Falecido em 1924, Vladimir Lenin mal chegou a ver a formação da Aeroflot, criada justamente no ano anterior e que, durante a União Soviética se transformou num gigante aéreo. O lendário líder comunista russo certamente ficaria chocado em saber que quase um século depois a companhia aérea mais importante do país iria aderir aos aviões comerciais do Ocidente. Desde sexta-feira, 28, a Aeroflot passou a contar com outro jato simbólico dos antigos rivais, o A350-900.
A Airbus entregou à empresa aérea de bandeira russa o primeiro de 22 exemplares do A350-900 encomendados e que foi batizado com o nome do famoso compositor Piotr Ilitch Tchaikovski. A Aeroflot também estreou uma nova pintura comemorativa do centenário da companhia.
Com 316 assentos, o Airbus russo oferece 28 suítes privadas na classe executiva, 24 poltronas com maior espaço para as pernas e 264 lugares na classe econômica. A Aeroflot também investiu num novo sistema de entretenimento individual com telas HD e sistema Wi-Fi.
A estreia do A350-900 da Aeroflot a partir de Moscou se dará em rotas para Londres, Dubai, Nova York, Miami, Osaka, Pequim e também Havana, capital de Cuba e que é um destino tradicional da companhia aérea desde os tempos da Guerra Fria.
Aviões russos de volta?
Após o fim da União Soviética, em 1991, a Aeroflot empreendeu uma mudança profunda em sua estrutura, passando a ter capital privado e a investir em aeronaves ocidentais para o lugar dos ultrapassados e um tanto perigosos aviões comerciais dos escritórios de projeto Tupolev, Ilyushin e Antonov.
O primeiro jato encomendado pela companhia aérea russa no Ocidente foi o A310, menor widebody lançado pela Airbus. Cinco unidades foram adquiridas no início de 1990, quando a União Soviética já desmoronava.
Desde então, mais e mais aviões da Boeing e Airbus passaram a ser usados pela companhia, que ainda manteve alguns representantes locais em sua frota como o quadrimotor Il-96-300. Mas a falta de confiabilidade e certificação para operar em certos países decretou o fim de aviões como o Tu-154 ou o Il-62, bastante populares durante seu período estatal.
Atualmente, a Aeroflot possui uma frota de quase 250 aviões, dos quais 126 são fornecidos pela Airbus, sobretudo a família A320 (107 aviões ao todo). A empresa também utiliza 48 Boeing 737-800 e 19 Boeing 777-300.
O único representante da indústria aeroespacial russa é o Sukhoi SSJ100, jato regional com cerca de 100 lugares. A Aeroflot utiliza 54 aeronaves do tipo e pode receber mais unidades por meio de um acordo intermediado pelo governo russo.
O Superjet, no entanto, tem sido alvo de desconfiança após problemas seguidos e um acidente grave com um jato da própria Aeroflot. Apesar disso, Vladimir Putin, o todo poderoso presidente da Rússia, tem estimulado a UAC, holding que controla os antigos fabricantes do país, a desenvolver novas aeronaves comerciais para não depender tanto dos EUA e da Europa.
O mais promissor projeto é o MC-21-300, um jato comercial de um corredor de porte equivalente ao A320. Os seis primeiros aviões deverão em serviço em 2021, prometeu a UAC. E adivinhe quem vai recebê-los? Claro, a Aeroflot…
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“Espelho, espelho meu, será que tem avião mais perigoso do que eu?”
“Não, Max, nunca houve nem nunca haverá”!