O desespero em reverter o quadro da Segunda Guerra Mundial levou o Japão a táticas radicais e suicidas. A primeira demonstração dessas ações foi a “Carga Banzai”, que consistia em um ataque frontal massivo de tropas em direção ao inimigo, gerando um violento e sangrento confronto, causando imensas baixas aos japoneses devido a configuração da ofensiva.
Nas poucas vezes em que deu certo, a ofensiva Banzai conquistou pouco terreno. Mas seu efeito psicológico sobre o inimigo foi devastador, pois os soldados japoneses avançavam de forma destemida durante a ação, levando o inimigo muitas vezes a bater em retirada.
A partir da segunda de 1944, ficou claro para os Aliados que o Japão não teria mais como continuar progredindo nos combates. As perdas humanas e de equipamentos eram enormes e o país não tinha mais suprimentos para alimentar sua indústria. Além disso, territórios conquistados na Ásia e Oceania foram retomados e os japoneses tiveram de se concentrar na defesa de seu espaço original. E para isso recorreram novamente a táticas suicidas: os pilotos kamikazes (que em japonês significa “vento divino”).
No dia 25 de outubro de 1944, os marinheiros a bordo do porta-aviões USS St. Lo, navegando a cerca de 400 km da costa do Japão, visualizaram aviões japoneses se aproximando. Sem tempo para lançar os caças embarcados, a artilharia anti-aérea foi preparada. Mas algo inusitado aconteceu: os bombardeiros japoneses não lançavam suas bombas, mas sim voavam em direção ao navio no intuito de atingi-lo em cheio.
Após quatro tentativas frustadas, um caça Mitsubishi A6M2 “Zero” acertou o convés de voo do porta-aviões e uma de suas bombas penetrou na estrutura e explodiu no hangar onde ficavam as aeronaves e os reservatórios de combustível, gerando uma enorme explosão. Horas depois o navio afundou, matando mais de 140 tripulantes. Esse foi o primeiro de mais de três mil missões kamikazes que seriam realizadas mais adiante até a rendição do Japão.
Baka
Com a intensificação dos ataques kamikazes e com a analises dos resultados, os militares japoneses perceberam que esse tipo de estratégia demandava um meio com maiores performances, uma vez que os aviões usados eram lentos e carregavam poucas bombas, exigindo uma série de ataques para obter um resultado significativo.
A resposta para esse problema veio com o desenvolvimento de outra arma suicida: o avião-bomba Yokosuka MXY-7 “Ohka” (“Flor de Cerejeira”). O novo instrumento de guerra do Japão era uma bomba de 1.200 kg com asas de madeira, foguetes para propulsão e uma rudimentar cabine de pilotagem, que continha apenas o essencial para o piloto realizar seu voo mortal.
Os aviões-bomba eram transportados até próximo aos alvos pendurados em bombardeiros Mitsubishi G4M2 “Betty” e depois liberados para voar de forma independente. Depois de lançado, o piloto ativava os turbojatos e acelerava em direção ao objetivo.
O primeiro ataque do Ohka aconteceu em janeiro de 1945 e a missão contra uma esquadra da Marinha dos EUA foi um completo fracasso. Os 18 artefatos pilotados caíram no mar, matando todos os pilotos, e em seguida caças americanos ainda conseguiram alcançar e derrubar os bombardeiros G4M2 que voltavam para o Japão. Após essa ofensiva frustrada, os americanos apelidaram a nova arma japonesa de “Baka” (“Idiota”, em japonês).
Apesar do retumbante fracasso, o Japão não desistiu de sua bomba voadora e continuou fabricando mais exemplares. O aparelho, segundo relatos da época, podia voar por até 40 km após ser lançado e passava dos 1.000 km/h durante seu mergulho suicida.
Para habilitar os pilotos a guiar a bomba voadora, foi criada até uma versão de instrução com dois assentos e trem de pouso em formato de esqui – como a versão monoplace não retornava a base, não havia a necessidade de equipá-la com trem de pouso.
Apesar do imenso potencial explosivo e a altíssima velocidade que podia alcançar, o Ohka era difícil de pilotar. Não só isso, os últimos pilotos japoneses, todos muitos jovens, recebiam pouca instrução e eram enviados aos combates com pouca preparação. Por isso, a nova arma não alcançou a expectativa que seus idealizadores planejaram: apenas sete embarcações foram atingidas pela arma japonesa e somente uma foi a pique.
