A fabricante chinesa COMAC anunciou que vai iniciar a produção em série do C919 ainda este ano. A empresa de controle estatal também informou que pretende obter o certificado de aeronavegabilidade para a aeronave e entregar as primeiras unidades à companhia China Eastern Airlines em dois ou três anos.
A fabricante está neste momento realizando uma série testes intensos de voo com quatro protótipos da aeronave em diferentes situações. Até o final deste ano, a COMAC pretende finalizar outros dois jatos de teste para acelerar o processo de certificação do avião. Até o momento, o C919 acumula mais de 1.000 unidades encomendadas, entre pedidos firmes e opções de compra, a maioria de empresas chinesas.
“A fabricação do C919 ajudará a indústria de aviação chinesa a se envolver no sistema mundial de cadeias de suprimentos de grandes aeronaves, e a China poderá adquirir uma experiência valiosa”, disse Wang Yanan, editor-chefe da revista chinesa Aerospace Knowledge.
“O C919 ainda precisa passar por vários testes para mostrar que é uma aeronave segura, eficiente em termos de combustível e conveniente. A indústria da aviação chinesa pode se transformar de uma gigante manufatureira em uma potência de inovação”, acrescentou Yanan.
A COMAC iniciou o desenvolvimento do C919 em 2008 e as primeiras entregas eram previstas para 2016. O primeiro voo do jato, porém, aconteceu somente em 5 de maio de 2017.
O C919 é proposto para competir com os tradicionais Airbus A320 e Boeing 737, hoje os aviões comerciais mais vendidos no mundo. A meta da fabricante é conquistar um terço do mercado chinês de jatos de corredor único e mais um quinto desse filão do mundo até 2035, o que representa algo em torno de 2.500 aviões.
Avião chinês. E daí?
A COMAC selecionou alguns dos fornecedores mais conceituados da indústria aeronáutica mundial para desenvolver componentes críticos do C919. O trem de pouso, por exemplo, é fornecido pela Liebherr Aerospace, empresa alemã que também fornece esse componente para aviões da Airbus. Já os motores turbofan são da CFM Internacional, que equipa uma série de aeronaves da Boeing.
Em termos técnicos, o C919 é uma aeronave que se aproxima mais das características do A320, do que às do 737. Um dos recursos de maior destaque do jato chinês são os comandos de voo computadorizados, tecnologia conhecida como “fly-by-wire”. O 737, mais antigo, possui comandos convencionais, por cabos.
Para alcançar o mercado externo, a aeronave terá de ser certificada por órgãos de aviação estrangeiros, considerados mais rigorosos, como a EASA, na Europa, e a FAA, nos EUA – ou até mesmo a ANAC, no Brasil.
O C919 é projetado para acomodar 158 passageiros divididos em duas classes ou 168 ocupantes em classe única. A COMAC ainda sugere uma configuração de “alta densidade”, com 174 assentos. Já o alcance do modelo padrão é 4.075 km ou 5.500 km na versão de alcance estendido “C919 All ECO”.
O C919 é o segundo jato comercial desenvolvido na China. O modelo pioneiro é o ARJ21-100 “Xiangfeng”, aeronave projetada para operações regionais, com capacidade para 90 passageiros. O modelo entrou em operação em dezembro de 2015, com a companhia Chengdu Airlines. O avião, no entanto, por hora é certificado para voar somente no espaço aéreo chinês.
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Uma correção, Thiago: o C919 não é o primeiro jato comercial chinês. O primeiro foi o regional Comac ARJ21, que já está fazendo voos domésticos (por só ser homologado na China) há alguns anos nas obscuras empresas Chengdu Airlines, Genghis Khan Airlines e Urumqi Airlines. O Sam Chui fez dois voos recentemente no ARJ21 da Chengdu Airlines e publicou os vídeos no YouTube. É patético: é um jato, mas tem que voar a altitude e velocidade de turboélice, tem que fugir do mau tempo e não pode pousar em pista molhada. O Sam Chui disse também que a cabine é incrivelmente barulhenta, sem isolamento acústico para o ruído dos motores, e é muito desconfortável.