Imagine uma casa em que o dono convida visitas mas deixa a porta sempre parcialmente fechada, impedindo que alguém entre. Depois de muito tempo, ele decide deixá-la escancarada na esperança de que seus convidados consigam finalmente entrar. Só que ninguém se arrisca a pisar nela.
A analogia é mais ou menos o que quis dizer Gilberto Peralta, presidente da Airbus no Brasil. O executivo concedeu entrevista à Reuters, onde relatou que o país continua complexo e caro para empresas estrangeiras atuarem na aviação comercial.
“As barreiras de capital desapareceram, um estrangeiro poderia vir e montar uma empresa no Brasil, mas não o faz… É muito problemático”, disse ele.
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Segundo Peralta, o custo do combustível, o maior do mundo comparado ao preço da passagem, e a insegurança jurídica espantam grupos internacionais que poderiam ampliar a concorrência e oferecer passagens mais baratas e ampliar a conectividade no país.
Mas mesmo com as mudanças na legislação promovidas em 2018 e que abriram o mercado para que empresas estrangeiras possam ter filiais brasileiras, ninguém apareceu. Houve sondagens, promessas de integrantes do governo, mas até hoje nada.
Um aspecto demonstra com sobras o panorama sombrio, as ações legais movidas por entidades que intermediam passageiros. Diante das regras favoráveis ao consumidor, a Justiça tem sido inundada com processos contra as empresas aéreas por atrasos e cancelamentos de voos.
A judicialização causou até uma debandada de voos em alguns estados do Brasil.
Ultra baixo custo? Só se for nos serviços
Embora seja o maior mercado de aviação comercial da América do Sul, o país convive com três grandes companhias aéreas dominando o tráfego aéreo e ainda assim uma delas, a Gol, acumulou bilhões de dólares em dívidas.
Enquanto em outros mercados há várias companhias aéreas de baixo custo – ou até ‘ultra baixo custo’ -, no Brasil a única novidade experimentada pelos passageiros foi a simplificação do serviço, com o fim refeições, franquias de bagagem e outras comodidades.
Nesse meio tempo, as empresas aéreas aprimoraram e automatizaram processos como no despacho de bagagens, check-in e reservas, dispensando a necessidade de mão de obra e repassando a tarefa aos próprios clientes.
Nem assim voar no Brasil ficou tão barato, a despeito de o setor insistir que a situação para os passageiros está melhor. Em outra frente, o atual governo tenta baixar os preços por meio de “atalhos”, mas o que leva a um mercado mais sadio é concorrência, regras claras e condições de igualdade entre os “jogadores”.
Há de se concordar com Gilberto Peralta, afinal o Brasil poderia absorver bem mais jatos da Airbus, da Boeing, da Embraer…
Se reduzirem bastante o imposto de combustível, acredito que já nisso teria-se uma vantagem. Outra coisa, voo atrasou, sei lá por motivo de clima, aí as empresas serem processadas por isso, é muito prejudicial. Compreendo que num desvio de bagagem, ou algo semelhante vá lá, mas ser processado cancelamento e atraso, é ultrajante…
O executivo foi educado, aqui o real exemplo é mais ou menos diferente: o dono da casa promove uma grande festa, recebe presentes na entrada, e na hora da festa começar abre a porta da saída e ainda solta os cachorros.