Apesar de nunca ter conseguido um resultado expressivo, o Japão construiu mais 800 bombas voadoras Ohka até abril de 1945 e também trabalhava no desenvolvimento de versões que poderiam ser lançadas a partir de submarinos ou até de cavernas localizadas na costa. Com a rendição, os projetos foram abandonados e diversas unidades da Baka foram capturadas pelos países Aliados. Hoje, esses modelos estão expostos em diversos museus de aviação pelo mundo.
Foram realizados mais de três mil ataques kamikazes, mas somente 11% das aeronaves acertaram os alvos e outras 27% retornaram as bases. Segundo registros dos EUA, os pilotos suicidas conseguiram afundar 47 navios e deixaram outros 368 avariados. Cerca de 4.900 soldados aliados morreram com essas ofensivas, contra 2.525 kamikazes.
Kamikaze nazista
O desespero em reverter o curso da Segunda Guerra Mundial também levou a Alemanha a tomar medidas “kamikazes”. A primeira ação desse tipo foi lançada em abril de 1944 com o lançamento do esquadrão suicida “Sonderkommando ELBE”. Essa divisão foi treinada para acertar bombardeiros com o próprio avião.
A Alemanha estava sendo destruída por aviões americanos e ingleses, que voavam em enormes formações praticamente impossíveis de deter, fosse por artilharia em solo ou por caças atacando em grandes altitudes. Com essa nova estratégia, que mostrava um lado totalmente destemido dos pilotos, os alemães pensavam que os bombardeiros cessariam. Mas isso não aconteceu.
A única missão efetuada pela Sonderkommando Elbe, em 7 de Abril de 1945, com uma sortida de 120 Messerschmitt Bf-109, foi um enorme fracasso. Segundo relatórios norte-americanos, dos 1.260 bombardeiros aliados que voavam sobre a Alemanha neste dia, apenas 15 foram abatidos, sendo oito destruídos pela colisão suicida dos pilotos alemães.
No abate mais conhecido desse dia, um caça alemão colidiu de frente com o cockpit do bombardeiro B-24 Liberator “Palace Dallas”, dos EUA.
Os alemães também tentaram criar um avião-bomba semelhante ao japonês Ohka. Era o Fi 103R “Reichenberg”, uma versão tripulada da famosa bomba voadora V-1. A principio, foi estudada formas de utilizá-la de modo que o piloto pudesse se salvar antes de direcionar a arma para o alvo. No entanto, foi descoberto que era praticamente impossível abrir o cockpit com o objeto voando e, pior, o para-quedas do piloto (ou mesmo o piloto) podia entrar no bocal do motor a jato, que ficava bem acima da cabine. Decidiu-se então pelo ataque suicida.
A ideia, entretanto, gerou muita resistência e o projeto acabou cancelado. Na época, a ação foi considerada inadequada de acordo com as tradições alemãs. Com a desistência de construir a bomba voadora tripulada, a Alemanha investiu no projeto Mistel, que foi outra arma desesperada pouco efetiva.
Pilotos de todas as nações fizeram ramming na II Guerra, era uma estratégia desesperada bem comum entre pilotos em situação de morte eminente, mas a Alemanha e o Japão, que tinham esquadrões próprios para isso, aliada à propaganda ocidental, que levaram toda a fama.
https://en.wikipedia.org/wiki/Aerial_ramming#World_War_II
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Parabéns Thiago pelas matérias bem escritas e com detalhes importantes.
Muito bacana o texto sobre as bombas tripuladas. No quesito história, acredito que seria de bom grado se alguém publicasse também uma matéria completa sobre os ME262. Em tese, eles mudariam o rumo da história se fossem utilizados antes.
Parabéns pela reportagem
uma bela reportagem
Kamikaze ( 神風) significa “vento divino” e não vento dividido como salienta o texto. O termo faz alusão a Fujin (風神) o “Deus do vento”. Na segunda tentativa de invasão do Japão, pelos Mongóis, Kublai Khan, deparou-se com praias emparedadas por pedras, sua frota passou dias procurando um ponto para o ataque, no entanto, um Tufão (Kamikaze) dizimou sua esquadra…