Alberto Santos-Dumont pode não ter sido o primeiro homem a voar, mas foi a partir de seu primeiro aeroplano, o famoso “14-Bis”, que a aviação começou a se desenvolver de fato. Antes de seu primeiro voo em Paris, em 12 de novembro de 1906, os irmãos Wright já haviam conseguido fazer decolar o “Wright Flyer I” três anos antes nos Estados Unidos, mas com o auxílio de uma catapulta. O avião de Dumont, em contrapartida, alçou voo com o próprio motor, como acontece até hoje.
No entanto, antes de voar com o 14-Bis, o engenheiro “autodidata” brasileiro vivendo na França iniciou sua carreira aérea com balões. Santos Dumont foi um grande colaborador desse segmento ao inserir um motor a gasolina que girava uma hélice, dando total controle ao aerostato.
Comemora-se no dia 20 de julho o aniversário de Santos-Dumont. O primeiro aviador brasileiro morreu de forma prematura, tendo se suicidado do dia 23 de julho de 1932 no Guarujá (SP) aos 59 anos de idade. Sua morte é atribuída ao uso bélico do avião, que ia contra os ideais do patrono da aviação, que aventava uma utilização pacífica de seu invento.
Aviões foram utilizados para bombardear São Paulo durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Muitas dessas aeronaves sobrevoaram o Guarujá antes de atacar a capital, visão que teria motivado o suicídio de Santos-Dumont, segundo apontam relatos históricos. O corpo do aviador está enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e seu coração foi preservado e hoje está exposto no museu da Força Aérea Brasileira em Campos dos Afonso.
Conheça as principais máquinas voadoras de Santos-Dumont:
Brésil
A primeira vez que Santo-Dumont voou foi a bordo do balão esférico “Brésil” (“Brasil”, em francês). O aparelho, que não tinha nenhuma forma de controle direcional, era inflado com hidrogênio. Outros balões dessa época alçavam voo ao encher a câmara com ar quente. O invento do balão, aliás, é creditado a outro brasileiro: o padre Bastolomeu Gusmão, em 1709.
N-1
Considerado o primeiro balão com motor a gasolina da história, o N-1 foi a primeira máquina voadora projetada por Santos-Dumont que podia ser controlada. O aparelho, com 25 metros de comprimento, decolou pela primeira vez em 1898, mas acabou rasgando antes de realizar alguma manobra. Dois dias depois, reparado, o dirigível voou novamente, tendo realizado uma série de movimentos no ar, provando que o conceito funcionava. Um imprevisto, porém, encurtou a viagem: a bomba encarregada de manter o balão inflado falhou e ele começou a murchar a 400 metros de altura. Felizmente, o aviador conseguiu pousar com segurança. “Diminui a velocidade da queda, evitando assim a maior violência do choque. Variei desse modo o meu divertimento: subi num avião e desci numa pipa”, revelou Santos-Dumont ao jornal Le Petit Journal.
N-3
Em 1899 Santos-Dumont projetou o dirigível N-3, um novo balão com formato alongado e inflado com gás de iluminação, com 20 metros de comprimento. O aparelho decolou no dia 13 de novembro daquele ano, data em que, de acordo com alguns astrólogos, o mundo acabaria. O planeta continuou existindo e Dumont contornou pela primeira vez a Torre Eiffel pela primeira vez, gesto que seria repetido com os outros balões criados pelo brasileiro.
N-5
O dirigível N-5 foi a primeira máquina voadora Santos-Dumont a receber um prêmio, em 1901. O aparelho foi uma resposta do brasileiro para participar do “Premio Deutch”. A competição consistia em criar um dirigível que fosse capaz de decolar do parque de Saint Clouf, contornar a Torre Eiffel a 11 km de distância, e depois retornar em segurança ao ponto de origem, tudo isso em 30 minutos. Com o aparelho voando a uma média de 22 km/h, Dumont venceu a disputa e embolsou 100 mil francos.
N-9
Pensando em popularizar o dirigível, Santos-Dumont criou em 1903 o N-9, um aparelho portátil com menos de 10 metros de comprimento e um motor de 3 cavalos de potência. Para mostrar sua praticidade, o inventor brasileiro voava com frequência a bordo do N-9 sobre Paris, pousando em diversos locais da cidade. Para partir com o aparelho diretamente de sua casa, Dumont criou uma plataforma de atracamento na varanda de sua casa na França.
N-10
Após criar uma série de dirigíveis de uso individual, Santos-Dumont propôs em 1905 o primeiro projeto de transporte público aéreo. O N-10 tinha capacidade para transportar 20 passageiros e foi chamado por seu criador de “Ônibus”. Foi a maior máquina voadora criada pelo inventor brasileiro, com 48 metros de comprimento. Devido a complexidade do pouso com uma aeronave tão grande, Dumont sugeriu que as pessoas embarcassem em cestos, que seriam puxadas até o dirigível uma a uma. O modelo, no entanto, não teve fins comerciais.
N-14
O embrião do primeiro avião de Santos-Dumont nasceu no projeto N-14, em 1904, que combinava um balão preso a um aeroplano, já muito semelhante ao 14 Bis. Extremamente instável, o aparelho tinha dificuldade para se manter no ar preso ao balão. O inventor planejava inscrever seu projeto em uma nova competição de máquinas voadoras, mas acabou convencido de um avião precisava voar por seus próprio meios e seguiu com seus testes.
14-Bis
No dia 12 de novembro de 1906 decolou o que é considerado por muitos o primeira máquina mais pesada que o ar, o 14-Bis. Evolução do projeto N-14, mas desta vez sem o balão de sustentação, o novo invento de Santos-Dumont tinha um motor de 50 cv (o dobro do usado no N-14) e um formato de “biplano invertido”, com as asas na parte traseira e o controles da frente. O aparelho decolou da praça Bagatelle, em Paris, e voou por cerca de 220 metros a oito metros de altura a 30 km/h e pousou em segurança. Estava consagrada a invenção do avião.
Demoiselle
O último avião desenvolvido por Santos-Dumont foi N-19, também conhecido como Demoiselle. A aeronave experimental voou em 1907 e é considerado o pioneiro dos ultra-leves, gênero de aviões que seria retomado somente na década 1970. O Demoiselle era construído de bambu e possuía um motor de 20 cv, o suficiente para levar o aeroplano a velocidade máxima de 120 km/h. Foram construídas 50 unidades do modelo, que serviriam de passo inicial para inúmeros outros engenheiros e aviadores aprenderem a voar e criarem seus próprios aviões.
Outros inventos de Santos-Dumont
Além do avião, também é creditado a Santos-Dumont a invenção do hangar, em 1901. A estruturas foram projetadas pelo inventor brasileiro justamente para poder guardar em segurança seus dirigíveis. O brasileiro também é considerado o inventor do relógio de pulso, mas isso não é totalmente certo.
Enquanto viveu em Paris, Santos-Dumont era um amigo próximo de relojoeiro Louis Cartier, a que sugeriu em 1904 criar um relógio com pulseira para ser usado no pulso. Até então, os relógios da moda eram os de bolso que ficavam presos a calça por um corrente. A versão aceita é de que os relógios de pulso surgiram no início do século XIX, criado pelo relojoeiro francês Abraham Louis Breguet.
Santos-Dumont também estudou o uso de asas rotativas no projeto N-12 de 1906, que é considerado uma forma rudimentar de helicóptero.