Você sabia que um avião comercial consome enormes quantidades de eletricidade? Além do impulso para o voo, os motores a jato também geram energia elétrica, fundamental para manter em funcionamento os mais diversos equipamentos e sistemas de controle da aeronave.
Como no motor de um automóvel, o avião também possui uma espécie de “alternador”, porém muito mais sofisticado e potente. O equipamento é como um grande dínamo com uma complexa transmissão que vai acoplada aos motores. Além desse recurso, aeronaves modernas ainda têm a APU (Unidade de Energia Auxiliar), um pequeno propulsor a jato, geralmente na cauda do aeronave, e baterias independentes para cada item eletrônico.
A chance de todos esses equipamentos falharem ao mesmo tempo e o avião ficar sem eletricidade é muito pequena, mas ela pode acontecer. Nesses casos, a tripulação ainda tem um último recurso: o RAT (Ram Air Turbine), uma “Turbina de Ar” que funciona da mesma forma que um gerador eólico, com uma hélice.
“O RAT é acionado no caso de ‘panes em cascata’. Para um avião comercial ficar totalmente sem energia elétrica, é preciso que falhem os geradores dos motores, a APU e as baterias. É raríssimo de acontecer. Em todo caso, ainda é necessário um último recurso”, explicou Jose Farat, engenheiro elétrico aeronáutico e diretor do comitê Aeroespacial da SAE BRASIL, ao Airway.
O RAT fica “escondido” na fuselagem do avião ou então em partes das asas. Quando é acionado, o equipamento é expulso do compartimento e imediatamente sua hélice começa a girar, de acordo com a velocidade da aeronave, restabelecendo a energia para os sistemas elétricos. “Quando acionado, o RAT gera a energia necessária para a tripulação manter o controle dos sistemas da aeronave e pousar com segurança”, explica Farat.
“O RAT é importante durante uma emergência para manter funcionando os sistemas elétricos de controle de voo e comandos hidráulicos da aeronave, que são considerados os pontos mais críticos. Pode ser acionado pelo piloto ou então automaticamente, se o computador de bordo detectar a falta de energia”, contou Marcelo Marcussu gerente de flight standards e treinamento da Latam e comandante de Airbus A320.
Na maioria dos aviões comerciais modernos, a turbina de emergência é acionada automaticamente no caso de falha total nos sistemas elétricos. Mas o equipamento está longe de ser novidade: um dos primeiros exemplos da aplicação dessa tecnologia foi no caça alemão Me-163 Komet, ainda na Segunda Guerra Mundial, mas como equipamento padrão para gerar eletricidade, e não somente para situações de perigo.
Onde fica?
Cada avião possui o RAT em uma posição específica. Os jatos da Embraer, por exemplo, geralmente levam o equipamento em posições próximas ao nariz. Já os Airbus, como os modelos da família A320, escondem o gerador de emergência na “barriga”. Já o Boeing 737 é um dos poucos aviões comerciais com motor a jato que não possui esse item.
“O RAT é muito importante para aviões com comandos de voo fly-by-wire, que precisam de eletricidade para funcionar, caso as baterias também deixem de funcionar”, conta o diretor da SAE.
O Airbus A380, o maior avião de passageiros da atualidade, também é o dono do maior RAT da aviação. Se a aeronave tiver um pane total no sistema elétrico, salta da asa esquerda um enorme gerador com uma hélice de duas pás, cada uma com 1,63 metro de comprimento.
O RAT não é um equipamento obrigatório na aviação, mas é recomendado em projetos de aeronaves modernas, que possuem diversos equipamentos eletrônicos importantes para o voo e segurança. Aeronaves militares, como caças, também contam com esse recurso.
“Se a aeronave apresentar problemas na geração de eletricidade, é preciso desligar algumas funções que não são essenciais para o voo. No caso do acionamento da RAT, o que pode acontecer é o corte de energia nas galleys, os sistemas de entretenimento e até a luz na cabine. Mas na parte do voo não se sente nenhuma diferença”, detalha Marcussu.
A UTC Aerospace Systems, um dos principais fornecedores de RATs para aviação comercial, afirma que o equipamento já teve atuação crucial, desde a década de 1960, em pelo menos 16 incidentes de pane elétrica total, salvando mais de 1.700 vidas.
“Em projetos aeronáuticos, a confiabilidade não pode ser depositada em apenas um equipamento. No caso da parte de geração de eletricidade, a aeronave possui uma série de recursos com até tripla redundância”, finalizou Farat.
Veja mais: A difícil vida do trem de pouso
Graças a esse acessório o voo 143 conseguiu pousar
Planador de Gimli é o apelido de uma aeronave da Air Canada que se envolveu em um bizarro acidente aéreo. Em 23 de julho de 1983, um jato Boeing 767-200, cumprindo o voo 143 da Air Canada, ficou totalmente sem combustível a 41 mil pés de altitude (12.500 metros), aproximadamente na metade do caminho entre Montreal e Edmonton. A tripulação conseguiu pousar o avião em segurança no Aeroparque Industrial de Gimli, uma antiga base aérea em Gimli, Manitoba.
https://www.youtube.com/watch?v=6UuDr8_TTG8
Minha nossa, não acredito que li Engenheiro elétrico… fora isso, matéria nota 10! 😀
O RAT pode gerar não só energia elétrica mas hidráulica também. Há RAT que gira um gerador elétrico, uma bomba hidráulica ou ambos. No 767 por exemplo o RAT gira apenas uma bomba hidráulica, sendo o sistema elétrico suprido por baterias em caso de falha de todos os geradores.
Uma correção minha. A energia elétrica no 767 em caso de falha dos motores por exemplo, vem de um gerador elétrico que é movido pela energia hidráulica oriunda da bomba conectada no RAT.
Bom dia. Cheguei até esta matéria porque estranhei o fato de o avião que se acidentou com o time do Chapecoense ter ficado com pane elétrica, provavelmente em virtude de ” pane seca ” .
Então pensei ” Não haveria um sistema elétrico de emergência ? ” Na minha opinião, coisa tão elementar (sou técnico em eletrônica ) ” .. Concluo que a aeronave acima referida não teria o tal sistema, infelizmente . Ou na hora da pane não deu tempo de o piloto acionar o sistema manualmente, caso haja falhado o automático.
A combinação do RAT com um comandante treinado em planador salvou muitas vidas num B767 com pane seca que pousou num campo de pouso abandonado tempos atrás nos EUA.