O advento da chamada Mobilidade Aérea Urbana (sigla UAM em inglês) tem feito o setor aéreo virar de cabeça para baixo. Se antes era possível dividir os segmentos em aviação geral, executiva e comercial (para não entrar em outras searas como militar), os eVTOLs, aeronaves 100% elétricas de decolagem e pouso vertical, criaram um novo horizonte para o transporte pelo ar ao propor ligações rápidas, baratas e sustentáveis.
Não é à toa que temos sido bombardeados por anúncios seriados de aquisições e compromissos de compras desse tipo de avião e envolvendo fabricantes que pouca gente conhece. No Brasil, a Embraer tem sido um dos expoentes dessa nova tendência graças à Eve, sua subsidiária dedicada a lançar um veículo aéreo elétrico urbano.
Mas até as companhias aéreas nacionais já se mexem para preparar o caminho para a aviação elétrica. A Gol e a Azul saíram na frente e anunciaram acordos com as fabricantes Vertical Aerospace e a Lilium.
Na sexta-feira passada, no entanto, a companhia fundada por David Neeleman deu um passo além ao anunciar a investidores que pretende adquirir ações da Lilium, uma startup que surgiu na Alemanha em 2015.
Propulsão a “jato”
Por meio de um fato relevante, a empresa aérea revelou ter fechado um acordo de garantia que prevê assumir 1,8 milhão de ações da Lilium no valor total de 216 mil euros, perto de R$ 1,4 milhão. Ou seja, uma participação em tese bastante modesta, mas que pode ser apenas a ponta do iceberg para futuros aportes, como o próprio comunicado deixa no ar.
A Azul e a Lilium estabeleceram uma parceria que envolve exclusividade no fornecimento da solução de mobilidade aérea sustentável. A escolha da aeronave da empresa alemã decorre do maior alcance e capacidade, que permitirá ligações de média distância em vez de deslocamentos dentro de áreas urbanas.
A aeronave da Lilium difere da maior parte dos eVTOLs por utilizar uma solução curiosa, chamada por ela de ‘jato’. Tratam-se de 36 mini-fans carenados dispostos sobre as asas e os canards. Graças a isso, o modelo pode levar seis passageiros em distâncias de mais de 250 km a uma velocidade de cruzeiro 280 km/h.
Outra vantagem do conceito é o pequeno espaço ocupado. A aeronave tem envergadura de 14 metros e comprimento de 8,5 metros. Outros eVTOLs que fazem uso de rotores convencionais acabam exigindo uma área muito maior para pousos e decolagens.
É cedo para pensar como esse mercado promissor será dentro de quatro ou cinco anos, quando a maior parte dos projetos deverá entrar em operação, mas a jogada da Azul indica que é preciso estar atento para muitas possibilidades no futuro, incluindo, quem sabe, fazer parte de uma fábrica de aviões elétricos.