Entre tantos projetos ‘barulhentos’ de aviões supersônicos de passageiros há uma iniciativa discreta tanto em divulgação quanto no objetivo principal, o de lançar uma aeronave realmente capaz de amenizar o chamado “boom supersônico”, a propagação de ondas de choque por conta do voo acima do som. Essa empresa se chama Exosonic e foi fundada em 2019 por dois jovens engenheiros nos EUA, Norris Tie e Tim MacDonald.
Apesar de não contar com “padrinhos” poderosos como a Boom Supersonic ou a falida Aerion (que era apoiada pela Boeing), a startup sediada na Califórnia aos poucos avança com seus projetos.
Ao contrário dos “holofotes”, Tie e MacDonald estão em busca de investimento necessário para comprovar seu conceito, de que é possível produzir um jato supersônico silencioso. Por “silencioso”, entenda-se trocar o barulho incômodo gerado pela quebra da barreira do som por um ruído semelhante ao emitido pelo fechamento de uma porta de carro – ou cerca de 75 decibeis.
Esse nível é considerado pela NASA como tolerável para uma aeronave supersônica. A agência espacial dos EUA está construindo um avião de testes, o X-59, com a ajuda da Lockheed Martin e que vai testar o conceito “low boom”, ou seja, formas e características que minimizam o estrondo supersônico.
É justamente nesse projeto que Norris Tie, de apenas 30 anos, trabalhou antes de criar a Exosonic. Não por acaso, o projeto de aeronave de passageiros supersônico da empresa incorpora esse aprendizado.
Em vez da aparência mais convencional do Overture, o avião de passageiros da rival Boom, o jato quadrimotor da Exosonic possui asas recuadas com diedro negativo nas pontas e que levam quatro motores sob elas. O nariz do jato é extremamente longo, como no X-59, enquanto a cauda dupla em formato de V é responsável pelo movimento lateral e vertical ao mesmo tempo.
O projeto da Exosonic foi revisado em maio, passando a contar com uma fuselagem de diâmetro variado. Com isso, as fileiras de assentos serão maiores na porção central e traseira da aeronave.
Em entrevista ao Air Insight em 2019, Tie expressou o objetivo de utilizar motores existentes e sem necessidade de pós-combustor, diferentemente da Boom, que ainda está atrás de um fornecedor para seu avião.
Graças a isso e ao formato aerodinâmico mais eficiente, o jato será capaz de atingir Mach 1.8 e voar sem escalas por 9.250 km (5.000 milhas) usando um terço do combustível que o Concorde queimava.
Entrada em serviço na próxima década
Outra diferença crucial da Exosonic é o planejamento conservador. Enquanto a Boom Supersonic faz planos pouco realistas de colocar seu avião em serviço já em 2026, a startup californiana não vê isso ocorrer antes de 2029.
No momento, a empresa está concluindo a montagem de um modelo em escala para testes em túnel de vento. A meta é realizar o voo de um protótipo não tripulado em 2025 – a Boom, por sua vez, está concluindo os testes no solo com o XB-1, uma aeronave supersônica tripulada com três motores J85 que deixou de ter semelhanças com o projeto original do Overture, também atualizado.
Enquanto viabiliza a aeronave de passageiros, a Exosonic trabalha com um projeto mais barato e que pode render receitas antes, um UAV supersônico, para missões de treinamento militar para o Departamento de Defesa dos EUA.
Por falar no governo norte-americano, a Força Aérea foi uma das primeiras entidades a apoiar a Exosonic, já em 2020. Espera-se que nos próximos anos a iniciativa de Tie e MacDonald atraia mais interessados diante do potencial mais realista de seu supersônico e que promete algo que sua concorrente não pode, o voo a Mach 1.8 sobre os EUA.
Em seu site, a Exosonic almeja cortar pela metade o tempo de voo entre Los Angeles e Nova York, dos atuais 6 horas para apenas 3 horas. Algo que, por enquanto, somente ela pode garantir.