O relatório de pedidos e entregas de aeronaves no primeiro quadrimestre (1Q20) divulgado pela Boeing nesta semana tem alguns dos piores resultados registrados pela fabricante em décadas. Entre janeiro e abril deste ano, a empresa entregou apenas 50 aviões comerciais e confirmou um número impressionante de cancelamentos.
Clientes da Boeing desistiram de comprar 150 jatos 737 MAX somente no mês passado, aprofundando ainda mais a crise que a empresa enfrenta em meio à pandemia do Covid-19 e o aterramento contínuo de seu avião mais vendido que já dura mais de um ano. As maiores baixas são da Gol, com 34 pedidos cancelados, e da empresa de leasing Avolon, com um corte de 75 aeronaves. Ao todo, neste ano, a fabricante norte-americana já perdeu 307 encomendas de novos aviões, a maioria jatos da série MAX.
Desde o aterramento e a suspensão nas entregas do 737 MAX em março de 2019, o 787 Dreamliner vem sendo o avião mais entregue pela Boeing no último ano. No 1Q20, a fabricante entregou 29 unidades do modelo widebody. O 767, fabricado em versões de carga e militar, somou 10 entregas, seguido do 777 com mais seis aparelhos e o 737, com cinco unidades entregues. Já o 747 passou zerado.
Os resultados de entregas da Boeing estão cada vez mais baixos. Comparado ao primeiro quadrimestre de 2019, quando a fabricante entregou 149 aeronaves, o resultado neste ano apresenta uma queda de 66%. Em relação ao último relatório da empresa, sobre o último quadrimestre de 2019 (com 79 aeronaves entregues), a queda foi de 32%.
“Estamos trabalhando em estreita colaboração com nossos clientes, muitos dos quais enfrentam pressões financeiras significativas, para revisar seus planos de frota e fazer ajustes quando apropriado”, afirmou a Boeing em comunicado. “Ao mesmo tempo, a Boeing continua ajustando sua carteira de pedidos para adaptar-se à produção do 737 MAX abaixo do planejado no curto prazo.”
No dia 29 de abril, a Boeing vai divulgar os resultados financeiros sobre o primeiro trimestre de 2020. Executivos da companhias devem detalhar o impacto causado pela pandemia na demanda de aeronaves, bem como as medidas que a empresa planeja adotar para enfrentar a crise.
O mercado de transporte aéreo está enfrentando uma crise sem precedentes com a disseminação global da Covid-19 e muitas companhias aéreas podem falir nesse período. Países fecharam suas fronteiras e estão limitando a entrada de estrangeiros, o que praticamente eliminou a demanda de passageiros em viagens internacionais. Enquanto isso, as medidas de isolamento social em vigor ao redor do mundo paralisaram os mercados, reduzindo drasticamente o movimento de voos domésticos.
Fábricas paradas, incertezas sobre o 737 MAX
Abalada há mais de um ano pelo aterramento do 737 MAX, a Boeing mergulhou na pior crise em seus mais de 100 anos de atuação na indústria aeroespacial. O avião que deveria ser o principal produto da empresa somou dois acidentes fatais meses após estrear no mercado e hoje vive cercado de incertezas com a demora em seu retorno e os seguidos cancelamentos de pedidos.
A Boeing continuou produzindo o 737 MAX mesmo após a proibição nas entregas na esperança de que o aterramento seria breve. Como resultado, a fabricante produziu cerca de 400 aeronaves até ficar sem espaço para armazenar tantos aviões. Em janeiro deste ano, a produção do MAX foi paralisada por tempo indeterminado enquanto o jato passa por correções. Daí veio o coronavírus…
Sem produzir o 737 MAX desde janeiro, o movimento nas fábricas da Boeing foi reduzido nos últimos meses até parar totalmente no final de março. A empresa suspendeu até segunda ordem as atividades em todas linhas de produção de aeronaves comerciais nos estados de Washington e Carolina do Sul. Enquanto estão paradas, as instalações passarão por processos de higienização – um funcionário da Boeing morreu no final de março e mais de 100 foram contaminados pelo novo coronavírus.
Analistas estimam que o pico da crise do coronavírus na aviação comercial deve durar até junho ou julho deste ano. Atualmente, mais de 60% da frota mundial de aeronaves de passageiros está armazenada A recuperação do setor pode depender da capacidade de cada país em controlar o surto em seu território, o que poderá liberar ou não seus cidadãos do isolamento e possibilidade de viajar.
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