A despeito da desconfiança do Ocidente, o programa do jato widebody CR929 estaria avançando a passos largos, de acordo com o projetista-chefe da COMAC, Chen Yingchun. Durante uma cúpula de aviação em Hangzhou nesta semana, o executivo da fábrica estatal de aviões comerciais previu que a futura aeronave deverá contar com cerca de mil unidades entregues entre 2023 e 2045, o dobro do volume originalmente previsto.
O otimismo vem de estudos que mostram o mercado de jatos de fuselagem larga terá uma demanda de 10 mil unidades nesse período, sendo que quase 20% desse total virá da China e Rússia, que é parceria na CRAIC, joint venture formada entre a COMAC e a UAC.
Com 63,3 metros de comprimento, 61,2 metros de envergadura e 18 metros de altura, o CR929 terá um porte semelhante a um Boeing 787. A variante menor CR929-600 será capaz de transportar 280 passageiros em distâncias de 12.000 km.
Segundo Yingchun, o maior avião de passageiros já desenvolvido na China terá uma suíte de aviônicos de última geração e uma estrutura que usará materiais compostos em mais de 50% de seus componentes e o equivalente a 15% em ligas de titânio, mais resistentes e leves.
Otimismo sem base real
A fala do projetista-chefe chinês, no entanto, não encontra base real no atual estágio do programa do CR929. Ao estimar que os primeiros aviões serão entregues num prazo de apenas três anos fica claro que Chen Yingchun está fazendo vista grossa para diversos fatos, entre eles a complexidade de desenvolver e certificação uma aeronave dessa categoria.
O projetista também parece ignorar a dificuldade que a COMAC enfrenta para concluir o programa C919, um narrowbody semelhante ao A320, que está na fase final e ensaios de voo após anos de atraso.
Mas ee os chineses mostram-se otimistas, o mesmo não se pode dizer dos russos que estimam reduzir os investimentos no projeto. Rumores nos últimos meses de que a parceria pode chegar ao fim foram negados recentemente quando dois altos executivos dos governos da Rússia e da China se reuniram para reforçar o laço entre os dois países. Porém, permanece no ar a desconfiança de que à China só interessa obter o conhecimento técnico dos russos, sobretudo no manuseio de materiais compostos, algo que o C919 não dispõe.
Ao mesmo tempo em que tentam impedir que a UAC tenha participação nas vendas dentro do território chinês. Diante da natural rejeição aos aviões comerciais fabricados nos dois países, é pouco provável que a carreira comercial do CR929 fora deles será, digamos, significativa. Ou seja, caberia aos russos apenas uma ínfima parte das encomendas.
No entanto, a determinação da China em criar uma família de aeronaves à altura de Boeing e Airbus e o potencial do mercado de aviação chinês mostram que o CR929 pode um dia se transformar em realidade nem que seja em apenas com um dos sócios.
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