No último sábado (26), o Boeing 737-800 com matrícula PR-GXP da Gol Linhas Aéreas sofreu uma pane no motor esquerdo no momento em que se preparava para decolar do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP), rumo ao Santos Dumont, no Rio de Janeiro (RJ). Imagens registradas pelo canal Golf Oscar Romeo no YouTube, nos arredores do terminal paulistano, mostraram que a aeronave parou na pista ainda nos primeiros metros da corrida de aceleração, depois de lançar um rastro de fumaça e detritos.
Em nota, a Infraero informou que “ao dar potência no motor no momento da decolagem, a turbina (do motor da aeronave da Gol) se desintegrou gerando grande quantidade de material na pista”. Por conta dos detritos espalhados no aeródromo, as operações em Congonhas ficaram suspensas entre 9h49 e 11h28 do sábado, período em que foi realizado uma limpeza minuciosa do trecho.
A pane ocorrida com o avião da Gol foi um incidente conhecido como “despalhetamento do motor”. É um problema que ocorre quando as palhetas (ou lâminas) das turbinas do motor turbofan se desprendem do eixo, resultando em seu desligamento.
Consultado pelo AIRWAY, Annibal Hatem Junior, professor de engenharia aeroespacial da Universidade Federal do ABC (UFABC), explicou que “os motores à jato tem na sua parte dianteira o compressor, cuja função é aumentar a pressão do ar na entrada. O compressor está no mesmo eixo da turbina e é composto por várias palhetas com perfis de asa. O ‘despalhetamento’ é o nome que se dá quando essas peças se soltam”.
De acordo com o especialista da UFABC, o despalhetamento ocorre principalmente por fator “explosivo ou colisão com ave”. A Gol, porém, não informou o que motivou a pane no motor de sua aeronave.
Hatem Junior ainda acrescentou que o incidente de despalhetamento de motor acontece na maioria dos casos com a aeronave em solo, mas ele também pode ocorrer em voo. “É mais raro, pois quando a aeronave está em voo, o motor já saiu do estado parado para a rotação de regime. Na pista, durante a aceleração para atingir a rotação, que deve máxima na decolagem, é quando a situação é mais crítica.”
Falhas contidas de motor
Incidentes em que partes internas de um turbofan se desprendem são previstas em regulamentos de aviação. Segundo as agências civis, as fabricantes precisam conter os componentes para evitar danos mais graves à aeronave ou mesmo ao entorno. Um caso recente bastante impressionante envolveu um Boeing 777-200 da United Airlines, equipado com o turbofan PW 4000. Em fevereiro de 2021, após decolar de Denver para Honolulu, nos EUA, o jato widebody sofreu uma falha contida no motor direito que destruíram parte da carenagem do turbofan, espalhando detritos por uma grande aérea.
Apesar da gravidade do ocorrido, os pilotos conseguiram pousar de volta no Aeroporto Internacional de Denver com segurança. Após o problema, as companhias aéreas que possuíam o 777 com motor Pratt & Whitney suspenderam temporariamente a operação com eles enquanto o caso era investigado.
O NTSB, órgão norte-americano de segurança nos transportes, e a fabricante dos motores ainda não concluíram a análise do caso, mas localizaram trincas em algumas pás que motivaram reviões em unidades semelhantes.