Se não tem a majestade do finado An-225 Mriya, maior avião já construído e que foi destruído pela Rússia em fevereiro, o An-124 Ruslan tem uma carreira mais significativa e que acaba de completar 40 anos desde o voo inaugural.
Foi no dia 24 de dezembro de 1982 que a imensa aeronave de quatro motores decolou pela primeira vez do campo de aviação Sviatoshyn, perto da região central de Kiev, na Ucrânia. Tratava-se do ápice de um longo processo de desenvolvimento que motivou a indústria aeroespacial soviética a superar diversos desafios.
A história do An-124 começou na verdade em meados da década de 60, quando ficou claro que o imenso turboélice An-22 não seria suficiente para suprir a Força Aérea Soviética da mobilidade necessária em tempos de Guerra Fria.
Do outro lado do Atlântico, os EUA desenvolviam o C-5 Galaxy, um quadrijato de dimensões nunca antes atingidas. Como era comum nessa época, a resposta comunista viria em seguida, buscando superar os números do rival da Lockheed.
Mas desenvolver uma aeronave desse porte era algo que a União Soviética não estava preparada naquele período. Para virar o jogo, programas importantes foram iniciados, como o que deu origem ao potente motor D-18 pelo escritório de projetos Lotarev.
A fabricação do An-124 seria feita em duas fábricas, uma em Kiev e outra em Ulyanovsk, cidade a leste de Moscou. Curiosamente, foi a unidade russa que mais produziu a aeronave, com 36 Ruslan concluídos contra 18 na Ucrânia.
Mais avançado que o C-5 Galaxy
Com a vantagem de poder aprimorar seu avião ao observar o C-5 Galaxy, a Antonov desenvolveu um jato semelhante, com quatro motores instalados nas asas altas, mas com cauda convencional em vez de em “T” como no jato da Força Aérea dos EUA.
O An-124, no entanto, também tinha enormes portas dianteira e traseira de carga, cabine de comando pressurizada sobre o compartimento de carga e um conjunto robusto de trem de pouso.
As asas possuem perfil supercrítico, a estrutura recebeu 5% de peças em material composto e uma pequena parte foi fabricada em titânio. Já os controles de voo eram por fly-by-wire, porém, com redundância oferecida por um sistema hidráulico.
Além disso, o AN-124 poderia transportar muito mais carga que o C-5: 150 toneladas contra 127,5 toneladas, embora sendo um pouco mais curto que o Galaxy.
O compartimento de carga, no entanto, é 20% maior, e em 1985 estabeleceu um recorde mundial de transporte ao levar 171.219 toneladas a uma altitude de 10.750 metros.
Missões especiais pelo mundo
O An-124 experimentou uma nova fase em sua carreira após o fim da União Soviética. Parte das cinco dezenas de aeronaves produzidas para fins militares acabou migrando para o segmento de cargas civis especiais, circulando pelo mundo em voos charter.
Uma das especialistas nesse tipo de serviço é a Antonov Airlines, companhia aérea associada à fabricante ucraniana. Atualmente, seus An-124 realizam voos de carga, porém, sem que sejam identificados, por temores causados pelo conflito iniciado por Vladimir Putin.
Os Ruslan russos também são vistos com frequência em viagens pela Ásia em missões não esclarecidas. A indústria do país, no entanto, pretende um dia construir um substituto para o An-124, o projeto “Elefante” (Slon), que ainda está na fase de estudos em túnel de vento.