No dia 30 de março, antes até mesmo do que se esperava, a American Airlines realizou o último voo comercial com um Boeing 767 ao repatriar cidadãos americanos no Peru. Um dia antes, um domingo, a KLM e a Qantas utilizaram pela última vez seus Boeing 747, que acabavam de cumprir os voos Cidade do México-Amsterdam e Santiago do Chile-Sydney.
Em comum, esses aeronaves mais idosas acabaram sendo descartadas antes da hora pelo coronavírus. A pandemia, que afeta sobretudo pessoas acima de 60 anos, também tem antecipado o fim dos voos com jatos menos eficientes. Esse movimento já estava em curso, mas acabou acelerado diante da perspectiva de um retorno gradual do tráfego aéreo nos próximos meses e anos.
Nesse cenário, a maior parte das companhias aéreas está reduzindo sua frota, mantendo apenas aviões mais econômicos e modernos. A própria American Airlines já admitiu internamente que, além dos 17 767-300, irá retirar de serviço todos os seus 757 remanescentes, e também nove A330-300, 20 Embraer E190 e 76 Boeing 737-800NG com mais horas de voo.
Outra companhia aérea dos EUA, a Delta Air Lines cogita tirar de circulação seus MD-88 e MD-90, “pau para toda obra” dos quais restam 73 unidades ativas. Já a United, embora ainda não tenha decidido reduzir sua frota acreditando que precisará dela quando a situação melhorar, admitiu pela primeira vez que seus 757 e 767 podem ser sacados de serviço, até mesmo aeronaves recentemente reformadas.
Quadrirreatores aterrados
Em outros países, a vítima preferencial do vírus são os jatos de quatro motores, que já estão em desuso. Além da KLM e Qantas, a Virgin Atlantic voltou atrás na intenção de manter o A340-600 operacional até o final do ano e retirou os três aviões restantes da frota.
A própria British Airways, que acaba de suspender a maior parte dos seus 36 mil funcionários, enviou para a Espanha cinco de seus 747-400 nos últimos dias, embora não tenha confirmado o fim de operação do modelo. O grupo IAG, que controla não só a companhia aérea britânica, como a Iberia, admitiu que 31 Jumbos e 16 A340-600 estão bastante depreciados e podem ser os primeiros a sair de cena. “Nossa análise da provável evolução da demanda até 2020 é que não será preciso que todos os aviões parados voltem a operar, por isso estamos avaliando quais acabarão fora de serviço de forma definitiva”, afirmou Willie Walsh, CEO do IAG.
A grande dúvida, no entanto, reside no futuro do A380. O maior jato comercial da história já iniciou um processo de aposentadoria precoce, mas por enquanto companhias aéreas como Lufthansa, Emirates e Korean apenas encostarem suas aeronaves à espera de um cenário melhor.
E no Brasil?
Entre as companhias aéreas brasileiras, já existia um movimento de renovação acelerado, sobretudo na Azul e Gol. A primeira repassou seus 53 jatos E195 para a LOT e a nova companhia aérea de David Neeleman, a Moxy. Com isso abrirá espaço para a chegada de mais E195-E2 além da frota crescente do A320neo. Já a empresa da família Constantino havia decidido retirar de serviço seus 737NG antes do previsto para receber o 737 Max, porém, o aterramento do jato postergou esses planos. Agora, a companhia aérea tem devolvido unidades alugadas temporariamente enquanto espera que o mercado de aviação volte à normalidade.
A Latam, por sua vez, possui a frota mais antiga das três e opera com aviões menos eficientes. Porém, até o momento não há um posicionamento claro se ela aproveitará para tirar de circulação esses jatos. Atualmente, os A319 são suas aeronaves com a média mais antiga de idade, de 12 anos, seguidos dos A320 e do Boeing 777-300ER, com nove anos de uso.
A perspectiva de que a economia mundial vá demorar muito tempo para voltar ao normal ameaça a viabilidade de manter esses caros aviões ativos e não será surpresa se boa parte deles acabar nunca mais voltando a voar – ao menos com passageiros.
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Com a aposentadoria dos aviões, o que resta para quem os tripulou?