O “manual do proprietário” do Boeing 737 pede o seguinte: a cada dois anos, ou 6.600 horas de voo ou 5.500 ciclos (decolagem e pouso), o avião precisa parar e cumprir um rigoroso plano de manutenção. Nesse processo, diversas partes da aeronave são desmontadas e checadas, e se apresentam algum defeito são substituídas por novas. Mas onde fica essa oficina?
A companhia Gol, maior operador do Boeing 737 na América Latina, com 137 jatos, possui o seu próprio Centro de Manutenção de Aeronaves (CMA), no Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG), que acaba de completar 10 anos de atividades. Inaugurado em 15 de setembro de 2006, a instalação é certificada por órgão aeronáuticos para realizar desde manutenções de rotina até tarefas mais complexas.
O CMA em Confins é a maior “oficina” de Boeing 737 do hemisfério do sul e, segundo a companhia, efetua mais de 15 mil tarefas de manutenção por mês em aparelhos que chegam todos os dias. E ele nunca fecha, nem a noite ou aos finais de semana. “Para aproveitar o tempo em que esses aviões ficam parados a noite, muitas tarefas de manutenção podem ser realizadas neste momento e pela manhã já estão prontos para voar”, explicou Alberto Correnti, diretor de manutenção de aeronaves da Gol.
Hangares gigantes
O centro da Gol é composto por três hangares, cada um com espaço suficiente para guardar três Boeing 737. As portas são tão grandes que para abrir ou fechá-las por completo leva cerca de 15 minutos. A oficina tem até um hangar de pintura equipado com um complexo sistema de exaustão, que filtra os resíduos do processo antes de descartá-los.
É nesse hangar que a companhia está renovando a identidade visual de suas aeronaves, uma a uma. De acordo com a Gol, a nova pintura de seus aviões leva 12 dias para ser finalizada, sendo seis dias para realizar a remoção da pintura anterior, e o restante para aplicar a nova.
A Gol repinta seus aviões geralmente a cada cinco ou sete anos, quando a pintura da aeronave já está desgastada ou quando o avião está no momento de enfrentar um processo de manutenção mais complexo, aproveitando esse tempo para mudar o visual. “O centro tem capacidade para atender até oito aeronaves ao mesmo tempo”, contou Marco Gallinaro, gerente-executivo do centro de manutenção da Gol.
A instalação em Confins também possui uma “borracharia”, a oficina de rodas e freios. “Nesse espaço é realizado todo um processo de checagem e revitalização das rodas e também recauchutamentos de pneus. O conjunto dianteiro pode ser recauchutado até três vezes e o principal, outras cinco três. Em seguida são descartados”, explica Gallinaro.
Como nos automóveis, os freios dos aviões também precisam trocar as pastilhas. O 737 da Gol usam freios com pastilhas de aço ou carbono – esse sistema é necessário no 737 para o pouso do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. São equipamentos extremamente complexos e pesados: o freio com discos de aço pesa 187 kg e o de carbono a metade.
A Gol ainda realiza ela mesma as tarefas de reforma dos bancos das aeronaves, com uma equipe de tapeceiros e costureiros, e conta com uma oficina especializada em revitalizar as janelas dos 737. As superfícies, de acrílico, são retiradas dos Boeing e polidas uma a uma até ficarem sem nenhuma marca, novamente seguindo um limite até um dia que são descartadas – o Boeing 737-800 da Gol tem 82 janelas.
O centro de manutenção em Confins tem até uma gráfica, onde são impressos os folhetos de bordo e os adesivos que ficam espalhados pelo interior da aeronave. Esses itens são trocados conforme vão desgastando – ou “surrupiados” por passageiros-colecionadores.
Redução de custos
Companhias aéreas são um tipo de empreendimento que são muitos sensíveis a economia, especialmente no Brasil. Segundo o diretor de manutenção de Gol, cerca de 6% a 8% dos custos anuais da companhia são gastos com a manutenção da aeronaves da frota.
Quando a Gol iniciou suas atividades, em 2001 com sete aeronaves, ainda não era viável para a empresa montar seu próprio centro de manutenção. Por isso, esse serviço era terceirizado a outras empresas desse setor, algumas até no exterior. Em 2006, com uma frota que já passava de 30 aeronaves, a empresa decidiu montar sua própria oficina e assim reduzir os custos.
“Quando uma companhia possui o seu próprio centro de manutenção, além de reduzir custos, como mão de obra mais cara no exterior e até o traslado da aeronave, também ganha-se muito tempo. Cada dia que um avião fica parado a companhia perde dinheiro. Com nosso centro podemos cumprir todos os prazos em dia, algo que pode não acontecer com empresas terceirizadas”, explicou Alberto Correnti.
E o centro em Confins é apenas a parte pesada da manutenção da Gol. A empresa ainda possui outras nove bases espalhadas pelo Brasil, onde as aeronaves também podem ter algumas partes específicas revisadas, geralmente artigos de menor complexidade e que não exige maquinário especial, como o usado na base em MG. No total, a companhia emprega cerca de 2.000 funcionário na área da manutenção, sendo 637 deles apenas no CMA em Confins.
Manutenção de aviões
A manutenção de aeronaves começou virou algo sério somente na década de 1950, com o desenvolvimento das companhias aéreas. Antes desse tempo, a revisão dos aviões era feita “no olho” e a única preocupação era em manter o avião pronto para o próximo voo. Todos os processos eram realizados por mecânicos sem participação direta das fabricantes, que se limitavam a apenas em enviar peças de reposição. Não à toa foi a época em que mais ocorreram desastres aéreos.
Com o desenvolvimento das companhias aéreas, que ficavam cada vez maiores e voavam mais longe, a partir da década de 1960 foram criados órgãos reguladores, principalmente nos Estados Unidos, com a FAA, hoje a autoridade de aviação que serve como referência para o mundo todo.
Foi determinado que os fabricantes deveriam desenvolver programas de manutenção para seus produtos. O objetivo era, e continua sendo, estabelecer o monitoramento da confiabilidade e segurança das aeronaves.
“Processo de manutenção preventiva e preditiva são fundamentais para manter os níveis de segurança, que é o valor prioritário da Gol”, conta o diretor de manutenção da companhia.
Além do CMA da Gol, outra companhia que possui um grande centro de manutenção no Brasil é a Latam Airlines, com uma base em São Carlos (SP), criada ainda nos tempos da TAM. A Azul tem planos de construir uma instalação desse tipo no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Já a Avianca Brasil envia seus aviões para oficinas terceirizadas.
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Thiago, o que me falas do centro de manutenção da TAP nas antigas instalações da Varig em POA?
Ola boa noire host aria de saber combo faço pra conseguir trabalha na area da manutencao em aeronaves