Os negócios não vão nada bem para a Bombardier. As ações do grupo canadense despencaram mais de 30% na última semana após a empresa informar que seus ganhos no segundo trimestre deste ano serão piores que o previsto e alertar que estava reavaliando sua parceira com a Airbus no programa A220.
A Bombardier tem uma fatia de 34% no programa A220 (ex-Bombardier Cseries) e havia se comprometido a manter investimentos na aeronave por mais cinco anos. A fabricante canadense, porém, sinalizou que pode reduzir sua participação no projeto, controlado pela Airbus.
O A220 ganhou mais visibilidade e confiança quando a Bombardier deixou o comando. A transição para Airbus dobrou a carteira de pedidos pela aeronave e trouxe evoluções para o projeto. O programa, no entanto, ainda está em fase de maturação no mercado, o que exige mais investimentos para aumentar sua aplicação em diferentes mercados.
A Airbus, por contrato, pode optar pela compra de todo o programa A220 sete anos e meio após a assinatura do contrato com a Bombardier e o governo do Québec, em vigor desde julho de 2018.
“Embora o programa A220 continue ganhando mercado e demonstrando seu valor com as companhias aéreas, as últimas indicações do plano financeiro da ACLP exigem investimento adicionais para apoiar o aumento da produção”, diz o comunicado da Bombardier sobre os resultados financeiros preliminares de 2019. “Isso (falta de investimentos) pode impactar significativamente no valor do empreendimento”, acrescenta a nota.
A Bombardier declarou que informará o valor de qualquer redução nos investimentos no programa A220 quando concluir a análise sobre os resultados financeiros de 2019. No mesmo comunicado, a fabricante canadense acrescentou que busca alternativas para pagar suas dívidas, mas não especificou quais soluções pode adotar.
Os débitos da companhia de Montreal passam dos US$ 9 bilhões e analistas sugerem que Bombardier deve abandonar a aviação nos próximos anos e se concentrar no segmento de trens, onde tem presença consolidada.
Liquidação de divisões
Em 2019, o grupo canadense aliviou suas contas com a venda dos direitos de produção dos turboélices QSeries e os jatos regionais CRJ, adquiridos pelo grupo canadense Longview Aircraft Capital (que “ressuscitou” a marca de Havilland Canada) e a Mitsubishi. Outra baixa foi a venda da divisão Short Brothers, na Irlanda do Norte, que pertencia ao grupo desde 1977.
Um artigo da Forbes sugere que o desmonte da Bombardier na aviação deve continuar com a venda da divisão de jatos executivos. Segundo a publicação, o grupo canadense pode cortar seus laços com seu último braço na aviação a qualquer momento.
Embora seja um negócio relativamente sustentável, a Bombardier Business Aircraft está sujeita a um mercado instável com imensa oferta e baixa demanda. Na última década foram entregues em média 700 jatos executivos por ano em universo com mais de 40 modelos diferentes.
Ao contrário dos programas na aviação comercial, mais atraentes para investimentos, a divisão de jatos executivos da empresa canadense teria uma base rasa de potenciais compradores no setor aeroespacial caso fosse colocada à venda. Nesse caso, quem se arriscaria?
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Em outras palavras,a Bombardier está quebrada. Seria esse um aviso para a Embraer?