Em termos simples, o turbo-hélice é um motor a jato (ou motor a reação) equipado com uma transmissão que aciona o giro das hélices. É uma forma de aproveitar a eficiência energética de uma turbina, com o poder de arrasto da hélice. Nos jatos “puros”, a força vem dos gases de exaustão em alta velocidade.
Na aviação comercial, essa motorização já foi aplicada em aparelhos de pequeno e médio porte – do monomotor Cessa Caravan ao quadrimotor Electra II -, e no ramo militar é muito apreciado na função de cargueiro, inclusive em versões de grande porte, como no novo Airbus A400M “Atlas”, ainda em fase de certificação.
Como acelera mais rápido que um jato, o avião com motor turbo-hélice é mais adequado para operar em pistas curtas e aeroportos com pouca estrutura, devido a menor complexidade da motorização.
Invenção húngara
O primeiro motor turbo-hélice foi desenvolvido pelo engenheiro húngaro György Jendrassik, em 1938, e quase imediatamente já foi aplicado em uma aeronave, o projeto RMI-1 “Varga”, da fabricante “Repülõ Muszaki Intézet”, da Hungria, a pedido da aliada Alemanha, no início da Segunda Guerra Mundial.
Apenas um protótipo foi construído e o mesmo acabou destruído, ainda no final dos anos 1930, em bombardeiros de forças dos Aliados. A aeronave nunca voou.
Com o avanço do turborreator, novo motor que era testado do caça no Me 262 e capaz de performances extraordinárias, Jendrassik abandonou o projeto do turbo-hélice para estudar a nova tecnologia.
Terminada a guerra, Jendrassik buscou exílio na Inglaterra e ajudou a Rolls-Royce a “reativar” sua invenção, em 1949. Os primeiros protótipos foram testados em caças Gloster Meteor, que por coincidência também foi um dos primeiros aviões impulsionado por motores a jato.
Na década seguinte, o propulsor foi aplicado com sucesso na aviação comercial e militar, aparecendo em aeronaves importantes, como o C-130 Hércules e o clássico Fokker F27, um dos pioneiros na aviação regional.
Opções no mercado
A ATR, fabricante do grupo Airbus, atualmente reina absoluta na categoria das aeronaves comerciais com motor turbo-hélice, com os modelos ATR 42 e ATR 72. Outros modelos em produção são o Bombardier Q-Series, antes conhecido como “Dash-8”, e o Antonov An-140.
A Embraer e a Saab também foram importantes competidores nesse segmento. A empresa sueca teve bom desempenho nas décadas de 1980 e 1990 como Saab 340 e o Saab 2000, ambos encerrados em 1999. Já a fabricante brasileira vendeu mais de 350 unidades do EMB-120 Brasília, produzido até 2001.
E o legado dos turbo-hélices da Embraer e Saab ainda seguem pelo mundo, tanto que praticamente todas as unidades produzidas continuam em condições de voo.
Turbo-hélice supersônico
Em 1949, a McDonnell testou o protótipo XF-88, umas das prévias do caça F-101 “Voodoo”, equipado com motor turbo-hélice. A aeronave, que naturalmente já era estranha, não melhorou na nova configuração. Porém, nos ensaios o experimento alcançou a velocidade do som em alguns momentos, e não passou disso.
Com esse feito, o XF-88 também foi o primeiro avião não impulsionado por motores a jato ou foguetes, que voou em velocidade supersônica. Os pilotos de teste, no entanto, relataram que durante o voo supersônico a aeronave ficava instável e o consumo de combustível aumentava significativamente.
Atualmente, a aeronave com motores turbo-hélice mais rápida é o Tupolev Tu-95 “Bear”, fabricado na Rússia, capaz de alcançar 920 km/h. O turbo-hélice comercial mais rápido de todos os tempos também é russo: o Tu-114, que podia a voar a 870 km/h.
Veja mais: Aviões a jato também têm motores a hélice
Excelente texto do Thiago sobre a história dos turbo-hélices.
Três comentários:
– Acho que o A400M já recebeu certificação militar, está operando normalmente em forças aéreas europeias
– Durante a decolagem, uma hélice tem poder, ou força, de tração
– Um motor turbo-hélice é muito mais complexo que um motor turbofan ou turbojato (hélice, caixa redutora, entrada de ar, etc)
Novamente alguns erros no texto, além de desta vez explicar muito pouco sobre o funcionamento do motor turbo-hélice, apesar do título da matéria.
O Airbus A400 recebeu certificado de tipo pela EASA em julho de 2013, ou seja, não está em certificação.
A ilustração na matéria de um motor turbo-hélice representa muito pouco um motor real. Além do mais é uma matéria sobre motor mas foca na popularidade das aeronaves e não do motor. Poderia ter falado um pouco do motor PT6 da Pratt & Whitney Canada por exemplo. Faltou citar o uso deste tipo de motor em helicópteros também, até mesmo informar que há os chamados motores gêmeos para aplicação em helicópteros. Seria interessante ter fotos dos motores, mostrando o fluxo inverso dos PT6, M601 e do futuro GE93 por exemplo.
Como já disse antes, gosto do site Airway e suas publicações, mas há clara falta de pesquisa em algumas matérias, principalmente as mais técnicas. Creio que alguns leitores poderiam ajudá-los fazendo uma revisão dos textos antes de publicá-los.
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