways, outra gigante americana desapareceu após ser absorvida por uma rival, no caso a Delta Air Lines. A Northwest existia de 1926 e era a principal conexão dos EUA com o Japão após a Segunda Guerra. Em 1986, assumiu a Republic Airlines e, com isso, passou a ter dois hubs no norte do país.
US Airways (1937-2015)
A USAir (mais tarde USAirways) foi a última das grandes companhias americanas a fazer parte de uma fusão. A American Airlines assumiu a empresa em outubro do ano passado tornando o grupo o maior do mundo.
Canadian Airlines (1987-2000)
A Canadian era uma companhia jovem, nascida em 1987, mas que ganhou presença internacional rapidamente, tendo operado voos para o Brasil na década de 90. Apesar de nova, a empresa logo sofreu com o aumento dos custos e acabou sendo incorporada à Air Canada, a maior empresa do país, em 2000.
Viasa (1960-1997)
Companhia oficial da Venezuela por vários anos, a Viasa surgiu em 1960 como empresa privada, sendo nacionalizada em 1975. Sem dinheiro, foi privatizada em 1991 ao ser comprada pela Iberia, mas acabou falindo em 1997.
Mexicana (1921-2000)
Uma das mais antigas companhias aéreas do mundo, fundada em 1921, a Mexicana acabou fechando suas portas em 2010. Durante seus tempos áureos, rivalizou diretamente com a Aeromexico, a maior empresa do país.
Lloyd Aereo Boliviano (1925-2008)
Outra antiga companhia do continente, a Lloyd Aéreo Boliviano foi criada em 1925 e tornou-se a companhia aérea de bandeira do país. Em 1995, teve seu controle passado para a Vasp, que mudou sua pintura para os padrões da companhia brasileira, e ampliou sua atuação no exterior. Sem dinheiro, a companhia fechou suas portas em 2007.
Cruzeiro do Sul (1927-1993)
Braço alemão do Sindicato Condor, a Cruzeiro ganhou o novo nome após a Segunda Guerra, com a derrota nazista. Foi uma das principais companhias brasileiras até ser adquirida pela Varig em 1975. Embora mantivesse sua frota e rotas, sobretudo para a América do Sul, a empresa desapareceu em 1993 ao ser totalmente absorvida pela Varig.
Transbrasil (1955-2001)
Braço aéreo da indústria alimentícia Sadia, a empresa nasceu para transportar os produtos Brasil afora. Em 1956, virou uma companhia aérea e teve seu auge entre a década de 1970 e 1980 quando mudou de nome para Transbrasil (1972) e trouxe para o país os primeiros Boeing 767 (1983). Operou voos charters com eles para a Florida numa época em que a Varig detinha o monopólio das linhas internacionais. Quando o privilégio acabou, a Transbrasil ampliou sua presença no mercado estrangeiro com seus coloridos aviões, mas não suportou a pressão da concorrência e faliu em 2001.
Vasp (1933-2005)
Criada por um grupo de empresários paulistas em 1933, a Vasp foi adquirida pelo governo paulista em 1935 que a repassou à iniciativa privada em 1991. O grupo Canhedo, então conhecido pelas emrpesas de ônibus, assumiu a Vasp com planos ambiciosos, porém, carregando muitas desconfianças quanto à saúde da empresa. Após um período agressivo de aquisições, novas aeronaves e rotas, a Vasp entrou em recuperação judicial em 2005, deixando de voar neste mesmo ano. Acabou tendo sua falência decretada em 2008.
Varig (1927-2006)
Mais famosa companhia aérea brasileira, a Varig nasceu em 1927 no Rio Grande do Sul e teve uma presença discreta até ser dirigida por Rubem Berta a partir de 1941. Seguiria se um período de crescimento sem igual e também de uma relação um tanto polêmica com governos que a escolheram para ser a única companhia aérea brasileira a operar para o exterior. A Varig acabou engolindo a Real Aerovias, então a maior das empresas brasileiras, em 1961, e, quatro anos depois, a Panair, cuja atuação no exterior era seu grande foco. Na década de 70, a empresa viveu seus melhores anos quando era considerada uma das melhores do mundo. Chegou a voar para quase todos os continentes, porém, na década de 90, com o crescimento da TAM e a desregulamentação do transporte aéreo no país, foi perdendo espaço para a concorrência, sobretudo por ter custos muito altos e um quadro de funcionários inchado.
