A carreira do pouco conhecido Convair B-58 Hustler foi magnífica, mas breve. Numa época em que a maior parte dos bombardeiros nucleares atingia somente velocidades subsônicas, o B-58 surgiu com uma capacidade de voar duas vezes mais rápido que o som, a 2.230 km/h, a grande altitude.
Nenhum outro avião de combate no mundo reunia um número tão grande de características avançadas e nenhum caça tinha possibilidades reais de impedir o Hustler, que podia penetrar nas defesas aéreas de um país em altíssima velocidade e atacar seu objetivo. Se a Guerra Fria tivesse de fato eclodido, a União Soviética dificilmente conseguiria abater o B-58 na missão para a qual havia sido concebido: lançar armas nucleares.
Como se mostrou durante o final dos anos 1940 e durante a década de 1950, a missão de bombardeio só seria efetiva com aeronaves capazes de voar a grandes velocidades e altitudes. Os primeiros caças com motores a jato estavam surgindo, assim como os mísseis orientados por calor e radar, exigindo uma série de novas estratégias e meios de ataque.
A grande velocidade do Hustler era possível graças à sua fina asa em formato delta, aos potentes motores J79, os mais potentes desse tempo, e ao seu desenho avançado, com as armas escondidas em um casulo na fuselagem.
O B-58 era uma maravilha tecnológica mesmo do ponto de vista dos homens que o pilotavam. Os três tripulantes acomodavam-se em tandem (um atrás do outro), como nos aviões de caça, mas ocupavam cápsulas de escape em vez de simples assentos ejetáveis, uma das muitas inovações deste bombardeiro.
Desenvolvimento e altos custos
Após ser projetado em completo sigilo, o primeiro protótipo da aeronave, o “XB-58”, saiu da fábrica da Convair, em Fort Worth, no Texas, em 31 de agosto de 1956 e pela primeira vez o mundo viu sua extravagante silhueta. A fabricante já havia adquirido experiência sobre asas delta com o caça F-102 Delta Dagger e o avião experimental XF-92A, e por isso era a empresa melhor gabaritada nos EUA para assumir o projeto.
O protótipo do B-58 voou pela primeira vez em 11 de novembro de 1956 e um mês depois torna-se-ia o primeiro bombardeiro da história a superar Mach 1, a velocidade do som.
Mesmo nos anos da Guerra Fria, quando não havia limite de gastos, o treinamento das tripulações ultrapassou o orçamento para a defesa, algo até então impensável devidos aos grandes volumes de dinheiro destinados a causa militar nos EUA na época da Guerra Fria.
O Strategic Air Command (SAC), divisão da Força Aérea dos EUA (USAF) que iria operar os B-58, calculou que a hora de voo do novo avião custava o quadruplo da de um Boeing B-47 Stratojet, bombardeiro que antecedeu o Hustler.
Os quatro turborreatores General Eletric J79, cada um com 7.076 kg de empuxo com pós-combustor, eram considerados os mais eficientes e impressionantes motores da década de 1950, mas eram extremamente ruidosos e caríssimos de manter.
O Hustler emitia um ruído ensurdecedor durante a decolagem e, por conta da asa delta, precisava rolar a mais de 400 km/h na pista para conseguir decolar. A aproximação para o pouso também era realizada em alta velocidade, por isso logo após tocar o solo paraquedas de frenagem eram acionados para ajudar a parar o avião.
Durante o estabelecimento de um importante recorde de altitude, um B-58 carregando 5.000 kg de bombas alcançou 26.081 metros de altitude (quase três vezes mais que um avião comercial). A aeronave também tinha boas performance a baixa altitude: em 1960 um Hustler realizou um voo de 2.253 km à velocidade média de 1.126 km/h, sem nunca passar dos 155 metros de altitude.
As provas de ejeção da tripulação também foram espetaculares. Em 1962, a partir de um B-58 que voava a 1.400 km/h, foi ejetado um urso (sim, um urso!), que se tornou o primeiro ser vivo a realizar uma saída de emergência a velocidade supersônica. Também foram realizados testes com chimpanzés.
Missões operacionais
O B-58 Hustler foi declarado operacional em 1 de agosto de 1960. Durante 10 anos, o avião serviu em duas esquadrilhas do SAC, a 43º e a 305º. Embora tivesse sido projetado para a guerra estratégica contra a URSS, durante algum tempo considerou-se utilizar os Hustlers na Guerra do Vietnã, hipótese posteriormente afastada devido aos elevados custos de operação e manutenção da aeronave, em especial na região úmida da Ásia onde era travado o conflito.
Uma característica única do Hustler era o casulo descartável sob a fuselagem, utilizável para carregar armas e combustível. Foram desenvolvidos vários tipos desses casulos, entre eles os MA-1 a MA-3 (equipados com foguetes para auxiliar na decolagem) e o TCP (Two Component Pod), dois casulos afuselados um dentro do outro, incluindo um pod de guerra química que até hoje é mantido em segredo.
O sistema de armas podia ser composto de bombas nucleares ou convencionais de queda livre, mísseis ar-terra e aparelhos de contramedidas, até um total de 8 toneladas de carga. O Hustler também carregava um canhão de 20 mm para auto-defesa na cauda, acionado à distância e com sistema de mira por radar.
Produção limitada
Foram fabricados 116 B-58 Hustler, incluindo oito TB-58A de treinamento com comandos duplos e uma posição sobreelevada no segundo cockpit. De todos esses aparelhos, 26 aeronaves perderam-se em diversos acidentes antes da retirada de serviço, um número considerado altíssimo.
O B-58 podia voar a velocidade máxima durante uma hora e sua autonomia com reabastecimento em voo permitia realizar voos de 18 horas sem escalas, o que possibilitava levar uma arma nuclear em qualquer ponto do planeta.
Quando o aparecimento dos mísseis terra-ar obrigou os aviões de combate a voarem a baixa altitude, o Hustler também foi adaptado para essa nova tática. Contudo, uma das características do veloz e incrível B-58 acabou por levar a sua retirada: o custo operacional. Devido às evidentes razões econômicas, a USAF deu baixa nos Hustler em 1970 e apenas quatro unidades foram preservadas em museus nos EUA.
Galeria de fotos:
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Impressionante.
O avião da foto em trio é um B-52 e não um B-36 como dito.
Na foto há também o B-36, Marcos. Liderando.
Um símbolo da guerra fria… tempos obscuros aqueles, a humanidade brincou com a morte centenas de vezes.