O anúncio dos comissários de bordo antes da aeronave decolar é simples e direto: “Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente”. Com os parâmetros de segurança atuais da aviação, essas situações são raras, mas o risco sempre existe. Caso contrário não seria necessário o aviso antes do voo.
A cabine do avião é como uma lata de refrigerante gasoso: há mais pressão dentro do que fora. Por isso, quando o recipiente é aberto boa parte do gás é liberado rapidamente. Esse mesmo efeito ocorre no avião que sofre uma despressurização em altitude de ar rarefeito, quando a pressão da cabine iguala a pressão atmosférica.
Entre 9.000 e 12.000 metros, altitudes em que os jatos comerciais voam, é preciso “injetar” mais pressão na cabine em relação ao lado de fora da aeronave a fim de criar condições para que todos a bordo respirem como se estivessem na superfície.
Se a pressão de oxigênio for menor que a pressão sanguínea, não acontece a chamada “troca gasosa”. Simplificando, a pressão atmosférica é responsável por “empurrar” o oxigênio para o sangue e a pressão sanguínea “expulsa” o gás carbônico para fora.
Portanto, se houver despressurização da cabine a uma altitude de baixa pressão, o oxigênio literalmente não entra na corrente sanguínea.
Um ser humano aclimatado consegue respirar normalmente a uma altitude de até 6.000 metros. Após isso, como chamam os alpinistas, começa a “zona da morte”. Por isso, quem escala o Everest, o pico mais alto do mundo com 8.848 metros, leva cilindros de oxigênio – embora alguns poucos alpinistas já tenham realizado a escalada sem oxigênio auxiliar.
Vestindo a máscara
Os motores do avião bombeiam ar para a cabine a todo momento, mantendo a pressão estável. A despressurização ocorre quando existe mais ar saindo do que entrando na aeronave. Essa situação pode ocorrer devido ao mau funcionamento do sistema de ventilação ou por vazamentos na fuselagem. Dependendo do caso, a perda de pressão pode ser lenta ou rápida.
“Um problema de falta de ar só pode ser resolvido com mais ar. Por isso, quando vestimos a máscara esse problema acaba imediatamente”, explica Dan Guzzo, gerente-executivo de segurança operacional da companhia Gol Linhas Aéreas.
Quando os sensores da aeronave detectam a descompressão, os equipamentos de respiração são acionados automaticamente. “As máscaras aumentam a concentração de oxigênio, exigindo menos pressão para respirar”, conta Guzzo.
O ar que respiramos na superfície contém cerca de 20% de oxigênio em sua composição, o suficiente para efetuar a troca gasosa em zonas de pressão alta. Com a máscara, a concentração sobe para 100%, exigindo pouca pressão para a absorção.
Ao contrário do que muitos pensam, o oxigênio usado pelos passageiros em emergências não vem de cilindros escondidos no avião, mas sim de uma reação química. A máscara possui um “cartucho químico” chamado Oxygen Generator, que fica localizado acima das das caixas nas quais as máscaras ficam armazenadas.
Assim que o passageiros puxa a máscara, que é presa por um cabo de acionamento, é ligado o gerador de oxigênio e uma mistura química ocorre: cloreto de sódio, peróxido de bário e perclorato de potássio se combinam e liberam oxigênio.
Mantenha a calma, já vai passar
Assim que as máscaras de oxigênio caem, o comandante abandona sua altitude de cruzeiro e desce para cerca de 2.000 metros, onde é possível respirar sem o auxílio da máscara, pois a pressão interna do avião fica igual a do lado de fora.
“Quando ocorre a despressurização a primeira coisa que os pilotos devem fazer é vestir as máscaras. Em seguida, o comandante pede autorização a torre de controle para descer a uma altitude onde é possível respirar normalmente. Quando a situação acaba, a tripulação avisa aos passageiros que já é possível respirar sem as máscaras”, explica o gerente da Gol.
Depende das condições da aeronave e passageiros, ela pode prosseguir até seu destino final, voando em baixa altitude, ou então seguir para outro aeroporto e realizar um pouso alternado – que é diferente de um “pouso de emergência”.
O oxigênio gerado pelas máscaras dura 22 minutos em aeronaves da Boeing. “O procedimento de descida até a altitude onde é possível respirar sem as máscaras leva de três a cinco minutos”, tranquiliza Guzzo.
A despressurização da cabine é mais um susto do que uma situação de fato perigosa. Com o auxílio das máscaras e ação rápida dos pilotos, que treinam essas ações em simuladores repetidas vezes, o problema da falta de ar é rapidamente solucionado.
Quem não veste a máscara de oxigênio a tempo pode sofrer com os efeitos da despressurização em apenas 15 segundos. Os principais sintomas físicos são: fadiga, dor de cabeça, cansaço, confusão ou euforia, problemas de coordenação, dificuldade de raciocínio e visão. Por isso, as companhias pedem que primeiros os passageiros vistam suas próprias máscaras para somente depois ajudar quem não pode fazê-lo adequadamente, como crianças e idosos.
Outras situações
Outras situações que podem ocorrer relacionadas a pressão na cabine da cabine é a super-pressurização, quando há um defeito na válvula de alívio que libera o ar excedente, e a despressurização explosiva, que consiste em uma perda súbita de pressão em menos de um milésimo de segundo. Porém, assim como a despressurização, esses outros eventos são ainda mais raros de acontecer.
Esses casos ocorrem devido a fadiga de materiais ou falta de manutenção adequada, algo que aviação atual não permite. Portanto, mantenha a calma.