Após vários anos no vermelho, a Varig acabou se desmanchando ao vender suas subsidiriárias VarigLog (carga) e VEM (manutenção). Numa manobra um tanto complexa, a empresa teve a parte podre separada da viável, criando-se a ‘nova Varig’ em 2006. Mesmo assim, o que restou da companhia acabou nas mãos da Gol meses depois. As cores da Varig ainda foram vistas em alguns aviões por um bom tempo antes de serem repintadas.
Panair (1929-1965)
A Panair foi uma das mais conhecidas empresas aéreas brasileiras, tendo surgido em 1929 e iniciado seus voos para Nova York logo em seguida. Ganhou o nome graças à compra pela Pan Am em 1930 e formou uma rede de rotas invejáveis logo após a 2ª Guerra. Numa atitude questionável, a governo brasileiro suspendeu seu certificado de operação em 1965, repassando suas rotas e aviões para a Varig e Cruzeiro.
Real Aerovias (1945-1961)
A Real foi uma empresa aérea de ascensão meteórica. Surgiu em 1945 em São Paulo e iniciou suas operações entre a cidade e a então capital federal, o Rio de Janeiro. Logo passou a comprar outras companhias menores e a voar para a América do Sul. Em 1954 assumiu a Aerovias Brasil e com isso chegou aos Estados Unidos. Chegou a ter uma das maiores frotas de aviões do mundo, com quase 120 aparelhos e voar para o Japão. Foi também a empresa que encomendou os primeiros Electras e Convair 990 que acabaram sendo recebidos pela Varig a partir de 1961 quando foi comprada por esta.
Sempre gostei de aviões… Qdo garotinho (morava em Pinheiros/SP – bairro rota de Congonhas) adorava a passagem do Caravelle que fazia trepidar as vidraças de casa… Scandia, Convair, Samurai, Dart Herald, etc. nomes que jamais sairão de minha mente…
A História da Aviação Comercial Brasileira, ainda não foi verdadeiramente contada. Panair do Brasil, pioneira em voos internacionais com seus famosos Constellation, simplesmente desapareceu, via um decreto militar que repassou seus direitos para a Varig. Até hoje as funcionárias e funcionários da Panair do Brasil estão literalmente a ver navios ao invés de aviões. E o mesmo aconteceu com a Varig. Que voou Varig sabe o que significava. Oficinas de Manutenção, Escola de Pilotagem. Desapareceu misteriosamente. Transbrasil um companhia que dava gosto de voar. Acabou nas mãos de um delegadinho de polícia. E temos então a empresa mais regional do Brasil, A Vaso, com seus 733 fazia acontecer. Irresponsavelmente acabou nas mãos do picareta Canhedo.
Eu fui estagiário de manutenção na Transbrasil no ano de 1993, foi uma experiência muito boa a paixão pela aviação continua mesmo não ter continuado nela.
Um abraço para os colegas da turma do PAMABE 1993 entrem em contato.
Romão Miranda Vidal está certíssimo. A história da aviação comercial no Brasil é cheia de lacunas mal explicadas. Segundo me disse um alto Oficial da FAB, emissários da VARIG convenceram o Brigadeiro Eduardo Gomes a acabar com Panair do Brasil.
Faltou também falar sobre a ATA – American Trans Air – Viajei com essa companhia para os EUA em 1996, num modelo DC-10, que era muito utilizada por esta companhia. Fiz um pesquisa na Wikipedia e vi que ela também encerrou suas atividades, fazia muitos voos entre Brasil e EUA.
Abraço
Ótima reportagem. Meu pai trabalhou a vida inteira para duas companhias: a Braniff, entre 1964 e 1982, e a Flying Tigers, entre 1983 e 1984, aposentando-se em seguida. Tenho generosas lembranças principalmente da Braniff, com seus aviões de várias cores (“Flying Colors”) e seus bancos de couro já naquela época, final dos anos 70. Parabéns !
meu avô era comandante da Panair do Brasil, lembro-me das excelentes histórias que ele contava com lágrimas nos olhos, pobre Brasil rico!!!
Faltou também a LAP – Linhas Aereas Paraguayas, que foi absorvida pela TAM em 1996.
O ditado em questão sobre como ser um milionário é de autoria do Sir Richard Branson dono do grupo Virgin, controladora da Virgin Records, Virgin Atlantic, Virgin Galatic, entre outras.
Esqueceu também da Equatoriana de Aviacion e da Anset Australia.