Próximo “X-Plane” da NASA, o avião de pesquisas X-59 Quiet SuperSonic Technology (QueSST) começou a tomar forma. Em uma atualização recente, a agência espacial dos EUA informou que alcançou a “metade do caminho” no processo de construção da aeronave, apesar das dificuldades no projeto em função da pandemia do novo coronavírus.
O protótipo será utilizado para avaliar voos em velocidades supersônicas com baixo impacto sonoro, a principal exigência para o retorno desse tipo de aeronave ao transporte de passageiros – e que era um dos pontos fracos do icônico Concorde. No comunicado, a NASA diz que pode concluir o avião até o final deste ano, a tempo de realizar o primeiro voo em 2022.
“Usando nossa aeronave de pesquisa X-59 QueSST, forneceremos aos formuladores de regras os dados necessários para suspender as proibições atuais de viagens aéreas mais rápidas do que o som em terra e ajudar a habilitar uma nova geração de aeronaves supersônicas comerciais”, acrescentou a agência, se referindo a proibição dos voos supersônicos na região continental dos EUA imposta ainda nos anos de carreira do Concorde – e um dos fatores para sua aposentaria precoce em 2003.
A aeronave está sendo construída em Palmdale, na Califórnia, na sede da Skunk Works, a divisão de projetos avançados da Lockheed Martin, parceira da NASA no projeto QueSST.
“Concluímos a maior parte do trabalho na asa e fechamos seu interior, marcando a metade do caminho para a construção da aeronave. A equipe X-59 da Lockheed Martin completou os toques finais prendendo as películas na asa. Um selante especial é aplicado para que o combustível possa ser transportado nas asas da aeronave”, explicou a agência norte-americana.
Outro avanço no projeto destacado pela NASA foi a entrega do motor F414-GE-100, fornecido pela General Eletric, que irá equipar o X-59. Versões diferentes desse propulsor são utilizadas, por exemplo, nos caças Boeing F/A-18 Super Hornet e no Saab Gripen E/F.
Nos próximos meses, a equipe de construção vai fundir todas as seções de fuselagem do X-59 e as asas. Após a montagem final, o X-59 passará por vários testes para garantir a integridade estrutural da aeronave e que seus componentes funcionem corretamente, informou a NASA.
Fim da barulheira
O alto nível de ruído foi um elementos complicadores na carreira do Concorde. O “Sonic Boom” (Estrondo sônico), ondas de choque criadas por aviões viajando acima da velocidade do som, podem incomodar pelo barulho e também pelo risco de causar danos materiais em regiões habitadas, como deixar um rastro de vidraças quebradas. Por conta disso, o antigo jato comercial não era autorizado a realizar voos supersônicos em regiões continentais, podendo acelerar ao máximo apenas em voos sobre o mar.
Desenvolver tecnologias capazes de eliminarem ou talvez reduzirem o efeito do Sonic Boom a níveis mais seguros são essenciais para trazer os jatos supersônicos de volta ao transporte de passageiros. O Concorde foi o último avião comercial supersônico, operado entre 1976 e 2003. Seu concorrente foi o Tupolev Tu-144, que teve um carreira curta e fez pouco sucesso.
“Cada elemento da aeronave ajudará a reduzir o estrondo sônico elevado, normalmente produzido por aeronaves supersônicas convencionais, a um baque sônico suave, tornando-o mais silencioso para as pessoas no solo”, afirma a NASA.
Para provar que a tecnologia silenciosa funciona, a NASA vai testar o X-59 sobre comunidades selecionadas nos EUA para avaliar a resposta do público ao som. De acordo com a agência, essa fase de testes está programada para começar em 2024.
X-Planes
Como o próprio nome do avião já diz, o X-59 QueSST é o 59° projeto da série de aeronaves e foguetes experimentais dos EUA, usados para testar e avaliar novos tecnologias e conceitos aerodinâmicos (embora nem todos tenham voado).
Os projetos X foram iniciadas pela antiga agência NACA (Comitê Consultivo Nacional de Aeronáutica), depois sucedida pela NASA, em parceria com a força aérea dos EUA. O pioneiro do programa foi o Bell X-1, o primeiro avião a romper a barreira do som em 1947.
A longa lista de “X-Planes” da NASA inclui projetos dos mais variados tipos, desde aeronaves supervelozes, como o icônico X-15, até o hoje o avião mais rápido da história, e os veículos espaciais X-38 e X-40. Além do novo jato supersônico, outro programa em andamento na agência é o X-57, um protótipo de avião totalmente elétrico projetado para avaliar a aplicação de motores elétricos na aviação comercial.
A missão do QueSST agora é corrigir a falha que o X-1 deixou há mais de 70 anos. Segundo dados da NASA, o X-59 poderá a voar a mais de Mach 1.4 (cerca de 1.500 km/h) a 16,800 metros (55 mil pés) de altitude. E sem incomodar ninguém nem quebrar nada pelo caminho.
A NASA prevê que a aeronave vai criar um estrondo sônico de 75 decibéis no solo, algo como o barulho de uma porta batendo. O Concorde, como comparação, gerava 110 dB. Os principais artifícios no protótipo para reduzir o nível de ruído são a entrada de ar do motor montada na parte superior da fuselagem e os canards, pequenas asas localizadas à frente da asa principal.
As lições aprendidas no X-59 podem abrir o caminho para uma nova geração de aviões comerciais supersônicos mais seguros e até certo modo acessíveis. Essas são algumas das promessas da Boom Supersonic e a Aerion, empresas que planejam lançar jatos comerciais supersônicos até o final da próxima década.
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