Já faz bastante tempo que os turbo-hélices comerciais tiveram o papel relegado aos voos regionais e mesmo nas últimas décadas sua presença se tornou um tanto escassa com o avanço dos jatos como a família E-Jet da Embraer, por exemplo. Por isso a notícia de que a Bombardier conseguiu homologar uma versão para 90 passageiros do seu modelo Q400 (derivado do conhecido Dash 8 que operou na finada Taba no Brasil) é uma enorme surpresa.
Embora na prática a aeronave seja praticamente idêntica ao Q400 atual (exceto pela reacomodação de uma porta de carga, um novo acesso para passageiros além de melhorias para que seus custos operacionais caíssem 15%), o turbo-hélice passa a ser o de maior capacidade em produção atualmente. Para se ter uma ideia, é o mesmo que transporta um E190 ou o “irmão” CRJ900. E bem mais que seu rival histórico, o ATR-72-600 (até 78 lugares assim como o Q400 original).
O primeiro cliente do Q400 para 90 passageiros é a companhia aérea indiana SpiceJet que havia encomendado 50 unidades do aparelho em 2017. “Com o reaquecimento do mercado de turbo-hélices, estamos entusiasmados em oferecer aos nossos clientes uma configuração de maior capacidade e custo por assento 15% menor em comparação ao Q400 padrão, levando a um maior potencial de lucratividade para as companhias aéreas ” disse Todd Young, responsável pela família “Q” da Bombardier.
Novamente vantajosos
O executivo tocou num ponto interessante, o retorno do interesse por turbo-hélices de passageiros. Depois de um período de expansão iniciado nos anos 80, esses aviões passaram a perder espaço gradualmente para os jatos, mas os custos de operação bastante baixos e a versatilidade que os caracterizam mantiveram dois modelos em alta, a família “Q” e o franco-italiano ATR – que acaba de chegar à milésima unidade entregue.
O reaquecimento do mercado tem motivado até mesmo a Embraer a pensar numa nova aeronave turbo-hélice. A companhia brasileira encerrou sua participação no segmento em 2003 com o EMB-120 Brasília, que oferece apenas 30 lugares.
Já encontrar interessados por aviões desse tipo com 90 assentos é uma tarefa bastante inusitada. A carreira dos turbo-hélices foi atropelada ainda na década de 60 com o surgimento dos jatos. Eles eram uma opção bastante viável para tomar o lugar dos velhos quadrimotores a pistão como o Constellation e o DC-6, mas a velocidade dos jatos e sua maior capacidade (além de um querosene mais barato) fizeram com que poucos aviões surgissem.
Um deles é conhecido dos brasileiros, o Lockheed Electra II, usado até os anos 90 na ponte aérea Rio-São Paulo. Com quase 100 lugares, ele se transformou numa das aeronaves mais confiáveis e admiradas da aviação brasileira. Essa imagem e a possibilidade de levar mais gente a bordo ao menos o Q400 não tem como alcançar.
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Não podemos nos esquecer de que o Electra é quadrimotor, e só por isso seus custos de manutenção devem ser muito mais caros.
Ah, havia me esquecido: o Electra II também precisa de mais um tripulante, o engenheiro de voo. Mais custo.
Airway: com esta configuração de 90 passageiros, o espaço entre as poltronas manteve-se igual à configuração de 78 lugares, ou o espaço foi reduzido ?