O BNDES está negociando com a Embraer uma ajuda financeira estimada em US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões) após a empresa ver sua parceria com a Boeing fracassar. A informação foi revelada pelo Valor Econômico e confirmada pela empresa a outros meios de comunicação.
Segundo relatos, o investimento na fabricante será feito por meio da emissão de títulos que poderiam ser convertidos em ações. Com isso, seria possível captar dinheiro de outros bancos privados e empresas interessadas.
O socorro financeiro, no entanto, pode fazer com que o banco detenha 21% do capital da Embraer contra 5,4% atualmente – as ações são da BNDESpar, o braço que administra a participação do banco em empresas. Se isso de fato ocorrer será o caminho inverso ao adotado em 1994 quando a fabricante foi privatizada. A possibilidade incomodaria o governo Bolsonaro, que possui uma agenda liberal capitaneada pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, mas que é confrontado com a crise econômica provocada pela pandemia do Covid-19.
Nos resultados apresentados pela Embraer recentemente, a empresa acumulou um prejuízo significativo causado pelo processo de separação da divisão comercial, que seria comprada pela Boeing por um valor de US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões) – a Embraer permaneceria com 20% de participação nessa nova empresa.
Apesar do pedido de ajuda, a Embraer tem buscado mostrar ao mercado e a seus investidores que mantém boa saúde financeira. Numa conferência com consultorias de investimentos na semana passada, o CEO da fabricante, Francisco Gomes Neto, afirmou que a empresa pretende economizar US$ 1 bilhão em 2020 e que tem poucas dívidas vencendo até 2022.
O executivo, no entanto, reconheceu que 2020 será um ano duro, embora esteja otimista com os próximos dois anos. Quando questionado sobre a necessidade de dinheiro para tocar o negócio, Gomes Neto respondeu que prevê “cerca de US$ 2 bilhões. Nosso capital de giro para todo o negócio varia de US$ 500 a 700 milhões por ano”.
Poucas encomendas
A Embraer tem experimentado uma considerável redução no número de pedidos pendentes de aviões comerciais nos últimos anos. Embora as divisões de defesa, serviços e aviação executiva tenham uma participação importante, a linha de E-Jets é de longe seu maior patrimônio e que estava sendo repassada na joint venture com a Boeing.
A esperança da empresa brasileira era a de ganhar mercado com a ajuda do parceiro dos EUA, inclusive por oferecer condições de financiamento mais atraentes aos seus clientes. Com o fim da parceria, agora a Embraer pode voltar a contar com o BNDES para ter linhas de empréstimos com juros baixos que possam tornar seus aviões mais acessíveis.
Antes de mais nada, será preciso também que o mercado reaja e que a eficiência da família E2 (E175-E2, E190-E2 e E195-E2) seja suficiente para convencer possíveis compradores.
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Estado mínimo! Privatiza tudo! Depois o “mercado” regula a economia. Balela! Quando a coisa fica ruim, correm atrás do dinheiro público