O início da carreira comercial do jato chinês COMAC C919 deve começar de forma tímida. Cliente da lançamento da aeronave, a companhia China Eastern Airlines informou em seu relatório semestral divulgado nesta semana que espera receber apenas um exemplar do novo avião até o fim deste ano. Anteriormente, a empresa havia comunicado que receberia três unidades.
A companhia aérea chinesa, tampouco a COMAC, comentou sobre os motivos que levaram a redução da previsão de entregas do C919 neste ano. Todavia, não é de se espantar que isso possa acontecer, afinal o programa chinês acumula uma série de atrasos devido a dificuldades técnicas e problemas no fornecimento de componentes importados de empresas do Ocidente.
Ao todo, a China Eastern encomendou cinco jatos C919, dos quais quatro modelos serão entregues em 2023, segundo o informe da companhia. O primeiro avião destinado a empresa, inclusive, já está pronto e fez seu primeiro voo de teste em maio deste ano.
Apesar da expectativa de ser o operador de lançamento do primeiro jato comercial projetado na China, a China Eastern aparentemente não tem pressa em receber a aeronave da COMAC. Em julho deste ano, a empresa assinou um pedido por 100 jatos da família A320neo da Airbus, com entregas a partir de 2023, desbancando o Boeing 737 MAX, que ainda permanece aterrrado no mercado aéreo chinês.
Segundo dados da COMAC, o C919 acumula um total de 815 cartas de intenção de compra de 28 clientes, sendo a maioria deles empresas chinesas. Parte dessas encomendas devem ser convertidas em pedidos firmes após a certificação da aeronave pela CAAC, a agência reguladora de aviação civil da China, que deve conceder a homologação do avião em breve.
O C919 é projetado para competir com os tradicionais Airbus A320 e Boeing 737, que são os aviões comerciais mais vendidos do mundo. A espera, no entanto, vem sendo longa. O avião da COMAC está em desenvolvimento há quase 15 anos.
“Cópia genérica” do A320
Embora tenha sido até citado pelo CEO da Airbus como uma potencial ameaça futura, o C919 está longe disso ainda, a despeito de algumas afirmações espalhafatosas quererem colocá-lo como um rival direto do Boeing 737 e Airbus A320.
O C919, considerado uma “cópia genérica” do A320, utiliza o turbofan Leap-1C, também presente nos dois jatos ocidentais. Mas os embargos dos EUA têm afetado o fornecimento para a COMAC, algo que pode se agravar com a situação na Ucrânia.
Por isso, a China tenta seguir o mesmo roteiro da Rússia, que busca encerrar a dependência ocidental com equivalentes domésticos. No entanto, a indústria do país possui menos conhecimento de vários processos fabris. Alternativa ao turbofan da CFM, o motor CJ-1000A, por exemplo, ainda está em estágios iniciais de desenvolvimento.
O C919 B-001J deverá ser entregue à OTT Airlines, subsidiária da China Eastern Airlines, única cliente a fechar um pedido cinco unidades da aeronave – há também centenas de intenções de compra de companhias aéreas chinesas que cedo ou tarde serão confirmadas, “a pedido” do Partido Comunista.
Naturalmente o C919 está ainda longe da Boeing e Airbus, recém-nascido tem décadas de atraso em relação aos outros, porém não deixa de ser uma vitória conseguir entrar nesse seleto clube no mundo em que só existem 3 empresas que fabricam, a Boeing, a Airbus e uma empresa na Rússia. Nem o Japão conseguiu entrar apesar dos esforços.
Os carros chineses eram um lixo a 20 anos atrás, hoje a BYD vende mais que a Tesla. Os celulares chineses eram outro lixo e hoje das 10 maiores empresas de celulares do mundo oito são chinesas, resistindo somente a Apple e a Samsung fora da China entre as maiores (Motorola para quem não sabe, agora é chinesa e Nokia, LG, Ericsson e outras não aguentaram o tranco). E dezenas de outros exemplos nas quais eram xing lings e hoje competem de igual pra igual (televisões, eletrodomésticos, câmeras, aparelhos médicos, etc.)
Em jatos comerciais de porte menor, com seu ARJ21 a China já é a terceira do mundo, atrás somente da Airbus e Embraer.
O planejamento centralizado da China, apesar de muitas falhas, levou o país de um dos mais pobres do mundo a virar a fábrica do mundo em poucas décadas. Brasil há 3 anos atrás lutava pra vender a Embraer (não conseguiu graças a desistência da Boeing) enquanto a China lutava para fazer seu próprio avião (e conseguiu).