As forças armadas do Azerbaijão estão operando antigos biplanos Antonov An-2 “não tripulados” como iscas para localizar sistemas de defesa aérea e posições de artilharia da Armênia no conflito travado entre os dois países na região de Nagorno-Karabakh.
As aeronaves, que são irremediavelmente obsoletas para a guerra moderna, parecem estar voando para a morte certa, mas provavelmente há um jogo inteligente por trás dessa estratégia do Azerbaijão.
De acordo com relatos da imprensa russa, os biplanos voam em direção às posições armênias, forçando suas tropas terrestres a abrir fogo, expondo-as aos ataques azeris de drones e artilharia. Imagens captadas nas áreas de conflito mostram os An-2 sendo facilmente abatidos por mísseis, sem esboçar qualquer manobra de evasão.
Autoridades armênias afirmaram terem derrubado aos menos seis An-2 nas últimas duas semanas na zona de conflito. No entanto, nenhum corpo foi encontrado próximo aos destroços dos aviões abatidos, levando à suspeita de que as aeronaves pudessem estar sem tripulação.
Suspeita-se que os pilotos dos An-2 saltam de paraquedas logo após apontar o avião para posições armênias com os controles presos com cintos para garantir que ele mantenha o curso.
Em um dos locais onde caiu um An-2 também foi encontrada uma bomba não detonada. É provável que, embora essas aeronaves sejam enviadas em missões suicidas de reconhecimento, elas ainda pretendem causar danos.
Imagens recentes captadas por satélites sugerem que a força aérea do Azerbaijão tenha um número significativo de biplanos An-2 estacionado no aeroporto de Yevlax, próximo a região de Nagorno-Karabakh.
Enquanto o conflito não cessa, o Azerbaijão possivelmente deve continuar usando seus An-2 como chamarizes de mísseis armênios. A perda desses aviões para ex-república soviética tem pouco significado, uma vez que são aviões decisivamente obsoletos.
Relíquia soviética
Primeiro avião de sucesso projetado pelo ucraniano Oleg Antonov, o biplano multifunção An-2 nasceu para atuar na reconstrução da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. O voo inaugural do avião foi realizado em 31 de agosto de 1947 e ele não parou mais.
Com funções civis e militares, o An-2 foi projetado para operar em condições precárias pelo vasto território da antiga URSS. É avião simples e com desempenho modesto, mas com incríveis capacidades em pistas curtas (ou espaços improvisados como pistas) e extremamente robusto. O monomotor pode pousar e decolar com peso máximo (5.500 kg) em pistas com menos de 200 metros de comprimento.
A performance especial do An-2 em pistas curtas é resultado da grande sustentação gerada pelas duas asas. A velocidade de estol (quando a aeronave perde a sustentação) do biplano é de baixíssimos 50 km/h. Mesmo com carga máxima, o antigo Antonov decola quando alcança a faixa dos 80 km/h.
Com mais de 20 mil unidades produzidas entre 1947 e 2001, o An-2 continua disponível em muitos países voando em forças militares no mundo todo e na aviação geral. O avião pioneiro da Antonov também segue como um importante avião agrícola em serviço com dezenas de empresas do setor na Rússia.
Um dos projetos mais longevos da aviação, o An-2 acompanhou as evoluções tecnológicas nos últimos 70 anos. Algumas versões foram equipadas com motores turboélice e uma proposta mais recente testou o uso de winglets no biplano.
Com milhares de exemplares em serviço no mundo todo, os An-2 ainda vão continuar voando por muitos anos, quem sabe até depois do centenário do primeiro voo do clássico biplano criado pela Antonov.
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