A Boeing planeja testar em voo uma aeronave civil de comando autônomo nos próximos dois anos, apontou Mike Sinnett, vice-presidente da divisão de aviões comerciais da empresa norte-americana, ao Aviation Week. Segundo o executivo, o objetivo é provar se aeronaves com tripulações reduzidas, um único piloto ou mesmo nenhum podem ser aproveitadas em voos com passageiros com os mesmos níveis de segurança e integridade de um avião tripulado.
O estudo, divulgado pela primeira vez, já está em andamento nos laboratórios da Boeing em Moses Lake, em Washington, com testes terrestres de uma aeronave modificada para operações autônomas de taxiamento e também com um simulador de voo adaptado.
Sinnet também confirmou que em 2018 serão iniciados os primeiros ensaios de voo controlados por inteligência artificial, utilizando dois monomotores Cessna Caravan adaptados. Já para o ano seguinte, a fabricante planeja levar o controle autônomo para o jato 787.
A iniciativa da Boeing surge em meio a uma série de empreendimentos sobre veículos autônomos terrestres, aéreos e marítimos. A própria fabricante já testou esse conceito em submarinos e pequenas aeronaves. A unidade da empresa responsável por esses trabalho tem até um nome sugestivo: “Phantom Works” (“Projetos Fastasmas”).
Outro nome conhecido da aviação envolvido nesse tipo de projeto é a DARPA, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA. O grupo estuda o programa ALAS (Sistema de Cockpit Automatizado), uma espécie de robô programado para entender e manusear os comandos de uma aeronave. O sistema já foi testado com sucesso voo, atuando como um “co-piloto eletrônico”.
“Esta não é uma tentativa de tirar pilotos do cockpit. Esta é uma pesquisa para garantir que o sistema autônomo mantenha o mesmo nível de segurança e integridade que temos hoje “, diz Sinnett.
A principal motivação do projeto é a preocupação de que o crescimento anual de 4,8% no tráfego aéreo mundial ultrapassará a capacidade da infra-estrutura de treinamento atual para fornecer os cerca de 1,5 milhão de pilotos que serão necessários nos próximos 20 anos.
O vice-presidente da Boeing ainda comentou sobre a questão que pode tornar essa situação ainda mais crítica, no caso da mobilidade aérea urbana realmente avançar nesse mesmo período como é previsto.
“Será que teremos todos os pilotos disponíveis para operar todas essas aeronaves menores? Deve haver uma transição entre o aviador qualificado operando a aeronave de forma tática e um sistema que opera o veículo de forma autônoma. A questão é se podemos fazer isso com o mesmo nível de segurança e integridade que temos hoje”, contou Sinnett.
O executivo da Boeing diz que muitas das tecnologias individuais para permitir operações autônomas já existem, mas “não as arquiteturas gerais da infraestrutura da aviação”, diz ele. “Elas ainda não são suficientes para acomodar os níveis generalizados de operações autônomas nos mesmos níveis de segurança e integridade. Então, nosso trabalho é entender onde estão as lacunas e, em seguida, juntar planos de pesquisa que nos ajudem a preencher essas necessidades. É o que estamos fazendo agora “.
O estudo também está avaliando se o caminho para as operações autônomas pode ser abordado em uma série de etapas. Os passos possíveis podem incluir a redução do número de tripulações que atualmente voam em operações de maior alcance. “Outro passo ao longo do caminho pode ser passar de dois pilotos durante o voo cruzeiro para apenas um”, diz Sinnett.
Na visão da Boeing, os principais desafios tecnológicos para operações terrestres autônomas com aeronaves incluem as fases de taxiamento e decolagem. Já durante o voo, as principais tarefas são a otimização da viagem e planos de contingência. “Deverão ser tomadas decisões sobre as aeronaves que hoje são realizadas por humanos”, completou o executivo.
Veja mais: Robô co-piloto é testado com sucesso nos EUA