A Boeing ainda não confirmou e tampouco avisou seus funcionários, mas de acordo com a agência Bloomberg, a produção do icônico 747 será encerrada definitivamente em cerca de dois anos, terminando um ciclo produtivo de meio século da “Rainha dos Céus”.
O fim da produção do 747 vem sendo discutido há algum tempo. O alto custo operacional da aeronave com quatro motores sedentos por combustível se transformou num enorme empecilho na carreira do “Jumbo”, que vem sendo preterido por aviões bimotores mais eficientes e que geram um menor impacto ambiental. Com a pandemia do novo coronavírus liquidando a demanda por transporte aéreo, voar com quadrimotores se tornou algo proibitivo para as companhias aéreas.
O 747 estreou na aviação comercial em 1970. Foi uma aposta ousada da fabricante norte-americana e quase a levou à falência, mas foi um avião fundamental para democratizar as viagens aéreas de longo alcance. Com a alta no preço dos combustível, o quadrimotor da Boeing hoje resiste somente no setor de cargas, onde ainda tem uma relativa aceitação com modelos convertidos e o 747-8F.
Os últimos pedidos para o 747-8F foram realizados em 2018, quando a UPS encomendou 14 aeronaves e a empresa russa Volga Dnepr, outras quatro unidades que posteriormente foram canceladas. A variante de passageiros (747-8) deixou de ser produzida em 2017 após a entrega de 47 aeronaves. A última empresa a receber um 747 de passageiros “zero km” foi a Korean Air.
Ao longo de mais de 50 anos, o 747 acumulou 1.571 pedidos, dos quais 15 exemplares ainda serão entregues. É o segundo jato de corpo largo (widebody) mais popular da Boeing, depois do 777 – que somou 1.636 unidades entregues até maio.
Questionada pela agência Reuters sobre a descontinuação do 747, a Boeing enviou resposta vaga: “Com uma taxa de construção de 0,5 avião por mês, o programa 747-8 tem mais de dois anos de produção pela frente para cumprir nossos atuais compromissos com os clientes”.
Em 2016, a Boeing admitiu que poderia encerrar a produção de 747 em meio à queda de pedidos e pressão dos clientes por preços mais baixos. Nesse meio tempo, uma série de grandes companhias aposentaram seus aparelhos, como a Delta Air Lines, United e Air France.
A fabricante perdeu cerca de US$ 40 milhões para cada 747 desde 2016, quando diminuiu a produção apenas seis jatos por ano, estimou a analista da Jefferies, Sheila Kahyaoglu, consultada pela Bloomberg. No total, a Boeing registrou US$ 4,2 bilhões em encargos contábeis para o 747-8, que foi mantido vivo como cargueiro. O último pedido do avião em versão de passageiros foi realizado em 2017 pela Força Aérea dos EUA, que encomendou dois aparelhos para assumir a função de avião presidencial, chamados de “Air Force One” pelos americanos.
Caso decida continuar produzindo o Jumbo, a Boeing precisa encontrar um novo fornecedor de estruturas-chave para o 747-8 ou construir esses componentes por conta própria. Em novembro de 2019, a Triumph, importante fornecedora de componentes da aeronave, anunciou sua saída do programa e confirmou que iria produzir os últimos itens para o 747 até o final de 2020.
Com pelo menos mais dois anos de produção pela frente, o 747 será descontinuado depois do A380, cuja linha de montagem será desativada em 2021 por falta de pedidos. O avião gigante da Airbus foi projetado justamente para ocupar a vaga do clássico jato da Boeing, mas em pouco tempo se tornou um enorme fracasso de vendas.
Embora o fim da produção do 747 seja iminente, o velho Jumbo continuará voando por muitos anos. O avião da Boeing ainda tem uma longa e importante carreira no setor de cargas, um nicho inviável para o A380, que até a próxima década deve ser aposentado na aviação comercial.
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