CEO da Boeing minimiza estreia do jato chinês COMAC C919

Dave Calhoun, CEO da Boeing, reconheceu que o C919 é um “bom avião”, mas que a COMAC ainda levará “muito tempo” para atender a demanda das companhias aéreas chinesas
COMAC C919 da China Eastern Airlines
COMAC C919 da China Eastern Airlines (CEA)

Primeiro jato comercial projetado inteiramente na China, o C919 da fabricante estatal COMAC por ora não é motivo de preocupação para a Boeing. CEO da empresa americana, Dave Calhoun disse à Reuters que o jato chinês é “um bom avião”, mas levará “muito tempo” para alcançar uma capacidade de produção para atender a demanda das companhias chinesas.

No último domingo (28/5), a China Eastern Airlines realizou o primeiro voo do C919 com passageiros, entre Xangai e Pequim. A ocasião foi celebrada como um marco histórico da indústria aeronáutica chinesa, que desenvolve o avião concorrente dos tradicionais Airbus A320 e Boeing 737 há 15 anos.

“Três fornecedores (Airbus, Boeing e COMAC) em um mercado global crescente desse tamanho e escala não devem ser o pensamento mais intimidador do mundo”, disse Calhoun. “Para nós ficarmos excessivamente ansiosos com isso, acho que é uma perspectiva boba.”

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O CEO da Boeing apontou que a fabricante deve manter o foco na concorrência existente no segmento de jatos de um corredor (contra o Airbus A320) para “vencer a corrida tecnológica”, embora o 737 seja o produto mais antigo da categoria – a primeira versão do 737 voou em 1967.

O primeiro voo do C919 ocorreu em 5 de maio de 2017 (Xinhua)

Calhoun afirmou ainda que a China é “nossa amiga, nossa cliente”, mas que os negócios da Boeing no país podem ser prejudicados devido às atuais tensões geopolíticas entre Washington e Pequim.

A China foi o última nação a autorizar o retorno do 737 MAX ao serviço após o longo período de aterramento motivado por dois acidentes fatais entre 2018 e 2019, o primeiro na Indonésia e o segundo na Etiópia. Companhias chinesas que operam o jato da Boeing reativaram seus aparelhos somente no início deste ano. As entregas do modelo no país, porém, estão paralisadas.

Demanda interna

Trata-se do fim de uma longa novela que teve início em 2008 quando a COMAC apresentou o projeto do C919, uma aeronave concebida totalmente na China, a despeito de utilizar muitos componentes ocidentais, como o motor Leap-1C (CFM).

Todo o processo de desenvolvimento foi difícil, com testes em solo e em voo e interrupções causadas pela pandemia.

Aeronave levou mais de 14 anos para entrar em serviço desde seu lançamento (CEA)

O C919 utilizado no voo inaugural com a China Eastern Airlines é até o momento o único entregue pela COMAC. A empresa deve receber outros quatro jatos de seu pedido inicial, mas o início dos voos comerciais deverá acelerar o processo de produção desde que se resolvam os gargalos com a cadeia produtiva.

Embora a COMAC tenha intenção de certificar o C919 em outros países, isso não deve ser prioridade no momento. Há uma grande demanda interna a ser atendida antes de se pensar em exportações.

A estreia do C919 é uma notícia preocupante para Airbus e sobretudo para a Boeing. Se o jato for minimamente bem sucedido certamente as futuras encomendas de A320neo e 737 MAX se tornarão cada vez mais raras na China.

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