Associações de Defesa acusam a Boeing de cooptar sistematicamente engenheiros brasileiros

Ação civil pública promovida pela ABIMDE e a AIAB acusa a Boeing de contratar sistematicamente professionais de empresas de defesa e segurança estratégicas do Brasil
Boeing 787
Empresas estratégicas como Embraer, Akaer e Avibras vêm sendo afetadas pela Boeing (Boeing)

Entidades que representam o setor de Defesa e Segurança do Brasil, a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defensa e Segurança (ABIMDE) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), entraram na Justiça contra a Boeing, que é acusada de comprometer a soberania nacional.

A ação civil pública de autoria das associações, que tramita na 3ª Vara Federal de São José dos Campos (SP), aponta que a companhia norte-americana vem contratando de forma sistemática engenheiros de empresas que compõem a Base Industrial de Defesa (BID) do Brasil. Em comunicado, as entidades afirmam que a cooptação desses profissionais “coloca em risco a sobrevivência dessas empresas e, sobretudo, ameaça a soberania nacional, um dos fundamentos da Constituição Federal”.

De acordo com o presidente da Abimde, Roberto Gallo, o impacto causado pela Boeing na indústria de defesa brasileira já é expressivo. “Dez das mais importantes empresas estratégicas do setor de defesa já tiveram engenheiros cooptados pela Boeing. Algumas perderam cerca de 70% da equipe de áreas específicas e essenciais para o negócio”.

As associações afirmam que o avanço da Boeing na contratação de profissionais de empresas do BID coloca em risco a autonomia do Estado brasileiro na área de Defesa e Segurança, que tem como objetivo a constante atualização das tecnologias da Forças Armadas Brasileiras.

Os profissionais que têm sido cooptados pela Boeing, segundo as entidades, vêm principalmente do segmento aeroespacial. O alvo preferido da empresa americana são engenheiros altamente qualificados, formados em instituições públicas (como ITA, UFMG e UFSCar) e com mais de 10 anos de experiência no setor. O grupo também demonstra preocupação com o fato desses especialistas deterem conhecimento de informações qualificadas sobre projetos estratégicos para o país.

Conforme destaca a ação civil pública, todas as empresas mais relevantes do setor de defesa aeroespacial nacional já perderam ou vêm perdendo profissionais para a fabricante norte-americana, como Embraer, Akaer, Avibras, AEL Sistemas, entre outras.

O caso específico da Embraer é mais preocupante, ressaltam as entidades. A preocupação recai em relação a Boeing ter em mãos informações proprietárias da fabricante brasileira, obtidas entre entre 2018 e 2020. Nesse período, as companhias negociavam a formação de uma joint venture. Entretanto, dias antes de o acordo ser selado, a empresa dos EUA rescindiu o acordo de maneira unilateral.

“A AIAB defende a livre concorrência e o livre mercado. Mas tais princípios não são absolutos. Devem sujeitar-se a imperativos constitucionais como a soberania nacional, conforme estabelecido no artigo 170 de nossa constituição. O que está em jogo, portanto, é algo muito maior do que quaisquer interesses individuais ou coletivos”, afirma Julio Shidara, presidente da associação.

Shidara ainda acrescentou que o objetivo do ação civil pública é interromper as contratações sistemáticas da Boeing e propôs a discussão de alternativas para garantir a preservação da soberania nacional. “Em décadas de existência, a BID nunca enfrentou uma situação como a que estamos vivendo. Não construímos nossa capacidade atual da noite para o dia. Foram décadas de esforço coletivo nacional e vultosos investimentos públicos e privados. Não podemos permitir uma degradação acelerada como os fatos têm demonstrado.”

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4 comments
  1. Marcelo, você está cobrando patriotismo? Já se esqueceu do que aconteceu do dia 02 do mês passado para cá? Onde estava o patriotismo das instituíções e da população?

  2. Lei da oferta demanda, simples assim. Se são empresas privadas que compitam oferecendo melhores condições de trabalho. É hora de parar com a esquizofrenia, ou aceitem que empresas como a Embraer e Petrobras são públicas, ou deixem o mercado se virar.

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