Voando com a Força Aérea dos EUA (USAF) há quase 70 anos, o incansável bombardeiro B-52 Stratofortress ainda está longe de encerrar sua carreira. A USAF emitiu nesta semana um pedido preliminar com uma proposta para substituir os motores da aeronave por opções mais eficientes.
A frota de B-52 em serviço (modelos B-52H) voa com motores turbofan Pratt & Whitney TF-33-PW-103 desde a década de 1960. Esse motor é a versão militar do JT3D, usado nos clássicos jatos comerciais Boeing 707 e Douglas DC-8. Cada bombardeiro tem oito propulsores.
O objetivo da USAF é trocar os antigos e “beberrões” TF-33 por oito motores mais modernos e de preferência já disponíveis no mercado. Todas as grandes fabricantes do setor já estão na jogada.
Fornecedora do motor original do B-52, a Pratt & Whitney sugere atualizar o “BUFF” com motores PW800. Esse turbofan é usado, por exemplo, nos jatos executivos Gulfstream G500 e G600 e o Dassault Falcon 6X. Outra oferta vem da Rolls-Royce, com o F-130, versão militar do motor BR700, também presente em modelos da Gulfstream e no jato comercial Boeing 717. Por fim, A GE oferece duas opções: CF34-10, utilizado em jatos regionais da Bombardier e Embraer, e turbofans da linha Passaport, que alimenta o jato executivo Global 7500 da Bombardier.
Todas as propostas atendem os requisitos da USAF, que busca um motor substituto que tenha tamanho, potência e peso similares aos oito TF-33 usados em cada B-52H. No entanto, a força aérea também quer um turbofan moderno com maior uma maior taxa de derivação (Bypass ratio) e controles digitais. Com essa mudança, os militares norte-americanos esperam reduzir o consumo de combustível, nível de ruído e custos operacionais dos bombardeiros.
O B-52H tem autonomia de 14.200 km. Dependendo do novo motor selecionado, o alcance da aeronave pode ser ampliado de 20% a 40%, aumentando ainda mais a capacidade de ataque intercontinental dos EUA.
A troca de motores também estende a vida útil do B-52. A proposta da USAF aventa manter a aeronave em serviço até 2050, quando o bombardeiro estaria perto de completar 100 anos de seu voo inaugural (realizado em 15 de abril de 1952 com o protótipo YB-52).
Fabricante da aeronave, a Boeing, também conduz uma análise sobre o caso. James Kroening, gerente do programa B-52 da empresa, disse em entrevista ao Defense News que os novos motores podem gerar uma economia de combustível de 30% e uma diminuição dos custos de pelo menos US$ 10 bilhões se os bombardeiros continuarem em serviço até 2050. O executivo também prevê uma redução de 95% na atividade de manutenção com a instalação dos turbofans mais modernos.
Bombardeiro insubstituível
O inconfundível B-52, conhecido pelos militares pelo sugestivo apelido de “BUFF” (Big Ugly Fat Fucker – Grande Feio Gordo Patife, para usar um termo mais brando), participou de praticamente todos os grandes conflitos militares no qual os EUA se envolveu desde a década de 1960. O currículo da aeronave inclui ações na Guerra do Vietnã, no Oriente Médio e mesmo na Europa, durante os conflitos na antiga Iugoslávia. Mas nem o fim da Guerra Fria e promessas de paz forçaram a aposentadoria do bombardeiro, que seguiu evoluindo nos últimos 60 anos.
Bem diferente das arriscadas missões de bombardeiro convencional realizadas no passado, com bombas de queda livre, o B-52 hoje atua principalmente como uma plataforma aérea para mísseis de longo alcance, podendo atacar objetivos a centenas ou milhares de quilômetros de distância, incluindo artefatos com ogivas nucleares.
Avião que deveria ter uma carreira curta, o B-52 com sua simplicidade continua voando enquanto aviões de ataque mais rápidos e avançados acabaram fora de serviço com a USAF ou nunca foram concluídos, como o B-58 Hustler e o XB-70 Valkyrie, projetado para voar a mais de 3.000 km/h.
A Boeing iniciou a produção em série do B-52 em 1954 e o último modelo de um total de 744 unidades foi entregue à USAF em 1963. Ou seja, o B-52 “mais novo” tem 57 anos. A frota atual em serviço é enxuta comparada aos números do passado, com 58 aeronaves ativas, além 18 exemplares na reserva e mais 12 armazenados, segundo dados do Air Force Global Strike Command, unidade da força aérea dos EUA que opera os bombardeiros.
Com um custo operacional baixo, o B-52 reluta a sair de cena mesmo com novas opções surgindo nos EUA, como os modelos B-1 Lancer o B-2 Spirit, bombardeiro stealth que até hoje é o avião mais caro já produzido (cada unidade custou cerca de US$ 2 bilhões). A desativação dos antigos BUFF deve começar somente após a implementação do B-21 Raider, o novo “bombardeiro invisível” em fase de desenvolvimento nos EUA e que deve entrar em operação com a USAF em meados de 2030.
Veja mais: E se os chineses comprarem a Embraer?
Um desse em cima de Caracas basta?