Sem fazer alarde, a Boeing revelou nesta terça-feira (24) o conceito de uma aeronave de transporte tático militar com design de fuselagem e asas combinados, formato usado tradicionalmente na construção de aviões furtivos (ou stealth, capazes de ludibriar radares e permanecerem “invisíveis” nas telas).
Apresentado em forma de maquete em escala reduzida, o projeto, por ora, não teve maiores detalhes divulgados pela fabricante, que expôs o modelo no AIAA SciTech, fórum e exposição organizado pelo Instituto Americano de Aeronáutica e Astronáutica (AIAA, na sigla em inglês), em Fort Washington, Maryland, nos EUA.
Pelo Twitter, Guy Norris, editor-sênior do Aviation Week, compartilhou as primeiras imagens do conceito, que ele disse se tratar de um “design refinado” da aeronave de corpo e asas combinados que é estudada pela Boeing. O jornalista ainda acrescentou que o transportador stealth pode ser um sucessor dos aviões táticos C-130 Hercules e C-17 Globemaster.
@Boeing unveils at @aiaa #aiaascitech refined blended wing body tactical military transport design with lower fuselage inlets and low observable exhaust features in bid to promote potential C-130 and C-17 successors @beverstine has more pics pic.twitter.com/scCp6JArCU
— Guy Norris (@AvWeekGuy) January 24, 2023
Embora pareça uma ideia esdrúxula, a Força Aérea dos EUA (USAF) vem cogitando há algum tempo o uso de aeronaves furtivas em funções de transporte tático e logístico, entre outras atribuições.
A afirmação mais recente sobre o tema partiu de Frank Kendall, secretário de aquisições da USAF. Durante um webinar no começo de janeiro, o oficial comentou a respeito de levar a tecnologia stealth para outros ramos da aviação militar além dos setores de caças e bombardeiros. A justificativa para essa mudança, segundo Kendall, se deve aos avanços em alcance e precisão dos mísseis projetados na China.
“Adversários como a China são capazes de rastrear e atirar contra aeronaves dos EUA de alcances cada vez mais longos, então aeronaves de mobilidade devem ser projetadas com capacidade de sobrevivência em mente”, disse o secretário da USAF, adicionando que o design furtivo pode ser empregado por aeronave de reabastecimento aéreo, transporte tático e de guerra eletrônica.
Boeing X-48
A fórmula de corpo e asas combinados (BWB – Blended Wing Body, em inglês) é avaliada pela Boeing desde os anos 1990, quando a empresa herdou absorveu a McDonnel Douglas e projetos nesse campo. Nos anos 2000, a fabricante, em parceria com a NASA, construiu e testou o protótipo em escala X-48, a fim de investigar as características do design BWB.
O estudo capitaneado pela Boeing de 2007 até 2016 mostrou que o conceito oferece vantagens em eficiências estruturais, aerodinâmicas e operacionais em relação a aeronaves convencionais. Esses recursos se traduzem em maior alcance, economia de combustível, confiabilidade e economia no ciclo de vida, bem como custos de fabricação mais baixos.
Apesar das descobertas, o design foi descartado para uso na aviação comercial. Passageiros que participaram da pesquisa não aprovaram a configuração de cabine do X-48, que era muito mais larga que a de uma aeronave convencional. Mas a ideia foi mantida para aeronaves militares, que podem aproveitar o formato BWB para desviar as ondas de radar.